O risco pode ser o combustível da criatividade
«Já pensaram por que é que algumas empresas prosperam com criatividade e outras não conseguem inovar?» A questão foi colocada por Susanne Hägglund, managing director da Volvo Car Portugal, a toda a plateia da 21.ª Conferência Marketeer. E a resposta foi sendo desenvolvida ao longo de uma intervenção que versou sobre a criatividade aplicada ao mundo automóvel.
Mas, antes de chegar à resposta, Susanne Hägglund recuou aos primórdios desta indústria, mais precisamente a 1886, ano em que foi lançado no mercado o primeiro automóvel com motor a combustão. Hoje, 137 anos volvidos, existem mais de 1,4 mil milhões de automóveis em todo o Mundo. «É um número impressionante mas também aterrorizante», frisou a directora-geral da Volvo Car Portugal.
Numa apresentação dedicada ao tema “C as in…”, a executiva lembrou que a indústria atravessa um período de grande transformação, em duas vertentes: a transformação que é proporcionada pela tecnologia (os veículos estão cada vez mais conectados e os modelos mais recentes já recebem actualizações de software over-the-air, tal e qual os telemóveis); e a mudança exigida pelos consumidores, que têm visão muito própria do que querem dos automóveis e da mobilidade, no geral. «A Gerazão Z, em especial, tem uma perspectiva completamente diferente do que espera de um fornecedor de mobilidade», como a Volvo, lembrou.
E a criatividade é a resposta para muitas destas mudanças que o sector enfrenta, e que enfrentou no passado. O mercado automóvel é altamente denso: há 14 grandes grupos multinacionais que gerem 60 marcas globais, mas na verdade existem mais de 3000 marcas automóveis em todo o mundo. Ora, isto faz com que as marcas tenham que competir vorazmente pela atenção dos consumidores.
Nos seus quase 100 anos de história (foi fundada em 1927), a Volvo tem feito da segurança o pilar basilar da sua actividade e de toda a sua comunicação (#ForEveryoneSafety). Foi assim em 1959, quando a fabricante de origem sueca inventou o cinto de três pontos, sendo que depois decidiu partilhar a patente gratuitamente com a concorrência («costumamos dizer que há um pouco de Volvo em todos os automóveis»). Apesar de a inovação ter recebido críticas na altura, sendo a marca acusada de estar a restringir a liberdade individual, a Volvo acredita que o cinto de segurança contribuiu para salvar mais de um milhão de vidas até à data – tendo sido este o mote de uma campanha recente da marca.
Este é um exemplo de como a Volvo tem usado a criatividade (e a ousadia) para se diferenciar no mercado, tendo sempre a segurança e o bem-estar dos consumidores como o propósito inegociável. Outro exemplo é o facto de os veículos da marca estarem hoje programados para atingir uma velocidade máxima de 180 km/h. «Pensar fora da caixa é algo realmente importante para nós. Temos de desafiar o status quo e a forma como as coisas sempre foram feitas na indústria. Se não nos focarmos nas pessoas, vamos estar fora do jogo. Tudo começa nas pessoas», salientou Susanne Hägglund.
E se a criatividade foi o primeiro “C” explorado pela managing director da Volvo Car Portugal, há uma outra palavra que começa pela mesma letra e que ajuda a responder à questão que colocou no início da sua intervenção: cultura. É que, de acordo com Susanne Hägglund, as empresas que fomentam uma cultura de risco internamente, são aquelas onde a criatividade prospera de verdade. «Às vezes, o caminho para a inovação é irregular e é preciso enfrentar alguns fracassos primeiro. Como seres humanos, é mais fácil sermos negativos e pessimistas. Mas sem coragem, não há glória», lembrou a responsável.
Com essa nota, Susanne Hägglund deixou aos presentes um conselho para que possam prosperar, mesmo em momentos difíceis: «Se tivermos o mindset e a atitude certas, se formos curiosos em relação aos outros e criarmos em cima das ideias uns dos outros, o céu é o limite. Por isso, sejam corajosos e criem uma cultura que canalize a criatividade.»
Texto de Daniel Almeida