O rei não vai nu

M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer

Obrigada.

Aos que nos lêem, aos que nos compram, às empresas que investem em nós, às marcas que nos contam histórias, e à administração, que não nos deixa cair.

Obrigada, por continuarem a acreditar e a deixar-nos fazer a Marketeer. Por permitirem que ainda nos seja possível chegar ao final do mês com dinheiro no banco, sem contas por pagar, sem cortes no supermercado, sem adiamentos de promessas…

Tudo isto ainda vai a meio. Já há por aí uma vacina, eu sei, mas também há muito mal que está feito, muito desemprego que não se transforma tão cedo; muitas empresas sem horizonte. E, pelo meio, há quem continue a pensar que o rei vai nu. Só que o rei já se vestiu, há algum tempo, da maior crise de que há memória.

Talvez o problema seja mesmo esse, a falta de memória. Ou de reconhecimento. De saber agradecer e fazer acontecer. De trocar mergulhos de mar – que são precisos, claro, e que eu adoro e não dispenso – por trabalho. De esconder passeios, almoços e compras atrás do “teletrabalho”.

Quando uma Hermès, a grande referência do luxo, vem dizer que não sabe como vai ser o futuro da empresa; quando uma Adidas é segurada pelo próprio Estado; quando uma Victoria’s Secret declara falência; quando a Nike anuncia vagas sucessivas de despedimentos; a Starbucks avança para o encerramento permanente de 400 lojas; quando já sabemos que 43% das empresas de restauração e bebidas em Portugal pondera a insolvência; quando, e quando, e quando percebemos que os números são mais que negros, devíamos voltar a repensar prioridades. Ou a pensar diferente. A inovar e criar de novo. Ou criar mais. Melhor. Não ficar à espera e assobiar para o lado, que “depois logo se vê”.

É verdade que a realidade “das 9 às 6” vai ser escassa – talvez rara? – e já sabemos que empresas como o Twitter, o Facebook, a Google ou a própria dona do Web Summit vieram confirmar que serão 100% remotas até, pelo menos, Agosto de 2021. O mercado já mudou e vai mudar mais ainda, sim. Mas confesso que ainda estou com alguma dificuldade em perceber como é que as praias portuguesas têm tal nível de cobertura de rede Wi-Fi, que permite a milhares de colaboradores garantirem teletrabalho, directamente do areal, dia após dia!

Vá lá, não façamos de conta e saibamos ajudar a manter o nosso emprego a rolar. Ou, a prazo, rolaremos nós também!

Editorial publicado na revista Marketeer n.º 289 de Agosto de 2020

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