O que têm em comum a Delta e o Vila Galé?

Ambas as empresas têm apostado na internacionalização para os países lusófonos, um mercado constituído por 265 milhões de consumidores! Mas não são caso único. A internacionalização foi o prato forte da conferência de lançamento do livro “Mercator da Língua Portuguesa”.

São duas das empresas portuguesas que mais têm apostado na internacionalização para os países lusófonos: a Delta Cafés tem operação directa em Angola e no Brasil, enquanto o Grupo Vila Galé Hotéis opta por estar presente apenas no mercado brasileiro. Os dois casos foram ontem debatidos na conferência de lançamento do livro “Mercator da Língua Portuguesa” (da qual a Marketeer é parceira), que teve como mote as oportunidades de internacionalização para as empresas portuguesas, em particular no mercado lusófono.

O debate, que decorreu no Centro de Congressos de Lisboa, em Belém, contou com a participação de Rui Miguel Nabeiro (administrador da Delta Cafés), Jorge Rebelo de Almeida (presidente do Grupo Vila Galé Hotéis), mas também João Maia (director-executivo da Apiccaps), João Sampaio (administrador da Blue/Refriango), Luís Filipe Rafael (administrador da Dielmar) e Gonçalo Reis (presidente do conselho de administração da RTP). A moderação ficou a cargo de Cristina Esteves (jornalista da RTP).

O mercado dos países lusófonos é constituído por cerca de 265 milhões de consumidores, sendo que 102 milhões de pessoas têm menos de 15 anos! Para além disso, o PIB (Produto Interno Bruto) está em crescimento em sete dos nove países (com excepção de Portugal e Guiné-Equatorial) que constituem esta comunidade. Os números, por si só, revelam todo um mundo de oportunidades para as marcas portuguesas. Contudo, «só faz sentido falar em internacionalização das empresas portuguesas quando estas têm uma rectaguarda forte em termos financeiros e técnicos», alertou Jorge Rebelo de Almeida.

O Grupo Vila Galé Hotéis tem hoje mais de seis mil camas no Brasil, um mercado que conta com apenas cinco milhões de turistas estrangeiros por ano, mas cujo mercado interno tem justificado, por si só, o investimento do grupo hoteleiro português: cerca de 92% dos clientes dos hotéis Vila Galé no Brasil são brasileiros. «Hoje temos uma marca forte no Brasil», afirmou Jorge Rebelo de Almeida. O responsável adiantou ainda que o grupo está a estudar a entrada em Cuba.

Quanto à Delta Cafés tem apostado fortemente no mercado angolano, onde está presente, de forma directa, com as marcas Delta e Ginga (cuja produção é 100% angolana). Para além de Angola, a empresa apenas tem presença directa em mais quatro mercados, que têm em comum o facto de terem grandes comunidades de portugueses (o chamado “mercado da saudade”): Luxemburgo, França, Espanha e Brasil. Em todos os restantes mercados onde está presente, fá-lo através de agentes. «Todas as semanas recebemos propostas de portugueses que pretendem ser representantes da marcas noutros mercados», revelou Rui Miguel Nabeiro.

No mercado português, a Delta Cafés assinou há cerca de um ano uma parceria com a empresa angolana Refriango para a distribuição da marca de refrigerantes Blue. Sobre a decisão de entrar no mercado nacional através de uma parceria com a Delta Cafés, João Sampaio, administrador da Blue/Refriango, explicou que a principal diferença entre investir em África e na Europa, é que no Velho Continente «a aposta passa essencialmente pelo investimento na componente de marketing e vendas».

Quanto à Dielmar, está também presente no mercado brasileiro – onde está sediado, inclusive, o seu maior cliente independente -, mas os maiores mercados de exportação da marca portuguesa de têxtil são o espanhol e o francês. Mais recentemente, a marca deu entrada no mercado alemão, sendo que neste momento aponta baterias aos EUA, «que pode tornar-se rapidamente no nosso segundo maior mercado», a seguir ao português, vaticinou Luís Filipe Rafael. A marca tem conseguido alavancar o seu processo de internacionalização através da presença em feiras especializadas, sendo que as exportações representam já cerca de 60% do seu volume de negócios. Ainda assim, o administrador da Dielmar lamenta que o sector têxtil não tenha conseguido criar «um associativismo tão capaz» quanto o sector do calçado.

João Maia, director-executivo da Apiccaps, confirmou que o trabalho da associação da indústria do calçado tem passado essencialmente pela presença em feiras internacionais, onde as marcas portuguesas têm conseguido angariar agentes que depois distribuem os seus produtos em lojas multimarca espalhadas pelos vários mercados (poucas são as que optam pela abertura de lojas próprias e monomarca no exterior). Hoje, e em grande parte graças a esse investimento da Appicaps, são mais de 150 os mercados onde as marcas portuguesas de calçado marcam presença!

Texto de Daniel Almeida

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