O que podem os festivais de música fazer por nós
Maria João Vieira Pinto
Directora Redacção Marketeer
Editorial publicado na edição de Maio de 2015 da revista Marketeer
Este é o mês em que começam a soar os primeiros acordes. A partir de agora, e a um ritmo que quase se perde o compasso, festivais e eventos de música começam a instalar-se por todo o País. Do litoral ao interior, das grandes cidades a pequenos destinos. Chegaram quase em silêncio e hoje são motor que alimenta algumas economias. Basta passar por Paredes de Coura ou pela Zambujeira do Mar, em Agosto, e perceber o borbulhar durante os dias em que baterias e guitarras tocam mais alto. São milhares de visitantes que ocupam hotéis, casas de turismo, hospedarias, casas particulares e que deixam valor em restaurantes, cafés, supers ou no pequeno comércio local.
Não admira, por isso, que o mapa de eventos musicais vá crescendo e ajustando-se. Assim como não surpreende que há poucos dias tenho sido anunciado novo festival: chama-se MIMO, tem origem no Brasil e vai acontecer já em Julho em Amarante. A pequena cidade de Amadeo de Souza Cardoso também já percebeu que a música é arte que agrega e traz valor.
Se não, veja: em 2015, foram emitidos cerca de um milhão de bilhetes para os principais festivais de música a acontecer em solo português. Nos Alive, Meo Sudoeste, Vodafone Paredes de Coura e Festival Músicas do Mundo, em Sines, serão os actuais campeões em número de festivaleiros a passar pelos seus recintos. Mas além destes há um dado a reter: o de visitantes estrangeiros. No Nos Alive, só no ano passado foram 15 mil, oriundos de cerca de 50 países, com destaque para Inglaterra e Espanha. Um número que a organização garante ser ultrapassado este ano, quando já estão vendidos mais de 18 mil bilhetes no mercado internacional. «Num mercado globalizado como o da música, os festivais são cada vez mais um modo de captação de turistas», defende Álvaro Covões, fundador da Everything is New e promotor do Nos Alive.
É precisamente isso que está em causa. É que à excepção do festival que acontece já em Julho no Passeio Marítimo de Algés, os restantes do Top dão música a muitos quilómetros da capital. E só em Paredes de Coura, do total de espectadores em 2015, 20% chegaram do estrangeiro, de países como Espanha, Inglaterra, Itália ou Bélgica, mas também de geografias mais distantes como Nova Zelândia, Austrália e Reino Unido.
O que podem os festivais de música fazer por nós? Talvez mais, bem mais, do que o Turismo terá previsto. Portugal registou 55,6 milhões de dormidas em estabelecimentos de alojamento turístico o ano passado, um aumento de 0,5% face a 2014, que se deve aos turistas não-residentes, os quais representaram 66% das dormidas. Não sei quantos destes terão vindo para ouvir algumas das suas bandas de eleição. O que tenho quase a certeza é que quem vem e gosta, regressa a casa e recomenda, e volta de novo e traz!