O que liga o surf a Serralves e à banca?

O surf assume-se, cada vez mais, como um dos principais produtos turísticos do País. E se a qualificação do surf como oferta começou por ser trabalhada de forma regional (numa lógica de city branding, por exemplo, em locais como Peniche ou a Ericeira) e por players individuais, hoje este é um esforço conjunto que passa, grosso modo, pelas mãos da Associação Nacional de Surfistas (ANS). «No surf comunicamos de duas formas muito distintas: no plano individual, o Frederico Morais e o Tiago Pires são os reais embaixadores de Portugal lá fora; e através de grandes eventos que projectam Portugal no mundo», afirmou Francisco Rodrigues, presidente da ANS, durante o III Fórum Turismo da Marketeer/Viagens & Resorts, que decorreu ontem ao final da tarde na Academia de Golfe de Lisboa.

O responsável foi um dos participantes na mesa redonda, que teve como objectivo debater o estado actual e o futuro do sector do turismo e contou ainda com a presença de Inês Costa (manager de Real Estate Deloitte), Miguel Rangel (director comercial, desenvolvimento e comunicação da Fundação de Serralves) e Teresa Fiúza (directora comercial adjunta de empresas e instituições da Caixa Económica Montepio Geral). A moderação esteve a cargo de Maria João Vieira Pinto (directora de redacção da Marketeer).

Quem também acredita estar a dar o seu contributo para o desenvolvimento do sector do turismo é a Caixa Económica Montepio Geral. Para Teresa Fiúza, «o turismo tem sido uma aposta ganha por duas razões: porque temos nesta área uma quota que é quase o dobro da nossa quota natural; e porque é uma das áreas onde temos menos [crédito] malparado». A responsável acrescenta que «a banca tem de cavalgar a onda de turismo», apesar dos riscos inerentes. «São maioritariamente projectos muito alavancados, não no sentido de se endividarem em demasia mas porque requerem um investimento a médio-longo prazo. São casamentos muito longos, o que torna os riscos também mais longos», reiterou.

E por falar em investimentos, há cada vez mais estrangeiros a comprar casa e a criar empreendimentos turísticos em Portugal – com os britânicos e franceses no topo -, para além dos que arrendam casas ou reservam quartos de hóteis para passar férias. E o aumento da procura «tem tido um grande impacto no sector imobiliário», sublinha Inês Costa, lembrando que «os valores de rendas das casas na Baixa estão a atingir valores nunca antes verificados».

A manager de Real Estate da Deloitte ressalva, no entanto, que o aumento da procura «poderá trazer uma nova dinâmica ao sector imobiliário», uma vez que alguns proprietários de hotéis que trabalham de perto com a consultora, por exemplo, têm chegado à conclusão que esta é uma boa altura para venderem o seu portefólio. Contudo, a responsável adverte que para captarmos mais investidores estrangeiros «falta ainda dar mais informações sobre o sector do turismo em Portugal. E isso depende da abertura dos players para partilharem informação.»

Os turistas estrangeiros são também um target importante para a Fundação de Serralves. Se em 2016 os estrangeiros representaram 25% do total de visitantes do museu, este ano esse número já está perto dos 30%, com os franceses, espanhóis, ingleses, alemães e brasileiros no top 5 de visitantes estrangeiros do Museu de Serralves. De acordo com Miguel Rangel, o trabalho de captação de visitantes estrangeiros tem passado, em grande parte, por um maior foco da comunicação da Fundação de Serralves nos pontos de entrada de turistas no País, como sejam os aeroportos ou os terminais de cruzeiros, bem como noutros monumentos de referência da cidade do Porto, como o Palácio da Bolsa. E acresce ainda uma medida “drástica”: «Até há pouco tempo, Serralves encerrava às segundas-feiras. Em Abril deste ano passámos a abrir todos os dias, porque os turistas estão lá, estão na cidade!»

Para Francisco Rodrigues, o mar e o surf continuarão a captar cada vez mais turistas, simplesmente porque Portugal tem uma «oferta única e diferenciada», que permite a prática do surf mais tradicional ao surf de ondas gigantes (em particular na Nazaré). «Não é preciso inventar a roda, basta analisarmos as condições internas que temos. E o surf tem dado o seu contributo», conclui.

Texto de Daniel Almeida

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