O que escondem as vitrines da Hermès? Conheça o processo criativo desta marca exclusiva

A cada estação, uma das marcas mais exclusivas do mundo , a Hermès, faz o seu tradicional “Lever de rideaux”, ou seja, é o momento em que apresenta novas vitrines e chega até a parar o trânsito em frente ao número 24 da Faubourg Saint-Honoré, onde se localiza a loja, bem no centro da Paris.

O criador é, há 10 anos, Antoine Platteau, o designer oficial das “vitrines” icónicas da loja francesa. Mas que segredos se escondem atrás da cortina? Como se chega ao resultado final?

Numa entrevista exclusiva ao editor de moda da Harper’s Bazaar, Guilherme de Beauharnais, o criador das famosas janelas abre “a cortina” para o seu processo criativo e revela que este é um trabalho “muito particular” para o qual não estava preparado. “Em 2013, quando tive a surpresa de ser chamado por Pierre-Alexis Dumas, diretor artístico da Maison Hermès, que me propôs essa missão, fiquei muito impressionado pelo talento e conhecimento de Leïla Menchari (e Annie Beaumel antes dela). Quanto a mim, foi mais uma questão de prática adquirida e desenvolvida ao longo das estações”, contou o criador.

As antecessoras, admite, tinham “tinham temperamentos totalmente diferentes”, entre si, e ainda que admire ambas, identifica-se mais com o trabalho de Annie Beaumel, “talvez pelo sentido de espetáculo”.

“Leïla tinha uma abordagem de artista, enquanto, na minha opinião, Annie Beaumel era uma maravilhosa artesã de ideias, fantasia, poesia, estranheza e malícia, atributos com os quais me identifico”, declarou Antoine Platteau. O designer acrescentou ainda que “essa substância volátil que é a criatividade está em cada esquina”, recorrendo a ela sempre que pode.

E a inspiração? Antoine Platteau revela adorar “olhar as vitrines e algumas marcas” com as quais tenha “afinidade de gosto e espírito”, mas lamenta que “nos últimos anos, a prática da vitrine se tenha perdido muito a favor da transparência nas lojas”.

O seu trabalho, assume, foi-se transformando ao longo do tempo, muito graças “confiança, a benevolência e o entusiasmo” que a marca lhe vai conferindo a cada trimestre. “Permitem-me ter uma liberdade de expressão crescente e um trabalho cada vez mais lúdico. Mais do que métodos de trabalho ou ferramentas, foi o tempo que fez sua obra”, conta à Harper’s Bazaar.

Quanto ao processo criativo, o designer conta que “o tempo entre cada vitrine é contado rigorosamente pelo calendário” e que as “estações impõem uma mudança a cada trimestre e o departamento de decoração evolui a um ritmo particularmente acelerado”.

“Por razões de viabilidade, uma ideia só costuma ser realizada duas ou três temporadas depois do primeiro conceito. Isso faz-me pensar nas tapeçarias realizadas com o artista Antoine Carbonne, com vinte e quatro peças tecidas em Felletin, cidade próxima de Aubusson no coração bucólico da Nièvre, que exigiram um ano de trabalho”, conta Antoine Platteau.

O designer afirma que “tudo é muito variável”, sendo, por isso, “difícil estabelecer uma regra”. Ainda assim, revela que procura “planear com bastante antecedência para deixar o processo menos exaustivo”, mas o exercício que faz “é uma conversa com a rua que se inscreve no espírito do tempo”.

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