O que é que o sector Agroalimentar tem?
Há uns anos, poucos acreditariam que a indústria Agrolimentar portuguesa pudesse apresentar o nível que hoje apresenta. Não por falta de condições endógenas como solos férteis ou um clima favorável, mas pelas dúvidas em torno da capacidade da indústria em criar marcas fortes. A verdade é que há cada vez mais marcas portuguesas a dar cartas neste sector, dentro e fora de portas. «Enquanto País, chegámos tarde a este mercado, bem depois de Espanha e Itália. Mas estamos a conseguir encurtar a distância, principalmente desde que há uns anos foi criado o Portugal Fresh [Associação para a Promoção das Frutas, Legumes e Flores de Portugal, criada em 2010] e passámos a estar presentes nas principais feiras internacionais do sector», explicou Luís Mesquita Dias, CEO da Vitacress.
O responsável foi um dos oradores convidados para a conferência “As marcas da marca na economia portuguesa”, organizada pela Centromarca, e que decorreu esta manhã no Instituto Superior Técnico (IST), em Lisboa. Ao seu lado, num painel dedicado ao tema do “Contributo das marcas para o robustecimento da cadeia de valor”, estiveram Ana Cláudia Sá (Fromageries Bel Portugal), Diogo Pereira Dias (Sumol+Compal) e Rui Silva (Nobre). O painel contou com a moderação da jornalista Teresa Silveira (Vida Económica).
Não obstante, a Vitacress é um caso singular neste sector. Empresa de origem britânica, apenas se tornou “portuguesa” quando foi comprada em 2008 pelo Grupo RAR, sendo que hoje é detida por capital 100% nacional. Actualmente, 60% da produção da empresa destina-se ao mercado ibérico e 40% a outros mercados externos. «Todas as semanas recebemos pedidos de clientes que estão cada vez mais longe, particularmente no Norte da Europa, e felizmente temos conseguido dar seguimento a estes pedidos», sublinhou Luís Mesquita Dias.
A internacionalização é também um dos pilares da estratégia da Sumol+Compal, com particular destaque para os PALOP, ou não tivesse a empresa fábricas a operar em Angola e Moçambique. De acordo com o relatório e contas oficial, as exportações totalizavam cerca de 41,8 milhões de euros, correspondendo a 27% das vendas totais da empresa, no final do primeiro semestre de 2016. O objectivo é aumentar estes números nos próximos anos. «A Sumol+Compal é uma empresa em processo de internacionalização constante, ou não tivesse o valor das exportações quadriplicado desde 2008», sublinhou Diogo Pereira Dias, director ibérico da Sumol+Compal. O responsável deixou, contudo, um recado ao sector: «Não é possível replicar o modelo de negócios que existe em Portugal noutros países. É preciso adaptá-lo ao consumidor, às leis, ao poder político.» E rematou: «A internacionalização não é um sprint, mas uma corrida de fundo.»
Quem também não está para corridas é a Bel Portugal, que lançou, em 2013, o Programa Leite de Vacas Felizes, com o objectivo de melhorar e certificar o processo de produção do leite da marca Terra Nostra. «Na altura, os Açores e a marca Terra Nostra tinham algumas dificuldades na área da competência. Não éramos vistos como tendo as melhores práticas de produção», recordou Ana Cláudia Sá, directora-geral da Bel Portugal. Ciente deste handicap, a marca fez uma pesquisa intensa das melhores práticas de produção de leite à escala mundial. Após alguma investigação complementar, em parceria com a Universidade do Minho, concluiu que há uma diferença nutricional positiva do leite resultante da pastagem ao ar livre e no bem-estar animal. Foi então criado o Programa Leite de Vacas Felizes, e, garante Ana Cláudia Sá, os resultados estão à vista: «Terra Nostra é hoje a marca de leite número três em Portugal.»
No que toca ao sector das carnes, há ainda muito trabalho pela frente para as marcas portuguesas, considerou Rui Silva, CEO da Nobre. Para o responsável, é preciso um trabalho de fundo estratégico, à semelhanço do trabalho feito por Espanha. «Temos feito um trabalho muito sério junto do Governo para abrir novos mercados. Esperamos que isto permita às marcas portuguesas exportarem para os países asiáticos, para o México, entre outros. Foi este o caminho feito pela Espanha», reiterou.
Texto de Daniel Almeida