O papel crucial da RSC: estratégias empresariais com impactos reais
Por João Francisco Silva, Regulatory manager iberia na Danone Portugal
Como dizia Antoine Riboud em 1972, a responsabilidade das empresas não termina à porta dos seus escritórios e fábricas. As empresas têm de facto uma responsabilidade, não apenas a necessária responsabilidade financeira que lhes permita ser economicamente viáveis, mas têm também uma responsabilidade para com as pessoas que servem e com quem trabalham, para com o meio ambiente e para com a comunidade onde se inserem.
Esta é uma realidade inegável e que cada vez mais faz parte das estratégias empresariais, seja por propósito, legislação emergente ou pela crescente consciencialização do consumidor e sua preferência por produtos mais sustentáveis. Não mais a sustentabilidade empresarial pode ser uma agenda paralela ou secundária à agenda de negócio; sustentabilidade e negócio têm de coexistir e, entre os dois, esbater fronteiras ao ponto de não sabermos já onde começa um e acaba o outro.
Parafraseando o CEO de uma grande multinacional, “If sustainability without performance has no impact, performance without sustainability has no future” (se a sustentabilidade sem performance não tem impacto, a performance sem sustentabilidade não tem futuro). E, de facto, assim é. O negócio precisa de ser sustentável para ter futuro, tal como as iniciativas sustentáveis necessitam de ser alavancadas através do negócio para que efectivamente ganhem escala e gerem impacto positivo significativo.
Certificações como a B Corp (que reconhece empresas com elevados padrões éticos, sociais e ambientais) têm cada vez mais adesão empresarial e reconhecimento público. A B Corp, em particular, reconhece as melhores empresas para o mundo (não necessariamente as maiores empresas do mundo) e aquelas que usam o seu modelo de negócio como uma força motriz para praticar o “bem”. Certificações como esta funcionam, assim, como um “selo de confiança” para os consumidores que, ao adquirirem um produto de uma empresa certificada sabem que estão a adquirir um produto de uma empresa que não se limita a vender bens e a fazer lucro, mas que, ao fazê-lo, está também a proteger consumidores, colaboradores, parceiros, o meio ambiente e a sociedade em geral.
De facto, apenas serão verdadeiramente relevantes e empresas de futuro aquelas cujo modelo de negócio seja um modelo sustentável e que, na sua estratégia, tenham implementadas reais medidas de impacto positivo. O mundo, o mercado e o contexto socio-económico e geopolítico actuais não se coadunam com algo diferente. As empresas são um enorme influenciador mundial e um “actor” chave no desenvolvimento económico e social das sociedades, impacto no meio ambiente e contribuição para a saúde e bem-estar dos consumidores. Tal preponderância torna inevitável a adaptação dos modelos de negócio empresariais em modelos de negócio sustentáveis e que, de alguma forma, procurem promover objectivos de desenvolvimento sustentável, conforme propostos pelas Nações Unidas.
Assim, cada vez mais assistimos a iniciativas empresariais louváveis e que movem o mundo (e os negócios) no rumo certo e, apesar de ser ainda uma minoria, podemos verificar uma tendência crescente. Práticas ambientais mais sustentáveis, como, por exemplo, a activa contribuição para manter o aquecimento global abaixo dos 1,5ºC, através do atingimento da neutralidade carbónica nas suas operações, redução de emissões e utilização de energias renováveis no fabrico de produtos.
O aumento da circularidade das embalagens, minimizando a quantidade de plástico utilizado (através da redução ou eliminação de materiais secundários desnecessários, como películas e tampas de plástico em garrafas, por exemplo), optando por materiais que permitam maiores taxas de reciclabilidade, incorporação de plástico reciclado em novas embalagens e medidas de ecodesign que possibilitem desenvolver embalagens que nos circuitos de separação e tratamento de resíduos facilitem o reaproveitamento de material e melhorem o futuro reaproveitamento de matérias-primas.
A protecção das franjas mais expostas da sociedade, através de donativos de produtos, alimentos e soluções nutricionais para quem de outra forma a eles não teria acesso. A procura por ajudar financeiramente quem mais necessita, seja isoladamente ou através de associações a prestigiadas entidades de cariz social bem conhecidas dos portugueses (como a Cruz Vermelha Portuguesa ou o Banco Alimentar).
A criação de ambientes de trabalho que respeitam a diversidade, a inclusão, igualdade de género e o bem-estar físico e mental dos seus colaboradores, gerando emprego, cativando novos talentos, mas sendo também capaz de reter os mais experientes, fomentando estilos de vida saudáveis e com um adequado equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.
Estes são alguns exemplos do que já se vê em termos de sustentabilidade nas empresas líderes e pioneiras do nosso mercado, empresas essas que, esperemos, estejam a abrir caminho ao que no futuro possa ser, não a louvável excepção, mas sim a prática comum.