O pão nosso de cada dia.
Por Paula Santos, Freelance Senior Copywriter
Numa feliz coincidência durante as férias, encontrei o João Espírito Santo, um dos primeiros directores Criativos com quem tive a sorte de estagiar e de (tanto) aprender. Em conversa, ele dizia-me que ao estar em teletrabalho se lembrou de um post que fiz há uns anos no Facebook:
“Como é possível “freelar” em casa, quando se tem um pão alentejano na cozinha?”
E isto deixou-me a pensar, não só no facto engraçado deste problema ter deixado de pertencer apenas aos freelancers como eu, e se ter estendido a quase toda a população que experimentou o teletrabalho. Mas mais importante, em como é fundamental termos bons mentores quando começamos a trabalhar e como eles nos ficam para a vida.
Perguntem aos grandes directores Criativos do mercado o nome dos seus mentores e todos vão ter um ou mais nomes incontornáveis no seu processo de crescimento.
Aprender não é só fazer, também é ter pessoas dispostas a investir em nós e predispostas a aprender também. Juntas, a tornarem o trabalho sempre melhor. Quando comecei a estagiar tinha à minha volta uma equipa de criativos séniores, sempre prontos a ensinar e a ajudar naquele momento de desespero em que achamos que não vamos conseguir cumprir o prazo.
Actualmente o mercado está cheio de gente nova, o que é bom e natural, como é óbvio, mas vejo cada vez menos mentores. Não há pessoas para investir nas pessoas.
De há uns anos para cá, houve uma saída de profissionais mais velhos e experientes do mercado, porque ficaram caros nas estruturas actuais, e perdeu-se o importante passar do testemunho, o dar ferramentas às novas gerações para fazerem ainda melhor.
O famoso ageism que se instalou transversalmente em todas as áreas do mercado está a deixar marcas. E estando longe de ser pessimista, porque acho que as novas gerações vão dar conta do recado de uma maneira ou de outra, tenho pena que se vá perdendo essa troca de experiências, que foi sempre tão positiva para todos.
Por isso aqui fica a dica. Com ou sem mentores, lembrem-se que a boa criatividade depende sempre de nós. E tal como os pães alentejanos, deve ser irresistível.