O Marquês de Pombal está iluminado de verde. Sabe porquê?
Hoje, 10 de Outubro, comemora-se o Dia Mundial da Saúde Mental. Para assinalar a data, o Grupo Lusíadas Saúde e a Câmara Municipal de Lisboa decidiram iluminar a estátua do Marquês de Pombal de verde, cor associada à saúde mental.
As luzes numa das praças mais emblemáticas da capital portuguesa acederam-se ontem à noite e só serão apagadas esta noite – 24 horas depois. Com esta acção, as duas entidades parceiras pretendem sensibilizar a população para a relevância da saúde mental e combater o estigma ainda associado a patologias do foro mental e ao seu tratamento. A ideia «surgiu da necessidade, que há muito identificámos, de dar visibilidade à saúde e à doença mental, face à elevada prevalência de doenças mentais e ao enorme estigma em torno destes problemas. São factores muito condicionantes da procura de ajuda especializada», salienta Filipa Pinheiro Marques, administradora do Hospital Lusíadas Monsanto, em entrevista à Marketeer.
Por decorrer numa das principais artérias da cidade, por onde passam diariamente cerca de 40 mil pessoas, o Grupo Lusíadas Saúde e a CM Lisboa esperam que esta acção traga uma maior visibilidade ao tema. «Com o simbolismo acrescido de ser a primeira vez que um monumento lisboeta se ilumina pela saúde mental e de ser também uma iniciativa pioneira por parte de um grupo de saúde. Queremos igualmente despertar a curiosidade das pessoas sobre a razão desta iluminação verde e, dessa forma, contribuir para o surgimento de conversas e partilhas sobre saúde e doença mental e para diminuir o estigma em torno desta temática», frisa Filipa Pinheiro Marques.
Além desta ação, o Hospital Lusíadas Monsanto, unidade especializada neste ramo da saúde, está a oferecer consultar gratuitas de orientação de saúde mental até amanhã, 11 de Outubro. As consultas são abertas a todos que sintam a necessidade de fazer um rastreio à sua saúde mental. Trata-se de um primeiro contacto com um profissional de saúde, que poderá analisar e avaliar os sintomas reportados e, se necessário, encaminhar o paciente para o profissional mais indicado – seja um médico psiquiatra, um psicólogo ou um médico de medicina geral e familiar – para que possa ser feito o devido acompanhamento e tratamento.
«Sabemos que cerca de 60% das pessoas com problemas de saúde mental não recebe tratamento por dificuldades de acesso a estes serviços e, em boa parte, pelo estigma prevalecente. Queremos auxiliar num primeiro acesso e desmistificar os cuidados de saúde mental. São normais e tão importantes como cuidar da saúde física», refere a administradora do Hospital Lusíadas Monsanto.
Portugal na cauda da Europa
De acordo com o mais recente Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental, promovido pela Universidade Nova de Lisboa e citado pelo Grupo Lusíadas Saúde, um em cada cinco portugueses sofre de uma perturbação psiquiátrica, realidade que coloca Portugal na segunda pior posição a nível europeu, apenas atrás da Irlanda.
De acordo com Filipa Pinheiro Marques, há alguns factores que ajudam a explicar esta tendência: «Existem, sem dúvida, factores determinantes da nossa elevada prevalência de doenças mentais, mas a aposta na prevenção é muito diminuta, e o sistema de saúde está a reagir a uma situação de muita doença instalada – sem que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) tenha capacidade de resposta ou estreite suficientemente a colaboração com os privados, para expandir a capacidade, os recursos (humanos e financeiros) e o acesso aos cuidados especializados.»
Nesse sentido, a responsável apela a que seja promovida uma «abordagem colaborativa entre público e privado, para tornar disponíveis mais infra-estruturas, mais profissionais de saúde mental, mais meios de diagnóstico e de tratamento». Além de um reforço do financiamento para a saúde mental, que hoje absorve apenas 2 a 3% do orçamento global da saúde. «Acreditamos que desconstruir o estigma, prevenir a doença mental e promover a literacia em saúde mental é uma missão transversal a todos os stakeholders, do Estado às empresas, passando pelo sector privado da saúde. E estamos a desenvolver várias medidas neste sentido», reitera.
Além da acção de sensibilização na estátua do Marquês de Pombal e da oferta de consultas de orientação de saúde mental, o Grupo Lusíadas Saúde – que em Setembro já tinha lançado uma campanha de prevenção do suicídio – tem previstas outras acções para assinalar o mês da saúde mental, desde a inauguração de uma horta terapêutica à organização de debates e mesas-redondas em torno deste tema.
Texto de Daniel Almeida