O lobby actual também passa pelo ciberespaço
Blogues, sites, fóruns, redes sociais com uma avalanche de tweets, posts, imagens, vídeos… É indiscutível, as campanhas (mais ou menos) espontâneas de mobilização cívica e activista na internet multiplicam-se a uma velocidade imparável e, por vezes, incontrolável. O universo online está presente, cada vez com maior força e intensidade, nos debates tradicionais. Muito em parte pela agilidade, imediatismo e conveniência que oferece na convocação das massas e grandes movimentos de opinião e discussão.
Todos os dias observamos novos sinais de que o online deixou de ser um meio com grande potencial de influência para tornar-se uma realidade palpável e quotidiana, com impacto directo sobre as opiniões da sociedade. Exemplos recentes não faltam, desde a manifestação da geração “à rasca”, às críticas no perfil do Facebook do, então, cabeça-de-lista do PSD por Lisboa, Fernando Nobre.
A consequência lógica desta nova realidade é o facto de que as redes sociais entraram com força nas campanhas de lobby e opinião pública, onde representam canais cada dia mais importantes e essenciais de sensibilização e debate de argumentos, posições e ideias. As bases já estão definidas e explorar o potencial influenciador oferecido pelos meios online depende, apenas, da capacidade do lobista, nomeadamente do seu bom senso para utilizar os diversos canais online disponíveis.
Em primeiro lugar, o bom lobista deve saber explorar a dimensão social do tema (e o uso da internet para campanhas parece particularmente adequado quando se trata de advocacy) e, por outro, saber articular a mensagem de maneira a que esta gere uma massa crítica de opinião pública e apoio activo para a iniciativa que procuramos defender. O objectivo, claro, é alcançar o maior número de estratos sociais possíveis e, actualmente, a maneira mais rápida e eficaz de conseguir isso é através dos canais oferecidos pela internet e redes sociais.
Ultrapassada a primeira década do século XXI e submergidos num progresso tecnológico imparável e que exige constantes mudanças sociais, seria um erro crasso limitarmos-nos às técnicas do passado e não tirar proveito da riqueza que oferece o diálogo e a interactividade do chamado universo 2.0, âmbito que permite aos movimentos, organizações de interesse público, empresas e partidos políticos não somente facilitar a informação, como também obter um feedback directo e imediato do pensamento da sociedade sobre determinado assunto. Nesse sentido, fóruns e grupos de discussão são duplamente importantes. Por um lado, servem para angariar respaldo suficiente em torno do tema, o que, por sua vez, visa gerar um amplo apoio e alimentação de conteúdo atraente e persuasivo da ideia defendida pela campanha de lobby. Por outro, são úteis para moderar ou influenciar a opinião daqueles que não partilham da posição que se pretende difundir e a qual queremos dotar da maior “unanimidade” possível.
Na web, existem duas chaves para efectivamente cumprir o propósito de ganhar influência: manter a lógica e a filosofia do lobby e compreender bem as especificidades da internet e das transformações tecno-sociais causadas. O e-activismo, a mudança constante, o imediatismo e o relativo anonimato que os nicknames permitem aos participantes são conceitos novos (e ao mesmo tempo clássicos devido à sua velocidade de execução), para os quais é necessária adaptação rápida e “respeito”.
Neste sentido, um dos primeiros passos em qualquer estratégia de lobby online é identificar os stakeholders e iniciar abordagens para neutralizar imprecisões, fornecer informações e entender motivações. No online contamos com a dificuldade de que, muitas vezes, não se sabe quem está por trás de um comentário ou quão relevante ele é ou pode vir a ser. Mas, ao mesmo tempo, a internet e as redes sociais oferecem uma estrutura inovadora para conseguir multiplicar o impacto das campanhas e estender a influência. As vantagens superam os riscos.
No ciberlobby o importante é ouvir, acompanhar e vincular a nossa causa nos indivíduos e instituições com actividades nos meios de comunicação online, com especial atenção para os e-influenciadores (figuras públicas e/ ou organizações relevantes para o sector de interesse) e respectivas esferas de influência e relação. A gestão do relacionamento com esses activistas deve ser particularmente bem conservada. Uma atitude acolhedora de escuta e de diálogo favorece os propósitos do ciberlobista, enquanto o comportamento contrário pode gerar um efeito reactivo ou backlash, com um prejuízo significativo para a causa que tentamos defender. No online, os efeitos positivos são mais rápidos e alcançam um público amplo, contudo os erros também se potenciam. E muito rapidamente. A receita para evitá-los está em coisas simples e tradicionais, como a prudência e o bom senso.
Outro elemento importante é a criação de plataformas de conteúdo. Aqui, a experiên-cia mostra que é crucial uma abordagem de storytelling, a geração de acções e elementos icónicos que ajudem a comunicação rápida e eficaz da mensagem principal, bem como a dinamização e “viralização” constante. Não é difícil: mudaram os meios, mas continuamos a falar de comunicação, a contar histórias que reflictam o impacto social e humano do tema. Com a característica de que a mensagem se vai transformando e adquirindo nuances nos contactos com o grupo de utilizadores da internet e enriquecida por esta interacção.
A terceira chave é reforçar a defesa. Isto passa tanto pelo posicionamento adequado dos nossos argumentos nos principais motores de busca como na dinâmica e “viralização” de conteúdos nas redes sociais. Não adianta ter argumentos sólidos ou um microssite atraen-te se não forem alcançados fãs, amigos… Pessoas dispostas a compartilhar a visão que defendemos. Portanto, é essencial explorar as sinergias do mundo online e unir forças e recursos para articular mensagens que alcancem o maior impacto possível.
Finalmente, devemos ressaltar um elemento fundamental, quase crítico, no momento de abordar a política de lobby na web: a experiência do community manager, uma figura intermediária entre o gestor de conteú-dos e o especialista em ferramentas online que, além de conhecer todas as particularidades do meio digital, deve reunir as características de comunicador especializado e lobista. Dele depende a participação efectiva nas redes sociais, sendo o seu nível de maturidade e experiência factores essenciais. O seu papel é identificar as oportunidades, responder às questões, contrariar os rumores, assegurar a visibilidade da temática e da reputação da empresa ou organização em todos os fóruns relevantes.
Na web, a receptividade por parte dos media e dos stakeholders a uma campanha de lobby é, em princípio, elevada. No entanto, deve notar-se que o sucesso pode variar de acordo com o apelo social da temática e da capacidade de transmitir e retransmitir as notícias e menções.
A internet pode contribuir – e muito – para uma campanha de lobby, sempre que esta seja desenvolvida por mãos experientes e com expectativas proporcionais ao crescimento do meio. Ciberlobby sim, mas com prudência e profissionalismo.