O jejum fica para outro dia. É uma questão de Cortesia
Em alguns círculos as palavras têm de ser bem medidas. Mas não aqui. Sou como sou e assumo-o. Gosto de carne. Muito mesmo. Não como todos os dias, claro está, mas quando surge a oportunidade não me nego a esse deleite. Condenem-me, se quiserem. Daí que quando surgiu o convite para experimentar o novo restaurante Cortesia não tenham restado dúvidas sobre quem lá devia ir.
À noite, especialmente durante a semana, já não me lanço em altos voos gastronómicos. Por isso foi numa quinta-feira ao almoço que me fiz à estrada rumo a Campo de Ourique, em Lisboa. Não sabia nada sobre o espaço nem sobre os seus fundadores e foi à mesa com a Anna Arany e a Inês Cabral (que com o Manuel Cabral, irmão de Inês, se lançaram nesta empreitada) que percebi que isso não era totalmente verdade.
É que antes do Cortesia já os dois irmãos tinham tido um espaço no Mercado de Campo de Ourique que se dedicava a satisfazer os desejos daqueles que procuravam um bom bife clássico com batata fritas. Por outro lado, Anna e Inês tinham lançado um espaço também no mercado onde os mais gulosos finalizavam as suas refeições com uma ampla variedade de sobremesas.
Em 2018, com a renovação do centro comercial Saldanha Residence, sentiram que estava na altura de apostar no cliente corporate com a marca Cortesia. Uma aposta que se revelou vencedora, contou Anna, e que provou que era possível servir carne de qualidade a um preço razoável.
Foi a partir daí que nova ideia começou a maturar. Os três jovens começaram a pensar em abrir um espaço com porta para a rua, perto do Mercado de Campo de Ourique onde já tinham uma clientela fiel. Perceberam também que tinham de deixar o mercado. Mas ainda havia que encontrar “o” local. Foi necessário juntar três pequenas lojas transformando-as num espaço mais amplo que ocupa uma esquina na Rua Tomás da Anunciação. Obras terminadas e nascia, assim, no início de Setembro, o Cortesia Campo de Ourique. Um espaço onde os fundadores sentem que conseguem construir a sua marca.
A cozinha, aberta para a sala, é circundada pelo balcão onde se sentam alguns comensais. Em regra, pessoas que estão desacompanhadas e que querem fazer uma refeição ligeira de forma célere.
Ficámos numa das mesas interiores. Num lugar que nos permitia ver que entre os clientes havia desde gente mais nova aos reformados, tendo um misto de géneros. Totalmente despretensioso onde ninguém se sente fora de pé.
Até porque a promessa é clara: “Carne de qualidade, a um preço justo num ambiente cool.” E cumpre escrupulosamente.
Começámos por uma entrada de Burrata que, garantem-nos, chega de Itália semanalmente. Irrepreensível. Mas a ajudar à sua festa estavam os tomates cereja com um tempero de se lhe tirar o chapéu.
Seguir-se-ia o prato rei: a carne. Optámos por um entrecôte com 50 dias de maturação, mal passado, como é apanágio dos grandes amantes de carne. Os sucos estavam todos lá deixando clara a importância do Josper (o supra-sumo dos fornos a carvão que atinge os 500º e que foi especialmente criado para grelhar carnes de alta qualidade). Das batatas fritas também não restou uma única no final. E mais houvesse…
Uma pessoa de bom senso teria ficado por aqui. Mas se é verdade que adoro carne, não menos verdade é que sou gulosa. E duas das sócias já tinham tido um espaço de sobremesas no mercado… Assim sendo, deixei-me tentar (sem grande sentimento de culpa, confesso). Era a hora de reinar a tarte de brigadeiro. E a cada pedaço, ganhava força a certeza de ter feito bem em ter deixado a escolha nas mãos de Anna. Ainda assim, fiquei de olho “gordo” na tarte de caramelo salgado e chocolate que vi passar. Mas terá de ficar para o dia em que regressar. Sim, vou regressar sem qualquer sombra de dúvida até porque nas entradas fiquei a pensar nos tacos de tártaro de novilho e, nas opções de vaca, ando a sonhar com a chuletón 30 dias de maturação. E agora que penso nisso, porque não já amanhã?
Texto de Maria João Lima