O haraquiri da comunicação social…

Ricardo Florêncio

Director Editorial Marketeer

A digitalização a nível mundial veio trazer mudanças drásticas nas nossas vidas, em todos os sentidos. No modo como nos relacionamos, como vivemos o dia-a-dia, como digerimos toda a informação e notícias, como percepcionamos o mundo…

Já falámos muitas vezes sobre o modo como esta digitalização mudou também o mundo das Marcas. Nas empresas, todos os sectores de actividade tiveram que se adaptar a estas novas realidades. Mas a comunicação social terá sido uma das indústrias que mais foi afectada. Como muitos dizem, não sou de opinião que terá faltado capacidade de adaptação da comunicação social a esta digitalização. Penso, pelo contrário, que a comunicação social, com especial relevo para a imprensa escrita, fez um perfeito haraquiri!!!!

Já imaginaram alguém entrar num posto de combustível, abastecer, não pagar e ir-se embora, enquanto o responsável desse posto lhe acena e agradece a visita e a preferência? Ridículo, não? Talvez não, pois foi exactamente isso que a comunicação social fez!

Deu, ofereceu o que mais precioso tem para vender: a produção de informação, as notícias. Esse é o maior bem que os media produzem, e é único. Tem maior credibilidade, tem profissionais a trabalhar, que investigam, elaboram, analisam, editam, e que, no final, disponibilizam essa informação, essas notícias, essas análises. Pois com o rodopio criado pela digitalização, e pela ânsia de ganhar espaço, ser o preferido – e ser o preferido começou a ter o tempo como factor primordial, pelo que ser o primeiro passou a ser o objectivo -, a comunicação social ofereceu gratuitamente, a todos, o acesso à informação. E quando alguns tentaram voltar atrás, foram engolidos por todo o sistema que o mercado tinha montado e assimilado.

Pressupostamente, a lógica desta estratégia seria que as receitas provenientes do mundo digital iriam compensar todo este investimento, assim como as perdas da componente da venda de informação!!! Pois, mas não foi assim!!! E agora? E se os produtores de informação generalizada, nomeadamente os diários, acabarem e deixarem de produzir informação? Informação essa que muitos outros “parceiros” usam nas suas diversas plataformas, e daí recolhem os frutos e receitas.

Como vai ser o mundo das notícias? Como seremos informados?

Editorial publicado na edição de Setembro de 2017 da revista Marketeer

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