«O Doclisboa é inevitável no mapa da não-ficção»
Arranca já na próxima quinta-feira, dia 17, mais uma edição do Doclisboa, festival internacional de cinema que tem dado que falar e que pensar. Com o documentário como principal pilar, o evento apresenta-se como «um dos espaços inevitáveis no mapa internacional da não-ficção». As palavras são de Cíntia Gil, directora do Doclisboa, que em entrevista à Marketeer explica como o festival tem vindo a contribuir para a marca Portugal.
Os bons resultados têm levado à criação de novos espaços de colaboração (nacional e internacional) e ao interesse crescente de marcas com vontade de assumir o papel de parceiras. De acordo com Cíntia Gil, «confiam no Doclisboa como um festival que dignifica e valoriza a sua presença».
De que modo tem evoluído a marca Doclisboa?
O Doclisboa evoluiu de um festival dedicado a divulgar o cinema de não-ficção junto do público nacional para um projecto com um alcance alargado e a vários níveis. Em termos nacionais, o Doclisboa tem uma presença ao longo de todo o ano através de acções junto do público em geral (distribuição e estreias de filmes, mobilização de conteúdos em plataformas digitais, ou intervenção em discussões públicas relacionadas com o sector), mas também junto do público jovem e escolar, através de um serviço educativo que funciona permanentemente.
Estimulamos o acesso descentralizado do público aos melhores filmes de não-ficção que, por diferentes razões, não encontram canais de distribuição tradicionais.
Em termos internacionais, o Doclisboa transformou-se num festival que introduz transformações relevantes tanto na circulação dos filmes como nas discussões do sector. Apostando em estreias internacionais e mundiais de filmes provenientes de inúmeros territórios, o Doclisboa intervém directamente na paisagem internacional do cinema e, neste caso, naquela que é a definição de fronteiras entre ficção e não-ficção.
Criando diferentes espaços profissionais associados a redes internacionais (com os países ibero-americanos, mas também com outros países europeus como a rede Doc Alliance e com estruturas em diferentes continentes), o Doclisboa tem hoje uma participação visível e de grande responsabilidade na abertura dos espaços futuros para o cinema: uma série de filmes que passaram pelo nosso laboratório de desenvolvimento foram estreados nos melhores festivais europeus, entre eles a Berlinale, por exemplo. Hoje em dia, o Doclisboa afirma-se como um dos espaços inevitáveis no mapa internacional da não-ficção.
Qual tem sido o contributo do festival na construção do posicionamento de Portugal no mundo do cinema?
A partir do momento em que conseguimos atrair meios de grande relevância (desde o Le Monde a revistas como Sight & Sound ou Variety) e convidados e visitantes dos vários sectores internacionais da indústria, o Doclisboa passou a ser um importante espaço de internacionalização do cinema nacional. Por outro lado, a nossa programação é conhecida pelo seu grande rigor e critério e, portanto, os filmes que programamos acabam por sair daqui com um importante selo de qualidade que ajuda à sua circulação.
Este ano, o Doclisboa tem um novo espaço de networking, o Nebulae. O que motivou a sua criação?
O facto de termos conseguido solidificar um forte posicionamento na indústria internacional através da programação de filmes fez-nos procurar abrir outros caminhos dentro do projecto Doclisboa, que canalizassem esse património de prestígio e redes internacionais para uma intervenção mais directa no mercado. No fundo, entendemos que era importante responsabilizarmo-nos pelo cinema que defendíamos através da nossa programação, criando espaços profissionais que fossem oportunidades reais para que esses filmes pudessem existir com condições concretas de viabilização e circulação.
O Nebulae nasce dessa necessidade e da constatação de que o Doclisboa havia reunido um conjunto de parceiros internacionais muito relevante e estrategicamente interessante, tendo sobretudo a Europa e os países ibero-americanos como dois grandes pólos de contacto. Apercebemo-nos de que podíamos oferecer algo único: um pé solidificado na Europa e um grande horizonte de trabalho lançado a partir deste lugar que é a Península Ibérica para toda a América Central e do Sul. O Nebulae é, neste momento, um dos mais importantes espaços profissionais do cinema de não-ficção em termos mundiais e um farol incontornável no cinema ibero-americano.
Quem pode participar?
Uma das características distintivas do Nebulae é que reúne actividades que vão ao encontro de vários públicos. Existem actividades abertas ao público geral (debates e masterclasses sobre questões relevantes relacionadas com o mercado, a produção, as políticas para o cinema); actividades direccionadas mais para projectos que procuram realizar co-produções e modelos de co-financiamento (como o fórum de co-produção Lisbondocs, mais voltado para projectos europeus); actividades direccionadas para realizadores e produtores independentes, projectos com modelos alternativos de produção de países ibero-americanos (o Laboratório Arché); e a partir deste ano, introduzimos ainda a crítica, criando também uma oficina e residência artística entre Lisboa e Madrid para jovens críticos de países ibero-americanos. O Nebulae é um espaço para profissionais sobretudo, mas é também um espaço que pretende comunicar com o público do Doclisboa, envolvendo-o nas discussões mais urgentes do mercado cinematográfico.
Qual é o resultado esperado desta nova aposta?
Em concreto, esperamos ter cada vez mais filmes que passem pelo Nebulae a circular em festivais internacionais e em circuitos de distribuição; cada vez mais casos de co-produção nascidos neste contexto.
Quais são as grandes novidades deste ano em termos de marcas parceiras?
Além das marcas, continuamos a crescer em termos de rede de parcerias com entidades públicas de enorme relevância, como o Parlamento Europeu ou o Ibermedia. Quanto às marcas, para esta edição existem algumas que se mantêm solidamente connosco como a Ageas Seguros, a Conserveira de Lisboa, a Musa, os Vinhos de Lisboa, a Cortes de Cima ou a Claus.
Este ano, adicionámos novas marcas como a Vitacress, a Selina Secret Garden (nossos parceiros para a secção Verdes Anos), ou a Persol e a Volvo. Temos também um novo parceiro em dois prémios, a McFly SPF (novo estúdio de pós-produção fundado por Miguel Martins). E estabelecemos colaboração com estruturas dedicadas à internacionalização tanto da região como do sector do cinema, como a Associação de Turismo de Lisboa (que reforçou a sua presença), a PIC Portugal e a Visit Portugal. Todos estes parceiros confiam no Doclisboa como um festival que dignifica e valoriza a sua presença, que comunica os seus valores e que tem uma relevância social e cultural assinalável.
Qual é o impacto da marca Doclisboa em termos económicos?
Não existe ainda um estudo consistente feito a esse respeito. No entanto, sabemos que cerca de 50% dos visitantes internacionais do Doclisboa nos visitam por meios próprios e cerca de 70% das noites de hotel associadas ao festival são também investimentos dos visitantes. Estes números têm aumentado de forma muito consistente, revelando uma grande vitalidade do Doclisboa enquanto agente dinamizador da cidade de Lisboa. Isto é fundamental, já que permite que venham a Lisboa visitantes com características muito específicas, que procuram uma relação profunda com a nossa cultura e com o que cá fazemos.
Texto de Filipa Almeida