O design para lá dos acrónimos e anglicanismos

Por Isabel Raminhos, User Interface designer na Quidgest

O termo design tem raízes profundas e variadas. Uns associam-no ao verbo latino designare, significando a concretização de uma ideia. Outros vêem o design como algo ligado a planos e intenções. Até o Bard AI tem uma definição própria: a “criação de algo novo”, seja isso um objecto físico, um processo ou sistema. A verdade é que não existe um consenso universal.

Na minha perspectiva de User Interface (UI) Designer numa tecnológica focada em desenvolver software corporativo com Inteligência Artificial (IA) Generativa, o design pode ser usado para resolver problemas, tornar as coisas mais eficientes ou simplesmente mais bonitas. É ainda uma combinação de eficiência, economia de custos e vantagem competitiva, especialmente no contexto de UI Enterprise Design.

UI Enterprise Design?

Sim. Este termo refere-se ao processo de design da interface do utilizador (UI) de produtos e serviços de software corporativos. A UI é a parte com a qual os utilizadores interagem directamente (menus, botões, ícones e widgets). É extremamente importante porque afeta a usabilidade, a acessibilidade e a segurança de um produto/serviço de software.

E para identificarem melhorias, criarem/implementarem soluções e responderem aos desafios e necessidades dos utilizadores, os designers usam competências de pensamento crítico, criatividade e resolução de problemas. É esta a abordagem “problema solver” que me define enquanto profissional na “era dos acrónimos” do design – UI (User Interface), UI/UX (User Experience), IXD (Interaction Design), UI-IA (User Interface Information Architecture) e HCI (Human-Computer Interaction), só para citar alguns.

Mas falar sobre design também é falar sobre equilíbrio: soluções centradas no utilizador (User-Centered), adaptadas às necessidades e preferências do contexto de negócio específico; mas soluções que melhorem igualmente a eficiência e a eficácia de processos/tarefas, e estejam alinhadas com o “processo de produção” – o desenvolvimento/programação, que se quer ágil, escalável e em constante evolução. Trata-se de uma receita com vários ingredientes, tais como:

  • Empatia: Colocar-se no lugar do utilizador e sentir as suas necessidades, frustrações e preferências, de forma a resolver os seus problemas e melhorar a sua experiência;
  • Psicologia: Compreender o processo cognitivo, a interacção dos utilizadores com as interfaces e a tomada de decisão. Os princípios da Gestalt, por exemplo, são usados no UI Design para apresentar o conteúdo de forma mais intuitiva.
  • Tecnologia: Conhecer as caraterísticas e especificidades únicas das plataformas e ferramentas utilizadas ajuda a contornar os desafios e a criar soluções tecnicamente viáveis.
  • Colaboração: Trocar ideias e “traduzir” conceitos de design junto de software developers, gestores de produto, especialistas em UX, clientes, parceiros ou outros stakeholders, para garantir que o design é corretamente implementado e responde às necessidades do projecto.
  • Usabilidade: Eliminar elementos desnecessários e facilitar a interacção do utilizador, para diminuir a sobrecarga cognitiva e tornar a sua jornada mais directa e eficiente – com o menor número de barreiras e cliques possível;
  • Negócio: Entender o domínio para o qual se está a trabalhar contribui para tomar decisões mais informadas e alinhadas com os objectivos do cliente e do utilizador final (seja isso criar um sistema de CRM, efectuar uma compra ou subscrever uma newsletter).
  • Acessibilidade: Garantir que o design é responsivo, funciona em diferentes dispositivos/tamanhos de ecrã disponíveis, e está acessível a todos os utilizadores, sem ou com algum tipo de limitação ou deficiência.
  • Adaptabilidade: Adaptar o design com base nas mudanças tecnológicas, tendências ou no feedback contínuo e regular dos utilizadores, de forma a fazer os ajustes e melhorias necessárias.
  • Consciência cultural: Compreender que o mundo globalizado de hoje exige soluções com várias nuances culturais para utilizadores com diferentes origens, contextos, tradições, idiomas ou práticas sociais.
  • Emoção: Incorporar emoção é crucial para estabelecer uma conexão humana e fazer a diferença num mercado saturado de ofertas muito similares. Está a pensar naquele pormenor (mensagem, notificação, botão, animação, etc.) que lhe rouba um sorriso sem estar à espera? É isso mesmo.

E não falar de IA seria uma “falha de contexto”. Mesmo em fase de desenvolvimento, esta tecnologia tem o potencial de revolucionar positivamente o UI Enterprise Design. À medida que a IA se tornar mais sofisticada, vai revelar-se uma ferramenta essencial para os designers agilizarem e aperfeiçoarem pesquisas, encontrarem ideias inovadoras, automatizarem tarefas de prototipagem e testes, etc.

Por fim, dizer que o design de interfaces é muito mais do que uma trend do momento ou uma forma cool de arrastar mais mulheres para o universo tecnológico. É uma disciplina séria e complexa, para onde convergem várias competências técnicas, criativas e interpessoais essenciais para criar soluções que sejam esteticamente agradáveis, funcionais, centradas no utilizador, mas também no negócio. E uma área onde homens e mulheres podem juntar forças e contribuir com as suas perspectivas e experiências únicas, para moldar um futuro digital mais inclusivo, acessível e humanizado.

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