O “ruído” na publicidade

Sou incondicionalmente adepto da publicidade, em todas as suas vertentes e múltiplos objectivos. E nos últimos tempos, temos assistido a sucessivas evoluções e revoluções nas multiplataformas utilizadas para veicular essa mesma publicidade, que muitas vezes se misturam com os próprios programas, produtos, actores, etc.

Contudo, tenho muitas dúvidas se certa publicidade atinge os seus objectivos e tendo mesmo a certeza que alguns factores não são levados em conta, quando se efectuam as medições de eficácia da mesma.

Ultimamente não vejo muito os canais de televisão generalistas. Contudo, no fim de Julho estava a ver um programa num desses canais. Veio o intervalo. Não sei ao certo quanto tempo demorou o intervalo, pois não me preparei no início para fazer essa medição. Mas foi perto de 15 minutos – só sei que foi tão grande, porque eu, que até gosto de ver anúncios, estava um pouco saturado, e a motivação para continuar a ver o programa que estava a ver era quase nula.

Nesse intervalo passaram quase duas dezenas de filmes publicitários das mais variadas marcas e produtos, e mais algumas autopromoções. Lembro-me curiosamente que houve dois anúncios da mesma marca e produtos repetidos. E assim, alguém nos deseja convencer que o filme que passou em 14.º lugar surtiu o efeito desejado e atingiu os objectivos propostos? Passados 13 filmes publicitários, alguém está com disposição de ver algum tipo de promoção ou filme? Imagino a quantidade de pessoas, que, apesar de terem a televisão ligada, levantaram-se para fazer algo, pois 15 minutos dá para fazer muita coisa. E alguém viu, ou se lembra, do anúncio que passou em 16.º lugar?

Mas não se pense que esta situação é exclusiva da televisão.

Neste mês de Agosto li uma revista, não costumo folhear. Com surpresa, verifiquei que essa revista apresentava 8 páginas duplas de publicidade na abertura. Oito!

Por um lado, fantástico, pois prova-se a aposta das marcas e produtos na imprensa. Mas oito páginas duplas seguidas? A partir da 4.ª página, alguém viu os produtos anunciados, ou limitou-se a folhear as páginas com rapidez, para começar efectivamente a ler a revista?

Todos sabemos o papel fundamental que a publicidade desempenha na viabilidade económica de todos os órgãos de comunicação social. Todos os clientes e consumidores desejam e estão preparados para serem receptores dessas mensagens de publicidade. Mas penso que devemos ter um cuidado adicional na gestão desta questão, pois tudo o que é de mais, é de mais!

Por Ricardo Florêncio, Director Editorial marketeer

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