Não nos infectem de morte!

M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer

Quando a quarentena nos atirou para dentro de nossas casas, fiz um apelo às marcas. Lembrando a campanha da GM no pós-11 de Setembro, pedi aos marketeers deste País: “Keep Portugal rolling”.

Desde há mais de duas décadas que a Marketeer tem sido referência a contar histórias de marcas. Pequenas, grandes, globais, mais locais. Algumas, e também desde há anos, têm sido parceiras e esteio, investindo e apoiando no papel e no online, nas conferências e nos eventos.

Nesta fase, houve as que continuaram e as que saíram. As que se entregaram a causas e acabaram por descuidar os meios. Só que o meio ainda é a mensagem. E não será possível continuar a passar mensagens de marcas se os Media forem atingidos de morte pela pandemia que se mantém.

O Governo anunciou 15 milhões de euros para a comunicação social. Traduzidos em publicidade institucional e alocados em função dos investimentos publicitários que cada meio tinha reportado em igual trimestre do ano passado.

Não sei que contas é que o Governo andou a fazer. Não sei que contas é que o Governo acredita que se fazem em cada órgão de Comunicação Social para se continuar a produzir conteúdos, comprar papel, editar jornais e revistas, garantir a distribuição, pagar a jornalistas, fotógrafos, gráficos… Mas o que sei é que as contas que fez estão bem distantes da realidade. Sim, em pouco mais de dois meses, houve empresas a fechar e títulos a serem adiados. Há lay-offs e despedimentos. E, inevitavelmente, alguns de nós ficarão pelo caminho. Por isso, senhor primeiro-ministro, seria bom que se voltasse às contas e se revisse melhor as somas e subtracções!

Muito mais quando as marcas, as que sempre investiram e todas as outras, vão esquecendo que é preciso continuar a construir isso mesmo: Marca. Que será imperativo regressar a campanhas e ao marketing. Que será fundamental fazer publicidade para que champôs, massas, telemóveis, detergentes, jornais ou revistas voltem a ser procurados e comprados, pela marca.

A ironia de tudo isto? É que nunca se consumiu tanta informação como hoje; é que há muito que os níveis de audiência e leitura não estavam tão altos; e há toda uma vasta audiência que poucos aproveitam.

Como escreve, e bem, Judite Mota, CCO da VMLY&R – umas páginas mais à frente nesta edição –, está na altura de se voltar ao trabalho. «O da criatividade, que faz mover os negócios, o do marketing, que impulsiona as vendas e faz mover a economia. Tal como colaborámos para fazer aquele filme em condições extremas, vamos colaborar para que a comunicação comercial possa voltar a fazer o seu trabalho. Vamos voltar a ser originais, construtivos, disruptivos, optimistas. Vamos construir marcas.» E vamos assumir que o marketing e as marcas têm um papel relevante na economia.

Talvez assim se consiga não infectar de morte a comunicação social em Portugal!

Editorial publicado na revista Marketeer n.º 286 de Maio de 2020

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