Miguel Osório: “Continente terá a política promocional mais agressiva”

osorio2A Marketeer falou com Miguel Osório, administrador da Sonae MC com o pelouro do Marketing. De acordo com as suas palavras, o reforço da inovação e da política promocional será a âncora para a empresa continuar a apresentar os mesmos índices de crescimento. Em particular, face à quebra de consumo privado e à cada vez maior competitividade do mercado.

Com tantas mudanças nos principais pa­radigmas do retalho, que foram ainda acom­panhadas de alguma quebra no consumo pri­vado, que estratégia será seguida pela Sonae MC para continuar a reforçar a sua quota?

A quebra do consumo privado é um desafio muito grande para todos os retalhistas e, sobre­tudo, para aqueles, como o Continente, que há mais de 25 anos ocupam a liderança do sector. Num mercado tão competitivo como o retalho só se consegue este track record com uma atitude de constante inovação, de contínua vontade de fazer melhor, de encontrar os melhores parcei­ros, sempre focados nas necessidades dos clien­tes. É esta proximidade com os nossos clientes que nos permite levar as melhores soluções de poupança, as melhores ofertas, para passar por estes períodos da melhor forma possível.

Se o fizermos bem, se o fizermos melhor que os outros operadores, de forma clara, sustentada, a quota de mercado sairá com certeza reforçada.

Desde o ano passado tem vindo a avançar para novos formatos – como o Meu Super ou Continente Ice. Que importância, até à data, no total dos resultados da Sonae MC?

É um processo ainda em fase inicial pelo que, para já, é prematuro avançar com resulta­dos. São novas avenidas de crescimento que es­tamos a testar, a avaliar, a afinar. Oportunamen­te teremos oportunidade de partilhar resultados.

Neste momento já cobrem praticamente todos os formatos de retalho, tendo em conta que reforçaram também no negócio grossis­ta, lojas de conveniência e franchising. E a estratégia que remonta a 2008 previa acele­rar o crescimento também com a realização de parcerias. São de esperar novos formatos?

Ao longo dos anos temos demonstrado estar atentos a novas oportunidades que respondam às diversas necessidades dos consumidores. A inovação é um valor que levamos muito a sério e que tem pautado a nossa actuação, pelo que é sempre expectável que surjam novas apostas, seja em conceitos de loja, novos formatos, novos serviços ou em produtos Continente (Continen­te Gourmet, Continente Mobile, Seguros Conti­nente, Férias no Algarve Continente, Continente Ice, Meu Super, Vice-Versa com a Galp…).

No primeiro trimestre, os negócios do grupo comportaram-se de forma positiva face ao mercado. Acredita que o segundo se­mestre terá idêntico desempenho?

Continuamos a viver momentos de incerte­za, fruto do clima de austeridade que pode afec­tar o comportamento dos consumidores, mas es­tamos focados em manter os nossos objectivos de crescimento, prosseguindo com medidas estra­tégicas que privilegiam, entre outros aspectos, o reforço da componente internacional do grupo.

Alguns indicadores recentes revelam que o Continente facturou mais que o Pingo Doce, mas a Jerónimo Martins foi mais eficiente, conseguindo tirar melhor rendimento das lo­jas. Que comentário?

O melhor indicador é a preferência dos clientes expressa na quota, onde somos líderes, e na confiança que todos os dias depositam em nós – aliás reconhecidos este ano pela 9.ª vez consecutiva como a marca de retalho em que os portugueses mais confiam.

Estamos atentos, como é óbvio, à nossa con­corrência, mas a missão do Continente é estar próximo dos clientes, oferecendo-lhes inovação constante, os melhores serviços e produtos aos melhores preços, através de uma experiência de compra excepcional e de uma actuação ética e sustentável, sendo a marca líder no retalho ali­mentar em Portugal.

Entretanto, têm vindo a apresentar caba­zes de produtos Continente de preço baixo. É um compromisso a manter? Têm conseguido chamar novos clientes à insígnia?

O Continente é uma marca de contexto, como referia, que nos momentos mais difíceis está ao lado dos seus clientes, apresentando so­luções que facilitem o seu dia-a-dia. Todos sa­bemos que os próximos anos irão ser difíceis, o nosso trabalho é torná-los o menos difíceis pos­sível dentro das áreas onde actuamos. Com 150 milhões de transacções/ano, temos uma grande responsabilidade à qual não ficamos indiferen­tes. O nosso compromisso é oferecer sempre os preços mais baixos do mercado e, em cima disto, a mais agressiva das políticas promocionais. Se conseguimos criar oportunidades e gerar valor, independentemente de termos os melhores pre­ços de prateleira, vamos partilhar esse valor com os nossos clientes.

O Cartão Continente, com as suas mais de 3 milhões de famílias, tem sido um instrumento de poupança fundamental. Além disso, as suas múltiplas formas de contacto permitem-nos en­tregar valor de forma mais “personalizada”, de acordo com o perfil de cada tipologia de clientes; esta personalização é fundamental porque traz­-nos a relevância tão importante e necessária. É esta relevância crescente que explica o suces­so da ferramenta, os níveis de adesão de novos clientes e os níveis de fidelização crescentes às nossas lojas dia após dia.

Depois da fusão das duas marcas, Mode­lo e Continente, como é que está a imagem de marca? Ganhou em valor e notoriedade con­forme o previsto?

O resultado tem sido muito positivo e de acordo com aquelas que eram as nossas expectativas, e as expectativas dos nossos clientes. De facto este processo de unificação era, de algum modo, antecipado e preparado. Antes de mais pela associação do Modelo ao Continente decor­rente da associação ao Grupo Sonae. Por outro lado, as duas marcas já partilhavam um conjun­to de serviços/ofertas: produtos marca própria, iniciativas promocionais, o próprio cartão de fidelização ou as políticas de serviço ao cliente.

Esta naturalidade traduziu-se em resultados espectaculares desde a primeira hora, seja em termos de notoriedade, de buzz nas redes so­ciais, de envolvimento com as comunidades e, naturalmente, no reforço expressivo das quotas de mercado região a região. Como é que passou a ser percepcionada? Não perdeu clientes?

Obviamente que estamos a falar de mar­cas, de percepções que são moldadas ao longo dos tempos, das experiências e, parecendo que não, a marca única Continente ainda tem poucos “dias” de vida. De qualquer forma, os primeiros estudos mostram que o Continente é percepcio­nado como cada vez mais próximo das pessoas, das suas necessidades. A proximidade física dos formatos tem um papel importante, mas estou convencido que há uma migração clara dos va­lores mais emocionais da marca Modelo, de pro­ximidade com as comunidades onde estamos.

O Continente continua a ser líder no in­vestimento dos anunciantes, segundo dados do “ranking” Mediamonitor, da Marktest. Este nível de investimento manter-se-á?

O Continente não se pode esconder e alhear em anos em que o contexto é mais com­plexo. A nossa história, bem como de outras grandes marcas, tem demonstrado que estes momentos são exigentes, mas excelentes opor­tunidades para reforçar os laços de confiança com os nossos clientes e, por essa via, garantir uma liderança reforçada e sustentada nos anos seguintes. Dentro deste raciocínio iremos con­tinuar a investir dentro daquela que tem sido a nossa política, com atenção especial para novos formatos, novos meios e novas formas de ex­pressão da marca, como foi o caso mais recente do Mega Pic-Nic Continente.

Obviamente que teremos cada vez mais a preocupação de sermos mais eficientes a passar as mensagens mais relevantes, para os targets certos, nos meios certos. De notar, também, a cada vez maior importância da comunicação dirigida aos detentores do Cartão Continente; é provavelmente o meio de comunicação mais efi­caz em Portugal hoje em dia.

E as iniciativas como o Mega Pic-Nic?

A nossa principal preocupação é gerar bene­fícios concretos para os consumidores. O Conti­nente está mais presente, próximo e focado nos clientes, pelo que a aposta em grandes iniciativas que mobilizem os portugueses – seja pela solida­riedade, como, por exemplo, a Missão Sorriso, seja pela participação em eventos ímpares como Mega Pic-Nic – é muito importante para nós.

Os números destas iniciativas espelham não só o seu sucesso, como também o envolvimento e investimento da marca. A Missão Sorriso já an­gariou, desde 2003, perto de 5 milhões de euros, que se traduziram no apoio a 33 Unidades de Pe­diatria e Hospitais Pediátricos, com mais de 1500 equipamentos oferecidos.

O Mega Pic-Nic juntou, este ano, mais de 500 mil pessoas na Avenida da Liberdade, para conhecer o que de melhor se produz em Portu­gal e para assistir ao concerto de Tony Carreira. Poucas marcas têm a capacidade de fazer acon­tecer um evento desta dimensão, e não tem a ver com a capacidade financeira, mas a capacidade de, em torno de um objectivo maior, neste caso a produção nacional, mobilizar vontades, energias e fazer acontecer da forma que o País viu e sentiu.

Leia a versão completa da entrevista na edição de Julho 2011 da Revista Marketeer

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