Mentes e Máquinas: duas faces da mesma moeda

Por Paulo Soberano, Operations director – IT Services da Inetum Portugal

No dia 25 de Junho de 1921, o autor checo Karel Capek introduziu pela primeira vez ao mundo o termo ‘robot’ na sua peça de ficção científica Rossum’s Universal Robots (R.U.R.). Hoje, mais de 100 anos depois desta primeira aparição no nosso vocabulário, o termo robot salta de um mero conceito de ficção científica para a realidade diária de milhares de pessoas em todo o mundo.

A palavra ‘robot’, por definição, traduz-se em ‘trabalho forçado’. Desde os tempos de Aristóteles, e das suas ideias sobre ‘ferramentas automatizadas’, a Leonardo Da Vinci, e o seu famoso cavaleiro mecânico, esta foi sempre a visão que os Humanos adoptaram para a concepção destes engenhos artificiais – a criação de mecanismos que tenham a capacidade de realizar tarefas de forma autónoma, substituindo ou auxiliando os seres humanos nas mais diversas actividades do dia a dia.

Chegamos assim ao século XXI. De Roombas (aspiradores automáticos) à famosa Sofia (primeiro robot humanóide), nos dias de hoje temos inúmeros robots à nossa disposição. Mas a magnificência destes engenhos leva-nos, muitas vezes, a esquecer que os robots podem ser simples peças de software, pequenas e subtis, capazes de transformar por completo as nossas vidas pessoais e profissionais. Talvez a forma mais evidente como estes mecanismos vieram revolucionar as nossas vidas foi a capacidade de funcionamento próprio sem a necessidade de interferência humana. Aqui, a palavra-chave é ‘automação’ – uma das principais características do ‘ADN’ dos robots – permitindo-nos alocar a nossa atenção a outro tipo de tarefas mais interessantes.

Há quem discuta que esta automação vem instaurar uma nova era de liberdade para os seres humanos, libertando-nos para nos focarmos no que realmente interessa: a procura por mais e melhores formas de simplificar os processos do nosso quotidiano, claro! É realmente uma procura insaciável. Vivemos uma realidade verdadeiramente irónica onde assistimos à criação de robots que, por sua vez, têm também a capacidade de criar outros robots. É um círculo vicioso.

Mesmo que involuntariamente, criámos extensões do corpo e mente humana – e não substitutos do mesmo como inicialmente idealizámos. Acompanhando a reflexão de Platão, “os indivíduos vão deixar de exercitar a memória porque começam a depender daquilo que está escrito” e, indo mais longe, vão também deixar de caminhar porque criámos carros e vão deixar de rir em voz alta porque criámos emojis. Onde podemos estabelecer o limite? Estaremos alguma vez satisfeitos com os frutos do nosso engenho? De produtos desenhados para cumprir o nosso trabalho forçado, a catalisadores da procura insaciável por mais e melhor. O feitiço virou-se contra o feiticeiro e, hoje, somos nós os escravos destas máquinas e da procura por novas dimensões da capacidade das mesmas. Inevitavelmente, tornámo-nos escravos das nossas próprias criações.

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