Marcas precisam focar-se na geração Alpha para sobreviver, alerta especialista

As gerações Alpha e Z – os que nasceram entre 1997 e 2009 (Z) e os que nasceram nos últimos anos até hoje- têm forçado marcas a repensarem estratégias para manter relevância num cenário onde o comportamento, as causas e o consumo mudam a um ritmo muito rápido.

Ainda assim, num mercado essencialmente direcionado para a geração Z, é preciso que as marcas e as empresas comecem a mudar o foco para os Alphas.

A geração que está a emergir é a do futuro. O consumo vai ser deles e, por isso, as estratégias de marketing deverão começar a mudar nesse sentido. De acordo com a pesquisa Gen Alpha Into Reality, realizada pelo grupo Alexandria, os hábitos e valores desta geração exigem uma adaptação urgente das marcas.

Atualmente, são eles os grandes decisores de compras: 94% dos pais millennials querem que os filhos tenham opiniões ativas sobre as decisões de consumo da família, o que significa que as marcas precisam considerar as preferências das crianças, ao desenvolver as estratégias de marketing.

Para a geração Alpha, por exemplo, a publicidade tradicional, marcada por interrupções, perdeu completamente a relevância. “Anúncios que invadem o que eles estão a fazer são ignorados de forma automática”, apontou o Tiago Cunha, consultor sénior do Grupo Alexandria, numa entrevista a um site internacional.

Estes são os insights sobre a Geração Alpha para aplicar, segundo este relatório, o quanto antes:

Publicidade imersiva

Esta é uma geração que prefere conteúdos integrados, nos quais a mensagem publicitária seja parte orgânica da experiência. “Plataformas como o Roblox ilustram essa tendência, sendo espaços não apenas para socialização, mas também para experiências interativas e educativas proporcionadas por marcas”, explica Tiago Cunha.

Para impactar essa geração, as marcas precisam ir além de campanhas tradicionais e investir em experiências interativas, imersivas e autênticas.

As questões sociais continuam relevantes, mas com nuances diferentes. Tiago Cunha afirma que a Geração Z cobra das marcas causas e questões sociais. Por outro lado, a Alpha cresce mais conservadora em alguns aspetos, mas muito incisiva no que pretende.

Os Alphas não só consideram a emergência climática como uma realidade, como demonstram um crescente interesse em trabalhar em setores ligados à sustentabilidade. Para as marcas, isto significa que mensagens de impacto ambiental não podem ser genéricas: “Não é sustentabilidade, é crise climática”, frisou.

A fragmentação cultural e o impacto nos ícones

Com a influência das redes sociais e da distribuição digital, os ícones culturais tornaram-se mais fragmentados.

Além disso, as crianças de hoje têm relações mais fluídas com as gerações anteriores: “Os ícones da geração podem ser de outras gerações. Uma criança pode adorar Led Zeppelin, por exemplo”. Essa dinâmica cria desafios para marcas que antes dependiam de influencers para centralizar as campanhas.

Reposicionamento constante para marcas jovens

Uma estratégia clara é pensar no portfólio de forma a atender tanto as exigências emocionais como as funcionais. Um exemplo disso é quando “a marca mistura benefício emocional com o funcional, trazendo indulgência com funcionalidade”, como observado no mercado de refrigerantes. Esta abordagem permite que as marcas se conectem tanto com consumidores nostálgicos como com os que procuram inovação.

Padrões de consumo e relevância ideológica

A geração Alpha é guiada por mais do que fidelidade às marcas. A lealdade está nas mensagens, ideologias e valores que ressoam nas suas vivências. “Não é sobre a marca, mas sobre o que ela representa. A mensagem precisa ser relevante para gerar conexão”, destaca o especialista.

A nostalgia, por exemplo, é um elemento que conecta millennials e Alphas, criando pontes emocionais entre gerações. Os ténis Adidas Samba, como exemplo, transcenderam a importância histórica para conquistar novos públicos pela tradição e pelo resgate simbólico.

As marcas que se posicionam como jovens, constantemente reposicionam-se para manter essa identidade. No entanto, ao mesmo tempo em que elas querem permanecer jovens, os jovens da Geração Alpha procuram um apelo nostálgico.

Influencers virtuais e a nova relação com a autoridade

Outro ponto relevante é como estas gerações percebem os influencers virtuais. “Se o influenciador virtual diz algo que faz sentido é aceite com naturalidade”, refere Tiago Cunha.

Esse comportamento abre espaço para que marcas experimentem com influencers gerados por IA, especialmente em campanhas dirigidas à Geração Alpha.

Os novos consumidores

“Os filhos da geração Millennials são criados num ambiente de horizontalidade familiar. Não é mais uma educação imposta, mas uma interação baseada em psicologia positiva, com diálogo e participação ativa. Isso faz destas crianças verdadeiros mini shoppers”, acrescenta o especialista.

Tiago Cunh refere ainda que as marcas precisam olhar para as crianças de hoje como parte do processo de decisão de compra, ao lado dos pais. “Quando pensamos numa viagem, na compra de um carro ou mesmo na cesta do supermercado, as crianças estão envolvidas. Elas pesquisam, opinam e participam como nunca. É uma educação participativa e horizontal”, afirmou.

A influência da maturidade dos adultos e dos códigos visuais

Tiago aponta ainda que o conceito de infantilidade como conhecíamos já não é o mesmo. “Os ícones de entretenimento infantil, como a Pocahontas dos anos 80, praticamente desapareceram no formato clássico. Hoje, personagens e produtos seguem um campo estético muito mais alinhado à virtualidade e às experiências digitais”, destacou.

Essa mudança tem impactado também o design de embalagens. Um exemplo é uma consultoria realizada para uma grande marca de iogurtes, que estava presa a uma binaridade tradicional em seus produtos infantis. A solução foi migrar para uma estética mais “adulta” e conectada às experiências digitais dessa geração, aproximando as crianças dos códigos de consumo atuais.

Outra diferença é a relação com a educação, que tem impacto direto na maneira como as marcas comunicam conteúdos educativos. “A nova geração quer uma aprendizagem hands-on, com protagonismo. Modelos verticais de ensino frustram as crianças, que preferem abordagens transversais e interativas”, explicou.

A adaptação às novas realidades do consumo infantil exige criatividade, empatia e um olhar atento às transformações culturais e tecnológicas. Entender os códigos estéticos e os comportamentos dessa geração é essencial para criar produtos, embalagens e experiências que realmente dialoguem com elas.

“O futuro do marketing infantil não será sobre trazer o passado de volta, mas sobre construir novos caminhos alinhados às expectativas e à realidade das crianças de hoje. Sempre de forma imersiva”, concluiu.