“Make Instagram Instagram Again” ou Make Instagram Survive?
Por Marco Gouveia, consultor e formador de Marketing Digital, CEO da Escola Marketing Digital e autor do livro “Marketing Digital: O Guia Completo”
Provavelmente, já se terá deparado com a petição online “Make Instagram Instagram again”, que surgiu na semana passada. Em caso contrário, fica aqui uma breve descrição do que se trata: é uma petição online criada pela fotógrafa e influenciadora Tati Bruening, que pede o regresso do antigo Instagram.
Tudo se deve às recentes alterações feitas na plataforma, especialmente ao longo do último ano. O surgimento do TikTok e o seu crescimento exponencial levaram os responsáveis pelo Instagram a fazer alterações na aplicação de modo a que esta se assemelhasse cada vez mais à app chinesa: nomeadamente, os Reels, o fim do Feed cronológico, o desfavorecimento das publicações de fotografias, os posts sugeridos etc. Todas estas mudanças que estão a tornar o Instagram uma espécie de cópia do TikTok resultaram num pedido directo à rede social para que traga de volta o Feed cronológico, diminua os posts sugeridos e que ouça os criadores de conteúdo.
Até ao momento, a petição conta com mais de 280 mil assinaturas e conseguiu chamar a atenção de nomes conhecidos como as irmãs Kardashian, que também estão a favor. Note-se que a influência de Kylie é tão significativa na internet que, em 2018, um simples tweet em que perguntava aos seus seguidores se “alguém ainda abria o Snapchat?” fez com que a rede social perdesse 1,3 mil milhões de dólares em valor de mercado. Talvez por isso, Adam Mosseri, head of Instagram, um dia após Kylie Jenner e a sua irmã Kim Kardashian se pronunciarem contra as novas mudanças que o Instagram tem vindo a fazer, justificou-se num vídeo onde explica estas mudanças na rede social e diz que, embora continuem a tentar colocar as publicações dos seguidores no topo do Feed e das Stories, também vão «precisar de evoluir, porque o Mundo está a mudar rapidamente» e também terão de mudar com ele.
A questão é que muitas pessoas colocaram um grande esforço nos últimos anos da sua vida para construir uma audiência no Instagram, tendo os seus negócios dependentes – muito ou pouco – dele. Portanto, quando o alcance das suas publicações é desfavorecido por conta destas novas alterações, é normal que se revoltem. Continuam a despender muito do seu tempo a produzir conteúdo de qualidade para o seu público, porém, o conteúdo chega apenas a uma escassa parte deste, afectando directamente o seu negócio. (Por isso, desde sempre defendi que os proprietários de negócios não devem depender exclusivamente de uma rede social, devendo, antes, criar uma sólida base de contactos.)
Ainda assim, mesmo quem não tem o seu negócio dependente do Instagram e é um mero consumidor na plataforma, está no Instagram porque quer estar no Instagram; se quisesse estar no TikTok, Facebook ou Snapchat, não estaria no Instagram. Daí o descontentamento dos utilizadores no geral: “Não precisamos de outro TikTok, só precisamos do Instagram de volta.” As pessoas querem ver fotos dos seus amigos e não vídeos de pessoas que não seguem, sugeridos por um algoritmo.
Por outro lado, Adam Mosseri alega que o afastamento do formato de fotografia em direcção ao vídeo é gerado pelos próprios utilizadores e que, à partida, o Instagram não lhes mostra conteúdo de que não gostam – se o faz, é porque estão a fazer um mau trabalho! A quantidade de tempo que as pessoas passam a assistir a Reels – inclusive vídeos recomendados por algoritmos – cresceu 30% no último trimestre (contudo, este aumento não terá sido causado pelo próprio Instagram, ao favorecer o alcance dos Reels em detrimento dos outros formatos?).
As ameaças ao domínio da empresa só aumentam: o TikTok é a aplicação com mais downloads do mundo, o site mais popular e a empresa de vídeo mais assistida. As redes sociais que não se actualizam, que não se adaptam aos tempos, que não evoluem, acabam por entrar em desuso – isso é certo -, por isso, não é de estranhar esta tentativa de evolução do Instagram. No entanto, após estes recentes acontecimentos, a empresa parece estar a recuar. A versão de teste que estava em andamento, que colocava fotos e vídeos em tela cheia (à semelhança do Tiktok) será descontinuada nas próximas semanas, e o número de publicações recomendadas irá também diminuir.
Adam Mosseri afirmou ao The Verge que está feliz por terem arriscado e que se não falhassem de vez em quando, era sinal de que não estavam a pensar grande ou ousado o suficiente, mas, ainda assim, precisam de dar um grande passo para trás e “reorganizar-se”. Portanto, não há dúvida de que o Instagram está a ouvir os seus utilizadores. Agora, qual será o seu próximo passo? Ouvir as pessoas e recuar perante o progresso ou assumir o risco, indo contra grande parte dos utilizadores, e lutar pela sustentabilidade do seu negócio a médio-longo prazo? Estamos curiosos para ver. O que faria desse lado?