Mais é cada vez mais de mais

judite-mota

Um dia tem 24 horas, 1460 minutos, 86 400 segundos e todas estas imagens postadas numa única rede social.

No fim do ano passado, Erik Kessels (o director criativo da KesselsKramer) decidiu imprimir todas as fotografias carregadas no Flickr num período de 24 horas. Com as impressões encheu uma sala do Foam Museum em Amesterdão, criando uma instalação impressionante.

Podemos imaginar que neste mar de imagens há seguramente arte partilhando o espaço com lixo. Talvez um retrato fabuloso lado a lado com imagens desfocadas de grupos de amigos alcoolizados, e gatinhos e bebezinhos. Graças ao formato digital, a massificação da fotografia é natural. Todos podemos ser fotógrafos, curadores e galeristas no espaço de minutos ou até segundos se a largura de banda colaborar.

Da mesma forma que nos anos 80 achámos maravilhoso poder escolher entre 20 marcas de shampoo diferentes e dentro dessas 20, entre 40 especificações indicadas para cada característica capilar, achamos reconfortante saber que há mesmo uma app para tudo – neste momento são 500 mil disponíveis e todos os dias há mais.

Não nos importamos de massificar até a amizade, e contar menos de 500 amigos no Facebook é ser um fracasso social. Não importa que no caso de precisarmos de um ombro para chorar de verdade ele apenas chegue em forma de 🙁 .

Há cada vez mais informação útil, inútil e fútil que temos que consultar, postar e partilhar como se o pobre Descartes tivesse de ser subitamente corrigido: “Twitto, logo existo”.

Mas quando é que mais é de mais? Quando vai ser impossível navegar no mar de twitts, posts e uploads e encontrar o que realmente nos interessa? Se o Google já reconhece o meu perfil de buscas e começa a dar-me apenas resultados que me correspondem, onde fica a descoberta? A aprendizagem? A liberdade de escolher? Mais informação não é necessariamente melhor informação.

Informação editada é quase censura.

Acredito que o universo tem tendência para se reequilibrar naturalmente e o universo digital também encontrará o seu equilibrio na forma de um qualquer algoritmo. Enquanto isso, cabe-nos a nós perceber a tempo quando é que mais é de mais. Ou podemos sempre partilhar da opinião da artista P. Umbrico, “A quantidade de imagens online é que é o sublime, não cada imagem em si. A impossibilidade de visualizar biliões de imagens no Flickr ou no Facebook, e portanto a incompreensão gerada por este universo visual massivo, é isso o sublime”.

Ou se quisermos, numa nota mais pragmática em defesa do universo digital, o comentário de um adolescente ao ver a instalação do Foam por cima do meu ombro: “Quantas árvores estão aí?”

Texto de Judite Mota, directora criativa Young & Rubicam Redcell

Fotografia de Paulo Alexandrino

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