Mãe depois dos 40
São muitas as mulheres que, hoje, por várias razões, desejam ser mães após os 40 anos. Embora a maternidade seja uma opção pessoal, a fisiologia poderá dificultar esse desejo de ser mãe mais tarde.
Por Teresa Branco, Directora e Fisiologista na Gestão do Peso
Para perceber melhor como poderá ultrapassar essas questões fisiológicas, é importante ter um melhor conhecimento acerca do corpo feminino e o funcionamento seu metabolismo. Como funciona o corpo da mulher Ao longo da vida o metabolismo da mulher vai-se alterando de acordo com as diferentes fases, e com essa alteração a predisposição para engravidar também. É durante a idade jovem adulta que a mulher, normalmente, tem mais facilidade em engravidar, pois as suas hormonas estão na sua produção máxima, promovendo as condições necessárias para que exista a fecundação e a gravidez.
Após os 35 anos, a mulher, regra geral, começa a ter alterações no seu metabolismo, relacionadas com as hormonas femininas, que a levam a ter menos facilidade em engravidar.
À medida que a idade avança, já nos 40 anos, essas alterações são ainda mais acentuadas, o que significa uma ainda maior dificuldade, tanto em engravidar, como na evolução da gravidez.
Isto acontece porque, com o avançar da idade, algumas das hormonas tendem a diminuir a sua concentração, porque as glândulas que as produzem não conseguem assegurar os níveis ideais, como faziam quando mais jovem. Um estilo de vida saudável é uma grande ajuda no controlo do sistema hormonal, levando a ter défices hormonais menos acentuados em todas as idades, mas, principalmente, nas mais avançadas. A dieta apropriada, a prática regular de exercício, a suplementação com vitaminas e minerais certos poderão ajudar a controlar as hormonas e potenciar o seu metabolismo em
qualquer idade. O segredo é perceber qual é a estratégia certa para cada pessoa e adequá-la, potenciando a sua saúde e qualidade de vida.
Quando as hormonas e, consequentemente, o seu metabolismo estão num nível óptimo, o corpo está saudável, eficiente, energético e forte e isto promove um beneficio ao nível da fertilidade. Basta apenas um pequeno desequilíbrio, que acontece em qualquer idade, para provocar alterações ao nível da reprodução. Para que o sistema reprodutor esteja facilitado é necessário que todo o metabolismo esteja optimizado e isso requer um equilíbrio ao nível de todo o organismo e por isso todos os sistemas e hormonas devem estar organizados. Com o avançar da idade, a hormona
do sono – melatonina – desce, tal como acontece com a hormona do crescimento e com as hormonas tiroideias. É devido aos níveis de melatonina descerem que, à medida que se envelhece, se dorme menos horas, mesmo que tenha disponibilidade para dormir mais. Acorda mais cansada e os níveis de energia descem.
Como dormir melhor
Recomendam-se suplementos à base de melatonina e valeriana para melhorar a qualidade do sono. Estes não causam dependência e melhoram significativamente a qualidade de vida! A diminuição da hormona do crescimento, que acontece com o avançar dos anos, desacelera o metabolismo, promovendo uma menor predisposição para engravidar e, consequentemente, permitir que a gravidez se desenvolva da melhor forma. O exercício físico e um sono reparador são fundamentais para que a mulher possa ter os níveis adequados de hormona do crescimento.
Os níveis de DHEA – hormona conhecida como uma hormona “anti-aging” – também diminuem, bem como o cortisol, a aldosterona, os estrogénios, a testosterona e a progesterona. Com esta diminuição as mulheres começam a ter menos predisposição para engravidar. Os especialistas nesta área podem repor estas carências hormonais, mas o estilo de vida é fundamental para diminuir este défice e
proporcionar o equilíbrio na mulher.
Outro factor comum é uma deficiência na função tiroideia, ou seja, a incapacidade de produzir hormonas através da tiroide, o que diminui o metabolismo e provoca alterações na função dos ovários.
Também isto conduz a uma menor predisposição para engravidar. O bom metabolismo também está muito dependente da forma como são absorvidos os alimentos e do uso que lhe faz. Curiosamente,
as absorções dos micronutrientes e macronutrientes fazem-se no intestino, tornando este órgão fundamental no controlo da saúde.
O stress é outro dos grandes inimigos. Por norma, em fases em que a mulher poderá estar sujeita a stress crónico, tende a ter mais dificuldade em engravidar e, quando sujeita a stress agudo (situações de stress muito intenso), essa dificuldade torna-se ainda muito maior.
As questões emocionais também podem conduzir a situações de infertilidade, pela alteração do metabolismo. É importante perceber que as emoções geram respostas químicas no organismo, podendo desequilibrá-lo e promovendo a infertilidade. É na hipófise, glândula situada numa região do cérebro, que se produzem as hormonas que potenciam o funcionamento das gónadas – glândulas que produzem hormonas sexuais –, conhecidas como os ovários e os testículos. A LH e a FSH são as hormonas produzidas na hipófise anterior e que vão estimular os ovários e os testículos.
A FSH vai estimular a produção do óvulo, pelo ovário, na mulher, e estimula também a produção de espermatozóides pelos testículos no homem. A LH estimula a formação do corpo lúteo e no homem estimula a produção de testosterona. A hipófise também produz a prolactina – hormona que estimula a produção do leite. Assim, a prolactina estimula a produção do leite nas glândulas mamárias,
mas é a ocitocina que promove a sua libertação. Por isso, as duas hormonas são muito importantes no processo de amamentação e desenvolvimento do bebé.
As hormonas LH e FSH, produzidas na hipófise e referidas anteriormente, estimulam as células dos ovários a produzir os estrogénios. Todos os meses e, na fase fértil, os estrogénios provocam o amadurecimento de um dos óvulos do ovário, fenómeno que recebe o nome de ovulação. Após este processo, o ovário produz então progesterona. A relação entre a produção de estrogénios
e progesterona é fundamental no equilíbrio do nosso metabolismo e nas questões da fertilidade.
À medida que a mulher envelhece, estas glândulas, referidas anteriormente, tendem a ficar cansadas e verifica-se um défice das hormonas por elas produzidas. Assim, é muito importante avaliar a sua função, através de exames ao sangue, ou através dos sintomas que tenha e, posteriormente, restabelecer o equilíbrio necessário a um bom funcionamento.
Artigo originalmente publicado na edição de Novembro de 2017 da revista KIDS