Luís Montez: “Gostava de ter uma rádio informativa”

Luís MontezA Nostalgia está no ar nas frequências 90.4 e 91.0 em Lisboa e Porto, respectivamente. A mú­sica, das décadas de 60, 70 e 80, é o fundamental da estação que, ainda assim, tem espaço para in­formação ao longo de todo o dia. Uma rádio que se veio juntar a uma longa lista de títulos que Luís Montez tem vindo a reunir e que, em paralelo com os eventos da Música no Coração, funcionam em rede na área do entretenimento em Portugal. Certo é que a ambição no que toca a rádios não se fica por aqui e Luís Montez admite que «gostava de um dia ter uma rádio de informação».

Marketeer: O revivalismo que se vive em várias áreas, com produtos e programas que estão a voltar, pesou na decisão de renascer a Nostalgia?

Luís Montez: O que pesou mais foi o sucesso que a Nos­talgia tinha. Quando estive à frente da rádio na Media Capital, a Nostalgia era uma rádio que ti­nha uma enorme aceitação por parte do público, sobretudo nas classes A e B. Não sei se Portugal é um país saudosista ou não, mas o que é certo é que a rádio tinha muita força. Foi inexplicavelmente interrompida para dar lugar ao Rádio Clube Por­tuguês e, quando surgiu esta oportunidade, não quis deixar de aproveitar, porque já havia dados concretos, pelos longos anos de audiências que a rádio tinha, que é um formato de sucesso. Como os tempos para a Europa têm sido difíceis, penso que aumenta a nostalgia dos bons tempos e das grandes canções que eram as bandas sonoras des­ses tempos. As rádios de música vivem de canções e estas são canções que são sucessos testados em qualquer parte do mundo. Portanto a garantia do sucesso é quase certa. Foi uma questão de esperar até encontrar frequências disponíveis no Porto e em Lisboa para poder avançar com o projecto.

Marketeer: Foi fácil negociar a nível internacional com a NRJ?

Luís Montez: Já tinha tido uma boa relação com eles quan­do existia a Rádio Nostalgia. Eles conhecem-me, sabem que eu sou uma pessoa apaixonada por rá­dio e que tenho outros formatos. Fui a Paris, con­versámos e chegámos rapidamente a um acordo. Conhecia muito bem o formato. Tinha estado à frente dele… Quem faz um licenciamento tem sempre o receio que não sejam respeitadas as nor­mas. Mas eu já tinha dado provas, já nos conhecía-mos, por isso foi fácil.

Marketeer: Vai ser uma rádio de música?

Luís Montez: Sim. Temos noticiários de hora a hora, entre as 7 da manhã e as 21 horas. No drive time – das 7h às 10h e das 17h às 20h, altura em que as pessoas estão mais tempo no carro – temos sínteses infor­mativas também à meia-hora. Mas a rádio, o seu forte, é definitivamente a música e a boa disposi­ção dos animadores.

Marketeer: Fez um investimento de 3 milhões de euros para relançar a Nostalgia. De que forma se re­parte este valor?

Luís Montez: A compra de duas frequências, a montagem dos estúdios, a campanha em imprensa, internet e autocarros… O facto de eu ter mais rádios tor­nou mais económico o investimento do que criar tudo de raiz. Mas mesmo assim é significativo.

Marketeer: Há partilha de instalações?

Luís Montez: Algumas estruturas da parte de engenharia são as mesmas. A parte administrativa é comum. Partilhamos também o edifício, os estudos de mercado que fazemos, a redacção de informa­ção. Portanto, há aqui uma economia de escala. Eu quanto mais rádios tenho, mais económica é a operação de cada uma.

Marketeer: Quer comprar frequências noutras cida­des para expandir a Nostalgia?

Luís Montez: Não. O mercado em Portugal é muito pe­queno. E a Grande Lisboa e o Grande Porto é que permitem viabilizar os projectos. Tirando Lisboa e Porto é muito complicado. A população está nos grandes centros, no litoral. Mas a rádio é ouvida em todo o mundo na internet.

Marketeer: Que objectivos em termos de audiências?

Luís Montez: Quero ter ao final de um ano quatro pontos na audiência acumulada de véspera. Quero estar nos três primeiros lugares da classe A/B, entre os 45 e 55 anos.

Marketeer: Que outros dois players acompanharão a Nostalgia nesse pódio?

Luís Montez: A RFM e a TSF. Em termos deste target.

Marketeer:Como gere o vasto portefólio de marcas que tem em termos de rádio?

Luís Montez: É estimulante. Estamos todos juntos e o im­portante é desenhar o formato de cada rádio e respeitá-lo. Por outro lado, quando às vezes vejo ouvintes entrarem no edifício das rádios, só de olhar para eles já sei o que ouvem. Temos os ni­chos bem definidos. Temos desde rádios alterna­tivas, como a Radar e a Oxigénio, a uma de fado como a Amália… Quando as pessoas querem uma determinada rádio já sabem onde vão. A paixão reside aí no desenho do formato e atingir o cora­ção e as emoções de cada rádio. Esse é o desafio.

Marketeer: Qual é a rádio que o Luís ouve?

Luís Montez: Gosto muito de fado, gosto muito da Rádio Amália. Mas a Radar foi a primeira, quando eu comecei a minha aventura empresarial. Foi o pri­meiro filho e claro que tenho um carinho muito especial por ela. A Oxigénio é uma rádio linda, a Marginal uma rádio com charme, a SW TMN é a rádio do meu maior evento na Zambujeira do Mar. No Porto, a Rádio Era é a líder nos jovens do Grande Porto, com sobretudo música de dança, a Festival é uma rádio muito popular e tem uma ca­pacidade de mobilização do Grande Porto como eu não conheço mais nenhuma no mundo. É impressionante! É quase uma religião! Olho para estas rádios como se fossem a família, cada uma com a sua personalidade. Quando acordo de ma­nhã tenho muita vontade de ir para a rádio.

Marketeer: Qual a que ouve de manhã no caminho?

Luís Montez: De manhã tenho ouvido a Nostalgia, porque estamos a formatar a rádio. Mas ouço muito a SW TMN, quando levo os meus filhos no carro e eles querem ouvir a SW TMN, porque tem as músicas que eles mais gostam. Depois de os deixar no co­légio dou a volta por todas. A Marginal é uma rá­dio que eu gosto muito.

Marketeer: Comercialmente, como é feita a gestão? Têm equipas independentes?

Luís Montez: Cada rádio tem os seus vendedores e respon­sáveis comerciais. A Nostalgia tem o João Fonseca, que ficou com o exclusivo da comercialização. No Porto tenho um responsável que é o Joaquim Po­ças e nas outras rádios tenho a Margarida Baptis­ta, que chefia equipas de vendedores. Uns fazem contactos directos, outros falam com as agências. Cada vendedor tem que conhecer bem o produto e tem que vestir a camisola dessa rádio.

Marketeer: A sua rede de rádios fica completa assim ou ainda quer lançar mais?

Luís Montez: Já tenho suficientes. Mas gostava de um dia ter uma rádio de informação. Penso que é possível fazer uma rádio de informação. É uma rádio mui­to cara e acho que esta não é a altura económica para lançar essa rádio. A TSF é uma rádio muito boa e, para competir não é fácil, mas eu não gosto de coisas fáceis!

Marketeer: Quando é que acha que será a altura de lançar essa rádio?

Luís Montez: Eu sei quando é, mas não vou dizer.

Marketeer: De que forma as rádios ajudam a alavan­car os concertos e os festivais, outra das suas áreas de actividade na Música no Coração?

Luís Montez: É uma relação muito próxima e muito forte. Porque os concertos posicionam as rádios. Se eu trouxer o Caetano Veloso a cantar os seus suces­sos, a Nostalgia faz sentido, quando promovo o Cascais Cooljazz, a Marginal é a rádio perfeita para isso. Quando quero lançar novos músicos na área do Rock, a Radar é perfeita. Tudo o que são as novas tendências da electrónica, a Oxigénio é a rádio ideal. Os concertos posicionam as rádios e as rádios promovem os eventos, os concertos e, mais importante, dão-me informação dos artis­tas que devo trazer. Cada animador diz-me “Luís deves trazer isto”, “Olha aquilo”, “Isto está a ex­plodir”… Portanto, recebo muita informação da rádio para além da divulgação dos eventos e das músicas. Porque um dos problemas que poderia hipotecar o futuro da minha empresa de even­tos era ter chegado uma altura em que as rádios por causa das audiências só passavam sucessos. Haveria assim muito pouca divulgação de artis­tas novos. Os artistas novos tinham muito pouco espaço nas grandes rádios nacionais, porque es­tas não querem arriscar. Sabem que se passarem a Lady Gaga ou a Shakira têm mais possibilidade de vingar do que se passarem os Cut Copy ou os Franz Ferdinand. Eu não faço só Prince, só Kanye West, Jamiroquai, também faço concertos peque­nos. Se não tiver espaço para os divulgar, o futuro da minha empresa está em perigo. Da primeira vez que trouxe o Ben Harper a Portugal tocou para 150 pessoas na Aula Magna. Mais tarde esgotei o Pavilhão Atlântico com ele… para isso foi preciso haver uma rádio, na altura a XFM, que me divul­gou este artista. Como isso desapareceu tive que criar rádios para divulgar o novo talento. O que hoje é alternativo, amanhã é mainstream. Por isso é esta a lógica das rádios mais pequenas, de nicho. Mas que são os meus laboratórios…

Depois, claro, a rentabilidade que eu tenho nos festivais, nos concertos, invisto na rádio. É uma relação em rede.

Marketeer: Quantas pessoas trabalham para si neste momento nas rádios e nos eventos?

Luís Montez: Já pago 127 salários. Há pessoas da rádio que trabalham nos concertos e outras dos concertos que colaboram com as rádios. Como são todas rá­dios de música, toda a gente se entusiasma muito com a rádio e com os concertos.

Marketeer: Quando nasceu o seu amor pela música e pela rádio?

Luís Montez: Pela rádio foi enquanto estudava. Estudava muito ao som da rádio. Fazia noitadas, sobretu­do quando estava na faculdade e a rádio fez-me muita companhia. De tanto ouvir a estudar, às tantas já conhecia quase os ouvintes. Estava no Instituto Superior Técnico e a Rádio Comercial abriu concurso para novos projectos. Entreguei um projecto, ganhei. Comecei com a Maria Flor Pedroso, com o Nuno Santos, e fui por aí fora.

Marketeer: Aparentemente a Engenharia Civil e a Co­municação são áreas que não têm muito a ver!

Luís Montez: Aparentemente não. Mas a engenharia dá grande flexibilidade de raciocínio… A organiza­ção mental é completada com a emoção da mú­sica. A música é o meu escape e a rádio era, desde o princípio, o meu hobby. Às tantas o hobby co­meçou a sustentar a minha vida. Conheci os ar­tistas, organizei tournées… Penso que vim trazer à indústria alguma organização, algum método.

Marketeer: É uma pessoa organizada e metódica?

Luís Montez: Sim. Sou organizado, muito determinado e quando vejo algo que penso que é uma oportuni­dade e que faz sentido sou muito rápido a actuar.

Marketeer: Nos últimos meses foram lançadas a Vo­dafone.fm e a SW TMN. Há espaço para mais marcas apostarem em rádio?

Luís Montez: Sim. A rádio é um meio muito próximo, ouve-se muito no carro, faz muita companhia e é um meio excelente de divulgação de música. Se as marcas se querem associar à música para atrair targets mais jovens e criar empatia com as marcas, a rádio é um meio eficaz e muito econó­mico de o conseguir. Há mais marcas a apostar na música. Mas primeiro temos que sedimentar os projectos existentes. A TMN está muito satisfeita, mas queremos sempre fazer mais.

Marketeer: Fora disto, há espaço para mais rádios?

Luís Montez: Portugal tem uma grande oferta de rádios já, e muito variada. Muito mais que Espanha. Além de que em Portugal é muito profissionalizada e está muito desenvolvida e é muito competitiva. Acho que há lugar, como em todos os mercados, para coisas bem feitas. Já preenchi alguns espa­ços. Acho que faz falta uma boa rádio de música clássica que se preocupe em satisfazer os ouvintes e não os umbigos.

Marketeer: Vai apostar nessa rádio?

Luís Montez: Para já só penso na Nostalgia.

Marketeer: Já muitas vezes deram a rádio como mor­ta. Acha que a rádio está moribunda?

Luís Montez: A rádio está melhor do que nunca porque a rádio é o meio que melhor casou com a internet. A internet está a explodir e de todos os outros meios a rádio é a que permite estar a navegar e a ser ouvida. É fantástico ter ouvintes no Japão a ouvir a Rádio Amália. Como a TV em canal aberto está mais fraca de conteúdos, as pessoas estão a largar a televisão à noite e estão a navegar na net enquanto ouvem a sua rádio de preferência. A rá­dio, que perdia um pouco a partir das 20 horas, começou a ganhar ouvintes à noite precisamen­te porque a televisão está manhosa e com a rádio podem estar a fazer um trabalho, a escolher a pró­xima viagem. Os meus animadores, quando estão a fazer as emissões, estão agarrados ao computa­dor e ao Facebook, a responder e interagir com o auditório. Isso só é possível com a internet. Foi um casamento perfeito. Quanto mais cresce a in­ternet, a rádio acompanha.

Marketeer: Vai internacionalizar os seus formatos?

Luís Montez: Estou a pensar investir nos meus formatos na internet. Por exemplo a Rádio Amália é um for­mato que pode ser escutado na internet em todo o mundo. O meu objectivo é ter as rádios mais bo­nitas em Portugal

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