Liderança: O verdadeiro legado é feito de pessoas

Por Sónia Lage Lourenço, CEO do Portal da Queixa

No início de mais um ano é tempo de refletirmos sobre o papel da liderança nas empresas e no impacto que deixamos nas vidas das pessoas que connosco trabalham. Este momento de balanço não é apenas um exercício de análise de resultados, mas uma oportunidade para reforçarmos aquilo que deve ser o pilar central de qualquer organização: as pessoas. São elas que, com o seu empenho diário, não só fazem as empresas crescerem como desafiam os líderes a serem melhores.

No entanto, liderar não é uma tarefa simples, e nem sempre o esforço de um líder é visível ou reconhecido. Vivemos numa era marcada pela superficialidade das redes sociais, onde mensagens distorcidas podem criar perceções desalinhadas da realidade. Muitos colaboradores não compreendem as dificuldades por trás das decisões que um líder toma para equilibrar o bem-estar da equipa com os objetivos da empresa. É importante lembrar que a essência da liderança está em fazer o que é certo, mesmo quando isso não é popular ou evidente a curto prazo.

Mas, se a liderança é desafiadora, os colaboradores comprometidos são um alicerce fundamental para o sucesso. Aqueles que se dedicam diariamente ao seu trabalho, como se fosse a sua própria empresa, merecem o maior reconhecimento. São eles que elevam os padrões e garantem que, mesmo nos momentos mais difíceis, a empresa continua a progredir. É para esses colaboradores que os líderes devem direcionar os seus esforços, cultivando uma cultura de gratidão e valorização.

Como o Comendador Rui Nabeiro, um dos maiores líderes portugueses, dizia: “As pessoas são o mais importante em qualquer organização. Cuide delas, e elas cuidarão da sua empresa.” Este pensamento reflete a essência de uma liderança humanista, que não se limita a gerir processos, mas coloca as pessoas no centro de todas as decisões. Inspirado por esta filosofia, Nabeiro criou um império como a Delta Cafés, sempre com um profundo respeito por aqueles que contribuíram para o seu sucesso.

Por outro lado, a liderança também exige coragem e determinação para enfrentar os desafios com empatia e assertividade. Como afirmou Mary Barra, CEO da General Motors: “Não basta liderar com visão, é preciso liderar com humanidade. A combinação de ambos cria um impacto duradouro.” Esta abordagem reforça que, além de definir estratégias, os líderes devem construir ambientes que estimulem a confiança, o bem-estar e o crescimento pessoal e profissional das suas equipas.

Ao entrarmos em 2025, os líderes devem adotar práticas que fortaleçam a relação com os seus colaboradores. Estudos recentes indicam que empresas que promovem bem-estar e desenvolvimento humano têm equipas 21% mais produtivas e 37% mais comprometidas (Gallup, 2023). Apostar na formação contínua, no feedback honesto e em medidas que promovam a saúde mental e o equilíbrio entre vida pessoal e profissional será essencial. Liderar no próximo ano significa, acima de tudo, cuidar das pessoas.

Ainda assim, liderar nem sempre é tomar as decisões que gostaríamos, mas sim as necessárias. A produtividade pode variar, e nem todos os colaboradores reconhecem os benefícios que lhes são oferecidos. Nesses momentos, entra em cena a assertividade. Agir com firmeza, mas com justiça, é o que diferencia um líder eficaz de alguém que simplesmente gere. A assertividade não é sobre ser rígido, mas sobre ser claro e justo, mesmo quando o caminho é difícil.

Os desafios de liderar em tempos de incerteza, como os que enfrentamos atualmente, são imensos. As rápidas mudanças tecnológicas, a maior exigência por transparência e a pressão económica criam um ambiente onde liderar pessoas é mais desafiante do que nunca. Porém, é precisamente nesses momentos que os verdadeiros líderes se destacam, construindo relações sólidas e ambientes de trabalho que promovam o sentido de pertença.

E, ao encerrarmos este ano, é crucial deixar uma mensagem de incentivo. Para os líderes, que carregam o peso das decisões e das expectativas, e para os colaboradores, que se dedicam diariamente, o que realmente importa é a qualidade das relações que construímos. Passamos mais tempo com as nossas equipas do que com as nossas famílias, e isso faz do local de trabalho um espaço onde as pessoas devem sentir-se reconhecidas, valorizadas e realizadas.

No final, ninguém pode ser feliz se não se sentir orgulhoso do que faz. O trabalho é uma extensão da nossa identidade, um tema que partilhamos com amigos e família, e que reflete o nosso propósito. Que 2025 seja um ano em que líderes e colaboradores continuem a crescer juntos, enfrentando desafios com coragem e construindo legados que vão além de números ou resultados – legados feitos de pessoas.

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