Leonel Vieira: «Esta é a história do bom ladrão»


Leonel vieiraFoi um dos realizadores convidados pela TMN para produzir um filme para a campanha “Uma História Infinita” , que promove o Samsung Galaxy S 4. Habituado a estas andanças, desde que a sua produtora, a Stopline, entrou na área da publicidade, em 2008, Leonel Vieira abraçou o trabalho da TMN como um projecto pessoal.

O briefing do cliente (a TMN) era anormal e propositadamente vago. Foi-lhe apenas pedido que criasse um filme que comunicasse uma funcionalidade do Galaxy S4, a Sound & Shot, que permite adicionar som a uma fotografia. Além disso, no final do filme o protagonista teria que ficar, de alguma maneira, sem o telemóvel. Isto para dar forma ao conceito de “Uma História Infinita”, assinado pela Ogilvy & Mather. De resto, teve carta branca para fazer o que quisesse.

Com esta liberdade, decidiu criar um filme publicitário que, segundo o próprio, «poderia ser o genérico de um filme de cinema». O protagonista, um ladrão, corre nas ruas de Lisboa com o bem roubado, uma mala de senhora. Porém, no momento em que vê no telemóvel da lesada a fotografia de uma ecografia, decide devolver a mala a quem de direito.

Em conversa com a Marketeer, na apresentação da campanha, que decorreu em Lisboa, o realizador de filmes como “Zona J”, “A Selva” ou “Um Tiro no Escuro”, falou sobre o processo criativo e a mensagem da campanha para a TMN, que contou com a produção da Stopline.

Qual é o conceito do filme? Como é que interpretou aquilo que a TMN lhe pediu e o transpôs para um filme publicitário?

A diferença deste projecto de publicidade é que a TMN e a Samsung deram-nos liberdade total para fazermos o que queríamos. E, uma vez que somos realizadores de cinema, não trazer o cinema para a publicidade seria contrariar o que era o pressuposto. Ficarmos confortáveis no mundo da publicidade era fazermos mais do mesmo. Nesse sentido, o que eu procurei foi pensar numa história de cinema, como se fossem duas sequências de um filme, e filmá-lo como um filme cinematográfico, sem as preocupações estéticas que normalmente temos para a publicidade.

Procurei fazer uma história sobre a alma humana, sobre o denominador comum de todos os seres humanos. No momento em que vivemos de crispação social, desemprego e estigmatização dos maus e dos bons, dos ricos e dos pobres, quis mostrar que somos todos iguais. Todo o ser humano tem algo de bom, a conjuntura da vida é que nos empurra para um lado ou para o outro. Mas não é por isso que somo maus ou bons.

Como é que procurou passar essa mensagem?

Falando de algo que é universal: todos nos comovemos com o nascimento, com a origem da vida, seja um filho nosso ou de outra pessoa. Isso é uma condição que não depende do carácter da pessoa. Fui buscar algo que fosse muito elementar, forte e verdadeiro, para tocar as pessoas e contar uma história que não é plana, porque o protagonista é mau, mas também tem sentimentos bons. É a história do bom ladrão. Mas é um filme que nos faz pensar. Não podemos olhar para ele de forma distraída. É isto que o cinema tem de bom, obriga-nos a pensar e ajuda a mudar mentalidades.

Com um percurso tão ligado à ficção, quando é começou a produzir filmes publicitários?

Há cerca de cinco anos.

Porquê tão tarde? Por falta de interesse próprio ou de propostas?

Foi uma opção. E também não precisei, talvez. Logo quando fiz o “Zona J” [1998] recebi uma proposta para ir para uma produtora fazer publicidade. Mas como tive a sorte de poder fazer muito cinema – durante sete anos fiz um filme por ano -, não me sobrava tempo para mais nada. Sobrava tempo para fazer férias e voltar a filmar. Tive também muitas solicitações para fazer televisão, mas escolhi sempre o cinema. No entanto, nos últimos três anos estive afastado das longas-metragens e dediquei o meu tempo a produzir alguns projectos, inclusive para publicidade.

Hoje em dia, está mais por dentro da área. Qual a importância da publicidade na sua produtora, a Stopline?

Já fiz dezenas de filmes publicitários. Hoje em dia a publicidade é uma área importantíssima dentro da produtora. Começámos pela área do cinema, depois metemo-nos pelo mundo da televisão e da publicidade, que são actualmente as duas áreas mais fortes na produtora. No cinema somos mais fortes lá fora.

Qual o peso que a publicidade tem na facturação?

Este ano será muito equilibrado, mas provavelmente terá um peso entre 30 e 40% da facturação.

É muito selectivo na escolha dos trabalhos publicitários?

Eu entrei na publicidade para fazer tudo dentro dos padrões próprios desta área. Gosto da publicidade como um exercício de filmagem, de contar histórias. Mas é um desafio muito complexo. Nestes três anos em que deixei de fazer cinema e fiz publicidade, eduquei o meu cérebro, porque é preciso contar uma história em muito pouco tempo. E os desafios de filmar são enormes, de uma história para a outra tudo muda.

Hoje, a Stopline é a única empresa em Portugal que produz nas três áreas – televisão, cinema e publicidade – e com expressão. Somos umas das principais produtoras em facturação de publicidade, e uma das três principais produtoras de séries de televisão.

Veja aqui o filme:

Texto de Daniel Almeida

 

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