Kiss & Tell: O Booking dos casamentos quer crescer em Portugal
Uma one-stop-shop para o planeamento e reserva de eventos particulares, como casamentos ou viagens em grupo. É desta forma que a startup Kiss & Tell se apresenta ao mercado português, onde já está a operar com cerca de 200 parceiros de áreas como o alojamento ou o catering.
A plataforma, especializada em casamentos (que representam cerca de 60% do total dos eventos realizados), permite comparar, planear e reservar pacotes de destinos e estadias para eventos, em vários destinos globais. Em Portugal, onde se estreou com a organização de um casamento em Sintra, a Kiss & Tell alcançou recentemente o terceiro lugar no Aceler@Tech, o programa de aceleração promovido pela Associação Acredita Portugal com o apoio do Turismo de Portugal.
Em entrevista à Marketeer, Amy Jarczynski, fundadora e CEO da Kiss & Tell, aborda a estratégia para o mercado português, onde a empresa espera abrir uma filial até ao final do ano.
Como, quando e com que finalidade foi criada a Kiss & Tell?
A Kiss & Tell é uma plataforma de reservas de casamentos e viagens em grupo que reúne todos os elementos numa conversa social simplificada.
Durante mais de uma década, trabalhei e cresci num dos líderes de mercado de casamentos digitais, mas acabei por sair porque senti que os consumidores e a indústria exigiam uma melhor solução para reservas directas de estadias, quando todos os principais intervenientes optavam por ignorar as falhas existentes. Decidi então criar a minha própria aplicação e, em 2019, fizemos um teste beta com 45 reuniões de grupos internacionais e mais de 2200 viagens. Neste momento, estamos a reconstruir a nossa dinâmica após a Covid-19.
Como é que a plataforma funciona?
O processo é simples e intuitivo. Os anfitriões do evento criam e reservam o local e estadia. De seguida, conectam-se com os membros do seu grupo, tais como convidados e fornecedores, numa conversa. Neste momento, já podem co-planear, discutir detalhes ou simplesmente ficar entusiasmados em conjunto, sendo que os convidados gerem a sua própria participação e reserva, o que alivia em larga escala as tarefas dos anfitriões, planeadores e locais.
A aplicação automatiza também os movimentos do grupo desde a data em que o depósito é feito até ao check-out.
Que tipo de eventos são mais solicitados? Os casamentos são a maior fonte de rendimento?
Inicialmente, o nosso foco eram casamentos de destino internacional, mas à medida que crescemos, convertemos várias pessoas a organizarem os seus próprios eventos, e muitas dessas conversões foram viagens de grupos e reuniões familiares.
Contudo, os casamentos representam 60% dos eventos da Kiss & Tell e, uma vez que o tamanho destes grupos é maior do que o dos restantes eventos, os seus convidados representam 80% dos nossos utilizadores.
O nosso grande objectivo é ser o balcão único para gerir a reserva de eventos, para qualquer reunião de grupo, seja ele grande ou pequeno.
A Kiss & Tell alcançou o terceiro lugar na última edição do Acceler@Tech. Por que decidiram participar? Qual é a importância desta distinção e como irá acelerar o crescimento da empresa?
Profissionalmente, tenho tido relações de longa data com a maioria dos grandes escritórios de turismo em destinos de casamentos de topo, a nível mundial. Por essa razão, quis também construir uma relação com o Turismo de Portugal, uma vez que pode desempenhar um papel fundamental no nosso crescimento e auxiliar na criação de parcerias promocionais.
A nossa vitória no programa de aceleração Aceler@Tech permitiu um crescimento no mercado português, pelo que os nossos próximos passos passam por chegar a cada vez mais consumidores. A etapa final poderá vir a ser a formação de um ramo da Kiss & Tell em Portugal. É algo que estou realmente a considerar.
Que parceiros têm actualmente no mercado português? E quantos eventos já foram organizados através da plataforma?
O nosso primeiro destino de escala em Portugal foi Sintra. Sendo um cenário verdadeiramente majestoso e sedutor para celebrações, concluímos neste destino dois casamentos através dos testes beta, em 2019, quando na altura tínhamos cerca de 34 propriedades no nosso sistema. Um desses casamentos foi no Penha Longa Resort, que faz parte da rede Marriott. Posteriormente, pudemos crescer noutras propriedades desta marca de hotéis, tais como o Pine Cliffs Resort, mas também noutras cadeias hoteleiras, como o Tivoli Palácio de Seteais e Tivoli Carvoeiro.
A outra celebração em Sintra foi num local encantador e muito acessível, The Quinta. Este espaço, com um estilo mais íntimo, rústico e histórico é o que a maioria dos nossos clientes procura.
Felizmente, através da rede que criámos com a nossa participação no programa Aceler@Tech, o nosso portefólio tem agora cerca de 200 locais de topo e fornecedores de alojamento em Portugal, estando também a crescer rapidamente com a maioria das grandes marcas de hotéis – tais como a Octant – e, pouco a pouco, propriedades privadas independentes.
O mais fascinante é que Portugal está agora a competir com os nossos destinos europeus de topo, como Itália e Grécia, onde temos tido centenas de propriedades e uma maior procura desde 2019.
Quais os planos para este ano no mercado português?
Ganhar o prémio de Bronze do programa Aceler@Tech enfatiza o mercado português e o timing é sinérgico com o desejo dos casais em organizarem um casamento num destino europeu, que seja também amigo do seu orçamento – aspecto que beneficia Portugal.
O nosso objectivo é continuar a aumentar o nosso mercado de locais e fornecedores de alojamento de topo até ao final do ano. Idealmente, em Outubro, gostaríamos de começar a reunir esforços promocionais com o Turismo de Portugal.
A nossa plataforma 2.0 está pronta, pelo que é fundamental aumentar a nossa força de atracção perante o consumidor para números pré-pandemia e, de seguida, escalar será a chave. Depois, tal como já mencionei, gostaríamos de estabelecer uma filial da Kiss & Tell em Portugal até ao final do ano, estabelecendo no País quatro a cinco membros da equipa.
Qual o modelo de negócio praticado pela Kiss & Tell? E quantos eventos são organizados a nível global através da plataforma?
O principal modelo de negócio da Kiss & Tell é o de uma OTA (agência de viagens online), como a Expedia ou o Booking, por exemplo. Contudo, negociamos em espaços para eventos e estadias de grupo, pelo que as nossas receitas são geradas a partir das reservas desses locais e quartos de hóspedes, sendo que a nossa plataforma é completamente gratuita para os utilizadores. Apoiamos as reservas através de um conjunto complementar de ferramentas de comunicação de grupo e a aplicação remove as dores de cabeça de todos os utilizadores (anfitriões, convidados e vendedores), desde o primeiro dia de planeamento até ao último dia do evento.
Enquanto fizemos testes beta, entre 2018 e 2019, concluímos 45 eventos a nível global. Em 2020, o nosso negócio foi suspenso durante a pandemia, pelo que não tivemos reservas durante quase dois anos. Estamos agora a construir uma dinâmica do zero com a nossa plataforma de maior qualidade e conseguimos trabalhar com milhares de grupos ao mesmo tempo, modelo que vamos testar a partir de Outubro.
O sector dos eventos foi um dos mais afectados desde o início da pandemia de Covid-19. No caso da Kiss & Tell, já notam alguma recuperação? Como tem decorrido o ano até agora?
O sector de eventos foi dizimado e a recuperação de eventos internacionais, com foco na Kiss & Tell, tem estado pelo menos nove meses atrás da recuperação do mercado interno. Felizmente, notamos agora que os nossos clientes da América do Norte e Europa Ocidental estão dispostos e ansiosos para reunirem no seu próprio país, com as vacinas disponíveis e um risco menor em apanhar Covid-19, no entanto, ainda há entraves. Fazer com que todo o grupo viaje para ir a um casamento ou reunião familiar ainda levanta restrições e pode causar cancelamentos de última hora. Nos EUA, por exemplo, havia o desafio da reentrada se o teste fosse positivo e, desde que essa restrição foi levantada, neste Verão, já notámos um aumento de quatro vezes em casais dispostos a planear o seu casamento no estrangeiro. Esperamos que, no panorama actual, este número regresse ao volume pré-Covid-19, esperando-se que 21% dos casamentos ocorram no mundo ocidental, até ao final de 2023.
Texto de Daniel Almeida