José Pedro Dias Pinheiro: «Há um pânico generalizado por parte das lideranças»

O que ficará depois deste “buraco negro” do novo coronavírus? Que marcas iremos ter? E como é que passarão a estar e a comunicar? Não sendo possível qualquer previsão clara e certa, fomos, contudo, tentar perceber de que forma é que algumas das maiores empresas e marcas em Portugal estão a reagir e como esperam sair do momento mais crítico de todos os tempos, a nível mundial. Vamos todos dar a volta?

José Pedro Dias, CEO do Group M

1 – O que está a ser feito, neste momento, para que a sua marca não perca relevância?

Vivemos um tempo inesperado. Temos que ter a humildade de aceitar que nos enganámos nas previsões. O que enfrentamos hoje é ciclópico. Mas não é o fim. Sem dúvida que a Covid-19 terá um impacto gigantesco nas nossas vidas. O que constato, ao fim de mais de dois meses a “assobiar para o ar”, e de apenas uma semana de impacto directo, é um pânico generalizado por parte das lideranças, um bloqueio total na interpretação dos factos e nas tentativas de reacção primária.

Constato também que as “cartilhas” não se aplicam. Não há cartilha para isto. Quem nos dirige, reage, e, por que não entende, segue.

Não sei se alguém está a pensar em proteger marcas, acho mesmo que não.

Dentro de duas ou três semanas, espero, tudo será mais claro. Saberemos o que há a fazer, e iniciaremos um caminho.

Até lá haverá oportunismo, muito, e também gente a fazer coisas bem. Temos todos que entender que esta “guerra” não é entre nós. Ninguém se vai conseguir “safar” ao tentar ser “esperto”, passar ao lado. Apenas iremos precipitar tudo e tornar mais difícil a recuperação.

2 – E depois deste “buraco negro”, a sua marca será a mesma?

Os “eventos de vida” têm o condão de desafiar tudo. Será que vamos passar a trabalhar de casa? Deveremos acelerar os processos de e-commerce? A proliferação de “fake news” consciencializará as pessoas para a relevância dos media editados? Tantas perguntas mais teremos que nos fazer.

Conseguimos, em poucos dias, mudar tudo, e, por isso, nada ficará como dantes.

E acho que tivemos sorte. Neste mundo globalizado (levou menos de três meses a ser declarada uma pandemia) ainda não foi desta que nos “saiu a fava”. O vírus é perigoso, mas não é o Ébola. E isso dá-nos mais uma oportunidade para reflectir e pensar o futuro. Problemas globais só se resolvem com soluções globais, e para isso é necessário um nível de cooperação que hoje não existe.

Pergunto-me se em vez de termos uma imposição constitucional de uma idade mínima de 35 anos para os candidatos a Presidente da República, não deveríamos antes estabelecer uma idade máxima de 50 anos para o desempenho de tal cargo? Pergunto-me também se faz sentido que o candidato mais novo a próximo Presidente dos EUA tenha 73 anos? E pergunto-me ainda se podemos ter pessoas a liderar a resposta ao evento que agora experienciamos, impreparadas para entender a sociedade actual, e num contexto em que não há “cartilhas” pré-definidas a seguir?

Talvez a resposta seja mesmo “obrigar” uma geração a aprender a sair, deixar as lideranças para gente mais nova, mais preparada, que entende melhor os desafios que nos vão sendo colocados.

Resolver-se-iam assim vários problemas, entre os quais o da sustentabilidade, o do equilíbrio de género, mas sobretudo o da cooperação global que, como agora constatamos, é essencial para a nossa sobrevivência enquanto espécie.

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