Já pode apreciar os vinhos da mesma quinta que inspirou Almeida Garrett
Construída em 1718, produzindo vinhos desde então, a Quinta do Sampayo foi outrora propriedade do I Visconde do Cartaxo (Luíz Teixeira de Sampayo), que ali chegou a receber o escritor Almeida Garrett, que usou esses encontros na quinta ribatejana como inspiração para parte da obra “Viagens na Minha Terra”. Quase 300 anos volvidos desde a sua fundação, e após um interregno de cerca de uma década, a Quinta do Sampayo relança-se agora no mercados dos vinhos.
Localizada no Vale da Pinta, concelho do Cartaxo, a Quinta do Sampayo está nas mãos da empresa familiar Agroseber desde 1995, tendo produzido vinhos de forma ininterrupta até 2013 – sendo o mais conhecido no mercado o vinho De Filipa. Agora, mais de uma 10 anos depois, a marca volta a apostar no segmento dos vinhos com o lançamento de duas referências, o Quinta do Sampayo Colheita 2023 Branco e o Quinta do Sampayo Colheita 2023 Tinto.
No total, a Quinta do Sampayo conta com uma área total de 80 hectares, 55 dos quais de vinha, onde se incluem castas tintas (com maior predominância para Touriga Nacional) e brancas (como Fernão Pires). A esta área juntam-se ainda 11 hectares de olival, adquiridos recentemente. «É o início de uma nova era, na qual pretendemos criar vinhos de excelência. Sabemos que temos uma missão muito desafiante pela frente, mas estamos empenhados nessa missão», salientou Ana Macedo, responsável da Quinta do Sampayo e membro da família que detém a propriedade.
O lançamento dos novos vinhos resulta de um processo de requalificação das infra-estruturas e recuperação da vinha, que dura há cerca de um ano. Um processo que obrigou inclusive a arrancar algumas vinhas que já estavam deterioradas devido ao abandono, enquanto outras foram alvo de uma profunda intervenção. «A nossa estratégia passa por renovar, inovar e rejuvenescer. Renovar a propriedade, inovar na tecnologia rumo à sustentabilidade ambiental e económica e rejuvenescer a quinta. Estamos num terreno com um clima ideal e solos calcários de excelência, mas as vinhas estavam, em parte, decadentes e o processo vai ser prolongado no tempo. Vamos tentar fazer isto de forma sustentável», referiu Alberto Miranda, responsável pela parte agrícola e vitivinicultor. De acordo com o responsável, o objectivo passa por ter uma intervenção mínima no solo e, por isso, a Quinta do Sampayo tem vindo a investir em máquinas mais modernas e eficazes, em alfaias agrícolas que permitem poupar água, em fertilizantes baseados em matérias orgânicas, entre outras medidas.
Fruto deste trabalho, nesta espécie de “segunda vida” a Quinta do Sampayo lançou cerca de 5000 litros de vinho branco e 10 mil litros de tinto. O Quinta do Sampayo Colheita 2023 Branco é composto por um blend das castas Arinto e Fernão Pires, num lote que estagiou parcialmente (cerca de 40%) em barricas de carvalho francês de Tronçais e americano do estado do Minnesota por um período de seis meses. É um vinho com um teor alcoólico de 12%. «Tentámos fazer um vinho não muito complexo, para primeiro lançamento, que fosse mais comercial. Neste momento, o que precisamos é de construir marca, por isso queríamos fazer vinhos bem feitos», afirmou Marco Crespo, enólogo da Quinta do Sampayo que integrou o projecto há precisamente um ano.
Já o Quinta do Sampayo Colheita 2023 Tinto é um blend das castas Castelão (30%), Syrah (30%) e Touriga Nacional (40%), tendo estagiado igualmente em barricas de carvalho francês e americano durantes seis meses. Apresenta um teor alcoólico de 13%.
Apesar de a adega da Quinta do Sampayo ter capacidade para vinificar cerca de um milhão de litros por ano, a decisão nesta fase inicial passou por produzir uma quantidade limitada de vinho. De acordo com Marco Crespo, a decisão prende-se, por um lado, com o processo de recuperação das vinhas e, por outro, com o desejo de criar um projecto sustentável. «Sempre tivemos a noção que não iríamos vinificar tudo. Queríamos vinificar pouco, mas o melhor possível. Isto não tem nada a ver com o que se passa normalmente numa casa de vinhos», salientou o responsável. Nesse sentido, os vinhos «foram preparados com uma certa preponderância. Não queremos fazer os melhores vinhos do mundo, porque isso é impossível, mas queremos melhorar todos os anos, sabendo para onde queremos ir. Queremos crescer sustentadamente», reiterou.
Com um posicionamento médio-alto, os novos vinhos da Quinta do Sampayo chegam ao mercado com um PVP de 9,50 euros. Desde ontem, estão à venda na plataforma online Vinosofia, mas o objectivo passa também por entrar gradualmente no retalho físico tradicional e por abrir uma loja de e-Commerce própria. Quanto ao rótulo das garrafas, foi criado pela designer gráfica Carolina Miranda e mostra o edifício da adega no meio das vinhas, desenhadas como uma impresão digital. Entre as vinhas, avistam-se alguns cedros, que se encontram plantados no terreno.
Além dos vinhos, a Quinta do Sampayo já está também disponível para receber visitantes. O programa de enoturismo da quinta não inclui, por enquanto, alojamento, mas sim a possibilidade de realização de festas, casamentos, baptizados, provas de vinhos, visitas à adega, entre outras opções – e não falta, claro, uma Sala Almeida Garrett para a realização de eventos.
Texto de Daniel Almeida