Já foi vítima de bullying?
M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer
Fui criança gordinha. Ou “roliça” como se diz no Norte, de onde sou. Já na altura, ouvi comentários e piadas. E, durante anos, convivi mal comigo e o meu corpo. Se fosse de uma magreza abaixo dos padrões ditos normais, eventualmente teria recebido outros, eu sei. Com o tempo ajustei-me! Mas demorou.
Também há uns anos, convivi bem de perto com um caso de bullying – na altura da minha adolescência tinha outros nomes – psicológico. Estava ao meu lado, mas tardei em percebê-lo. Por que quem é vítima, tarda em partilhar.
O que é que leva alguém a permitir a humilhação? A não levantar a cabeça? A sentir-se inferior e menor? O que é que faz alguém deixar que o segreguem?
Há quem refira a auto-estima, a falta de amor próprio, a não existência de rede de afectos e carinho. Confesso-vos que eu tinha tudo isso. Só que não chegou.
Inês Andrade foi vítima de bullying e, ela própria, agente do mesmo. Sofreu e fez sofrer. Assistiu e tentou intervir. Até que percebeu que este é terreno difícil e que se move a uma velocidade superior às areias movediças. Por isso, há uns anos, fundou a No Bully, para denunciar e formar, informar e partilhar. Dar rosto e voz a vítimas e ao processo.
Agora, e à semelhança do que já acontece noutros países, começou a merecer apoio de marcas e empresas que, com ela, sabem que uma geração adolescente confiante será uma geração adulta melhor. Que uma geração adolescente, que não persegue e não maltrata, será uma geração futura com valores elevados. E que esta geração adolescente, além de ataques físicos, também já começou a receber os virtuais, o cyberbullying.
Por tudo isto, sujeitámos a nossa própria capa a um ataque e demos várias páginas da revista à partilha de casos. Porque, também por aqui, defendemos que é com informação que se constrói e que as redes mais fortes se fazem em conjunto. Sem elas, a queda é maior e mais dura!
Editorial publicado na revista Marketeer n.º 303 de Outubro de 2021