Isto não é para velhos
Nos anos sessenta dizia-se que não se podia confiar em ninguém acima dos 30.
Nos yuppie 80’s e fin de siècle 90’s, acima dos 40 todos eram considerados damaged goods para o fast moving corporate market. Todos aqueles acima dos 40 o sabem e têm esperança que seja verdade.
Os estereótipos da idade estão a ser desafiados dia após dia. Isto é verdade no Ocidente, onde a demografia, que dita um envelhecimento progressivo da população, se alia a uma nova geração de “velhos” que não se sentem velhos. Mas não é só a demografia que conta para esta mudança. Os novos velhos são fruto de uma sociedade globalizada, contemporânea, informada. São tão estimulados como os novos por tudo o que se passa hoje no mundo e, na verdade, a melhoria das condições de saúde leva a que a velha idade aconteça, na verdade, cada vez mais tarde.
Na verdade, podemos avançar com a hipótese que a crise tenha tido um contributo positivo para esta perspectiva. A precarização dos jovens e a sua utilização como recurso de trabalho conjuntural e não estrutural, como em décadas anteriores, acabou por vir recuperar a importância dos mais experientes. Dos que com menos e em menos tempo eram capazes de fazer mais para superar a possibilidade de também eles serem descontinuados.
A verdade é que as pessoas vivem mais tempo, são jovens durante mais tempo e instantaneamente o mercado de consumo reflecte isso.
Esta tendência já chegou às marcas há alguns anos e existem muitos exemplos de como se estão a desafiar os estereótipos de idade (e género e orientação).
Se alguma vantagem há nesta nova época, em que tudo acontece ao mesmo tempo sem ordem pré-determinada, como consequência do humor dos deuses, é que tudo está verdadeiramente misturado.
O novo preto é o arco-íris, os novos novos são os velhos, afinal o tempo não é mesmo linear, a verdade é secundária e a moeda não é controlada pelos bancos centrais.
Esta semianarquia, semi-intencional, em que vivemos, tem obviamente a desvantagem de termos que estar sempre a consultar a bússola, mas parece agora libertar-nos das questões de identidade associadas à idade, género, cor política e etc.
Finalmente: a criatividade não é prerrogativa de um determinado escalão etário, pois o passado é que é bom (há quase 20 anos que navegamos em nostalgia, como forma de tentar equilibrar a desmaterialização progressiva do mundo), velhos são aqueles que assim se sentem e, no futuro, viveremos todos para sempre.
A esta tendência junta se o facto de o CCP fazer este ano XX anos. E vamos juntar o útil ao incontornável. O útil, porque vamos discutir este tema da idade em diferentes fóruns e de formas distintas. O incontornável porque o são as datas.
O XX Festival do CCP vai obviamente festejar a sua história, pois não houve nunca melhor época para o fazer, nem melhor forma de legitimação da realidade como esta.
Vamos homenagear aqueles que há pelo menos 20 anos contribuem de forma definitiva para a nossa identidade colectiva, criativa e artística, para aqueles que perderam o bilhete de identidade ainda em crianças e que não se lembram de olhar para as horas quando o mundo diz que se está a fazer tarde.
Vamos homenagear o talento vivo como forma de garantir aquele que ainda não nasceu. Temos que ter a certeza que esses novos têm para onde olhar, com que pensar, com quem aprender.
Temos que ter a certeza que vivemos num mercado que não despreza a história, mas sim a celebra efusivamente e coloca no centro do palco aqueles que, com o seu enorme talento e dedicação, nos fizeram um dia pensar que queríamos estar aqui.
E este XX aniversário vai ser um sítio bom para se estar, se com eles estivermos.
Por: Pedro Pires
CEO/CCO Solid Dogma
Presidente do CCP