ISAG: Portugal tem futuro
É impressionante o quanto os astros se conjugaram a favor dos vinhos portugueses nos últimos tempos. A meta ainda está longe, mas o futuro parece sorrir para a nossa economia e cultura. O perfil dos vinhos nacionais mudou de forma radical e conquistou um novo paradigma – mais qualidade e capaz de competir com qualquer país. Mas ainda temos muito que conquistar para atingir patamares onde outros já estão.
Portugal tem clima, solo e castas. O mesmo é dizer que foi bafejado pela Natureza, que lhe concedeu um terroir perfeito para a produção de vinho. Portugal tem, ainda, um ponto de diferenciação especial: apesar da sua dimensão territorial, não podemos falar de um único terroir. Cada região, e dentro da mesma, Portugal tem muito para mostrar.
OS DESAFIOS
Mas o nosso país tem barreiras a ultrapassar. Por sermos pequenos temos tendência a não trabalhar os vários segmentos de mercado. Temos a diferenciação, mas apontamos para o generalismo. E esse é um erro crasso, que não permite subir os preços médios, compensar os agricultores e reinvestir na terra e na tecnologia. Encarar o mercado nos seus pontos de diferenciação deveria ser fácil para quem produz vinhos tão diversos, mas os genes da gestão portuguesa não estão sempre ao nível do que produzimos.
Apesar de tudo, os vinhos nacionais têm aumentado as exportações, numa média superior a 3% ao ano nos últimos 10 anos. O preço médio tem vindo (com muito custo) a subir e os vinhos têm mais valor acrescentado, continuando a ser competitivos no mapa global.
RECONHECIMENTO E ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS
Durante anos, os vinhos portugueses foram descritos como “o segredo mais bem guardado da Europa”. Hoje, ocupam um lugar próprio nas prateleiras mundiais (começando a sair do segmento “Espanha” ou “Resto do Mundo”). Alguns dos nossos melhores têm sido apontados como “Enólogos do Ano” ou “Produtores do Ano” e existe um foco maior dos especialistas na produção nacional. Temos, ainda, empresas âncora e projectos especiais que dão que falar.
Depois, temos o privilégio de continuar a ser protegidos pela Natureza. As alterações climáticas têm vindo a castigar algumas regiões, mas a abrir as portas a outras. Um exemplo? Inglaterra! Nunca ficou conhecida pela sua produção, mas hoje produz espumantes de reconhecida qualidade. O mesmo tem sucedido com algumas regiões nacionais. De resto, há quem advogue que o perfil climatérico que lançou algumas das melhores regiões do mundo tem vindo a deslocar-se para Portugal. Muitas das nossas castas mais reconhecidas (como a Touriga Nacional e o Alvarinho) podem agora ser legalmente produzidas em Bordéus, como castas oficiais da região de denominação protegida.
Em suma, Portugal tem tudo para continuar a crescer no panorama vitivinícola internacional. Se a nossa cultura de consumo se transformar numa cultura de conhecimento, ninguém nos poderá parar.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “Marketing de Vinhos, Azeites e Espirituosas”, publicado na edição de Dezembro (n.º 317) da Marketeer.