ISAG: Antecipar o futuro de Portugal

Mesmo com inteligência artificial, não temos resposta para tudo? Esta inquietude junta-se à percepção da fragilidade dos sistemas: num mundo intimamente interconectado e complexo, a consequência de pequenas decisões define o rumo possível. Esta incerteza gera ansiedade a que acresce preocupação, ou seja, ocupação antes do tempo – estaremos em contratempo?

Não sendo exclusivamente nosso, este contexto serve bem a Portugal, um país em contratempo. Todas as nações vivem momentos de transição entre o peso do passado e a delicadeza do futuro; para progredir, é fundamental abraçar a mudança – exactamente o que temos evitado. Numa perspectiva recente, após as profundas mudanças económicas e sociais com a adesão às comunidades europeias, muito pouco nos tem mobilizado e, menos ainda, orientado. Numa perspectiva optimista, as últimas décadas têm sido de navegação à vista; de deriva numa análise mais realista. Este anátema é tanto político e social quanto económico: falta vitalidade ao tecido empresarial português.

O acréscimo de recursos e capacidades – a geração mais empreendedora e tecnológica de sempre, que vejo valorizar-se nos nossos mestrados, MBA e cursos de especialização – não se tem reflectido na melhoria do desempenho económico. Pelo contrário, com contexto e meios idênticos, outros fazem mais e melhor, deixando-nos mal comparativamente. Serão as empresas portuguesas menos capazes?

Ultrapassando a subsídio-dependência para nos concentramos no futuro que queremos construir, três elementos merecem serem trabalhados para alavancar a competitividade das empresas portuguesas – e assim conquistar o tão desejado desenvolvimento do País.

O primeiro prende-se com a escolha de uma visão verdadeiramente inspiradora. A maioria das empresas gere com horizonte muito curto, baseado na arte do possível, o que as leva a aceitar um crescimento residual. Parece faltar coragem para aspirar a um futuro diferente que troque o poucochinho pelo rasgo do sucesso. Em segundo lugar, é preciso propagar uma cultura de aprendizagem constante que ponha perguntas difíceis em cima da mesa e estabeleça metas desafiadoras. Para ambicionar um futuro diferente é preciso a ousadia de alterar hoje o rumo através de pequenos passos consequentes, enfrentando hábitos e práticas instalados. Finalmente, apostar decisivamente no talento capaz de promover a mudança. Misturar novo conhecimento com a experiência e dar espaço ao ímpeto regenerador para fazer acontecer estratégias inovadoras.

Olhando para o perfil do empresário português, e correndo o risco inerente a qualquer generalização, diria que há relevante espaço de melhoria. Os líderes devem abraçar como função principal a cultura da organização, promovendo a escuta activa, a aprendizagem constante e a orquestração de paixões e talentos individuais. Cuidar a cultura como principal driver estratégico, alertando continuamente para que a organização não adormeça e o seu impulso se perca na espuma dos dias. Esta mudança de perfil afigura-se fundamental para um Portugal melhor.

Texto de Luís Ferreira, Docente do ISAG – European Business School

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Empresas 100% Portuguesas”, publicado na edição de Abril (n.º 321) da Marketeer.

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