Indústria da moda vai desacelerar a nível global. Mercado de luxo será a “bóia de salvação”
A indústria da moda está a caminhar para uma desaceleração global. A conclusão é de um novo relatório da The Business of Fashion (BoF) e a McKinsey & Company, “The State of Fashion 2023”, que atribui à guerra na Ucrânia e à crescente inflação, assim como as pressões na cadeia de abastecimento a culpa do “cenário sombrio para o ano que se avizinha”.
Desta forma, 56% dos executivos de moda espera que as condições se agravem em 2023. Os líderes da indústria estão a navegar numa economia global cada vez mais frágil, esperando-se sérias repercussões em 2023: 85% dos executivos de moda prevê que a inflação continuará a ser um desafio no próximo ano e 58% acredita que a crise energética continuará a enfraquecer o mercado. O PIB global deverá cair para cerca de 2,5% em 2023, e a ameaça de recessão aproxima-se de muitas das principais economias.
Embora o relatório preveja um abrandamento global para a indústria, existem algumas oportunidades. As vendas de moda de luxo deverão crescer globalmente entre 5% e 10% em 2023, em comparação com o intervalo de 2% negativo e 3% positivo para o resto da indústria. A proporção de empresas “destruidoras de valor” (ou seja, aquelas que registam resultados negativos) está agora no seu ponto mais baixo desde 2013.
O aumento da inflação em muitas das grandes economias criou uma crise do custo de vida que está a levar muitos consumidores a reavaliarem, e mesmo a mudarem drasticamente os seus hábitos de consumo. Entre abril e julho de 2022, quase três quartos dos consumidores nos EUA procuraram marcas low-cost ou produtos de baixo preço. A pressão recai, assim, sobre as marcas para que se mantenham atractivas para os consumidores, dada a difícil conjuntura económica.
O cenário económico incerto significa que as empresas de moda vão reavaliar as geografias onde operam, trocando certos países ou regiões por outros que oferecem um maior potencial. Nomeadamente, a economia na China – há muito considerada um motor de crescimento da indústria – deverá abrandar em 2023, com o PIB a subir apenas 3,2%, em comparação com um aumento de 8,1% em 2021, levando alguns executivos de moda a procurar oportunidades noutros locais, pelo menos a curto prazo.
E à medida que a indústria se debate com os seus impactos ambientais e sociais, a forma como as marcas comunicam as suas garantias de sustentabilidade aos consumidores estará sob escrutínio, enquanto tentam evitar acusações de greenwashing. Ao mesmo tempo, 79% dos executivos de moda aponta a falta de normas a nível da indústria que os ajudem a avaliar o seu desempenho em termos de sustentabilidade como o maior obstáculo para melhorar a forma como os consumidores encaram os seus esforços.
«A deterioração das condições macroeconómicas e geopolíticas está a ter um forte impacto na indústria no segundo semestre de 2022. Embora o consistente desempenho da indústria – com crescimento de receita de 13% no primeiro semestre de 2022 – forneça uma base sólida, prevê-se que 2023 continue a ser um ano desafiador: o crescimento das vendas globais de moda será alavancado pelo segmento de luxo – até 10%, em comparação com até 3% para o restante da indústria», afirma, em comunicado, Ana Paula Guimarães, sócia na McKinsey & Company.