Horácio Simões: Uma adega onde a tradição ainda é o que era

A empresa foi fundada pelo bisavô José Carvalho Simões e a sua identidade foi vincada pelo avô Horácio Simões, reconhecido por todos pelo seu carácter, conhecimento e ligação a tudo o que caracteriza a região de Setúbal. Passou a todos os descendentes os conhecimentos e amor pelo sector, e estes têm como foco perpetuar o seu trabalho. E quando falamos em descendentes, falamos não só do seu filho Horácio mas também dos seus netos Pedro e Luís, actualmente em frente dos destinos da adega. «Somos uma adega em que trabalhamos para manter e enaltecer a nossa identidade. Assim sendo, o nosso posicionamento é num nicho de mercado e não os mercados de produção em massa. Como carinhosamente nos chamam os nossos clientes, somos “alfaiates” a fazer vinhos», comenta Pedro Simões, sócio-gerente da Horácio Simões.

Esta é uma adega secular, inserida numa realidade de minifúndio, onde se trabalham pequenos talhões de terreno através de métodos ancestrais. A apanha da uva manual, a pisa da uva a pé em lagares de pedra e a fermentação em depósitos de cimento são alguns exemplos dos métodos de vinificação ainda usados. No entanto, esses métodos ancestrais e o modo como a Horácio Simões encara os seus vinhos e o orgulho em «vincar cada vez mais a nossa identidade» abrem novos caminhos. «Temos lançado novos rótulos com vinhos que são fora de comum e que em tudo têm a ver com os mercados em ascensão. Assim se criou o rótulo “Segredos”. Não fazemos vinhos de “piscina”, fazemos vinhos gastronómicos, diferenciadores e “fora da caixa”.»

Numa empresa com toda esta tradição, o grande marco histórico continua a ser o avô Horácio e o seu modo de ver e viver o vinho e a vinha. É ele um dos responsáveis por ainda hoje se trabalhar a casta Moscatel Roxo de Setúbal, de garantir a sua continuidade, e os conhecimentos da mesma vincaram de forma inequívoca a história e as estórias daquela adega e de toda a região.

De acordo com Pedro Simões, as características que tornam os vinhos Horácio Simões únicos no mercado «certamente passam pelo facto de trabalharmos e produzirmos vinhos gastronómicos, com pouca intervenção. São vinhos que se bebem à mesa, a acompanhar uma refeição, uma boa conversa. Ousamos dizer que “vinhos de piscina” todos podem fazer. Vinhos que nos aquecem a alma, nos dão colo, esses, sim, são desafiantes e garantem os melhores momentos. Afinal, parafraseando Alexander Fleming: “A penicilina cura os homens, mas é o vinho que os torna felizes”».

Para comunicar a sua marca, a Horácio Simões está presente em feiras e eventos vínicos, da mesma forma que mantém uma relação estreita e de proximidade com escolas de hotelaria, escanções, sommeliers, e «todos os que tão bem trabalham com os nossos vinhos e nos permitem chegar ao cliente final da forma certa». Pedro Simões acrescenta que «é também comum sermos contactados pela imprensa para artigos e programas de TV. Somos uma casa emblemática e carismática e o carinho e respeito que têm por nós e pelo nosso trabalho é notório e um privilégio. De ressalvar, obviamente, o fantástico trabalho do nosso parceiro neste percurso, a Decante, o nosso distribuidor. Outro modo de chegar ao cliente é o “boca a boca”. Trabalhamos o enoturismo aqui em casa, da mesma forma que trabalhamos os vinhos. Gostamos de receber, de dar a conhecer e partilhar bons momentos com quem nos visita. Afinal, são eles que voltam e nos recomendam a familiares e amigos».

A Horácio Simões gosta de produzir vinhos que, muitas vezes, não são consensuais. Durante este ano foram lançados no rótulo Segredos referências como Branco Rabo de Ovelha, Laranja, Ellegant II, Tinto Bastardo, Castelão de Tonel. Mais recentemente, foi apresentado o Moscatel Naturalmente, que será lançado no mercado no início de 2023, sendo uma produção muito limitada. A empresa está a preparar mais algumas novidades, que se mantêm no segredo dos deuses. «Quem nos conhece sabe que temos sempre algo “na manga”», brinca Pedro Simões.

UMA MARCA SUSTENTÁVEL

O modo como a empresa encara o negócio e o trabalho tem tudo a ver com sustentabilidade. Mais do que um negócio, «é um modo de vida. Senão vejamos: trabalhamos castas autóctones que poucos querem trabalhar pela baixa rentabilidade. Trabalhamos vinhas velhas, que nos obrigam a mais cuidados no manuseamento. Estamos inseridos num minifúndio, em que o maior talhão tem 1 ha, logo as máquinas são uma realidade pouco viável. Esforçamo-nos por trabalhar terrenos dos mais antigos, que já não as podem ou conseguem trabalhar, aprendendo com eles o que têm e como toda a vida trabalharam as suas vinhas. Fazemos o mínimo de tratamento e uma intervenção mínima nas vinhas. Ainda fazemos a vindima manualmente. A pisa a pé em lagar também é ainda praticada. Recorremos aos depósitos de cimento e a madeira em detrimento do inox. Somos na verdade um museu vivo».

Pedro Simões acredita que, enquanto a marca for fiel à sua identidade e se focar em fazer vinho diferente e não vinho de massas, não irá defraudar os clientes e a sustentabilidade estará assegurada. «Claro que somos vulneráveis a muitos factores como às intempéries, alterações climáticas e mesmo pandemias, guerras, e consequentes quebras no consumo, mas há que continuar a trabalhar!», diz Pedro Simões.

Manter o foco e não seguir as modas são os objectivos da adega no que diz respeito à sustentabilidade. Como? Continuando a recuperar castas “esquecidas” e a manter a ligação com a região.

Depois de alguns anos desafiantes, a Horácio Simões acredita que irá aumentar a sua facturação este ano, e para isso contribui decisivamente o mercado nacional. Pedro Simões revela que «a exportação ainda só atinge 20% do volume de vendas, mas tem vindo a crescer de forma sustentada. Cada vez temos mais parceiros no estrangeiro. Tendo em conta as quantidades muito pequenas que produzimos, temos feito uma escolha muito criteriosa dos nossos revendedores/parceiros, dentro e fora do país. O caminho faz-se caminhando e preferimos dar pequenos passos, mas fazer as apostas certas».

No próximo ano, a marca tem como objectivo manter a identidade da casa e contribuir para o reconhecimento da região através dos vinhos que produz. Além disso, «continuar a apoiar os nossos clientes. Incutir todos os dias os nossos valores à futura geração. Estarmos disponíveis para vos receber. Estudar, testar e aprender», conclui Pedro Simões.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “Marketing de Vinhos, Azeites e Espirituosas”, publicado na edição de Dezembro (n.º 317) da Marketeer.

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