Health Portugal: «A Saúde nacional tem conseguido vingar nos mercados mais exigentes»

Nasceu em 2020 com o objectivo de agregar as organizações que compõem o cluster da Saúde em Portugal e alavancar a sua exposição internacional. Quatro anos volvidos, a marca Health Portugal representa, além-fronteiras, mais de 500 produtos nacionais de cerca de 200 empresas, mostrando o que de melhor o sector tem para oferecer.

A actividade da marca criada pelo Health Cluster Portugal tem contribuído para o crescimento das exportações do sector. De acordo com os dados mais recentes da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, entre 2020 (o ano de fundação da Health Portugal) e 2023, as exportações de produtos de saúde portugueses quase duplicaram, passando de 1,75 mil milhões de euros para 3,34 mil milhões de euros. EUA, Alemanha, França e Espanha estão entre os principais importadores de inovações nacionais, com destaque para produtos farmacêuticos.

A estratégia de internacionalização da Health Portugal tem passado, entre outras acções, pela presença em feiras internacionais de referência do sector, tais como a MEDICA (que decorre em Düsseldorf, Alemanha) e, mais recentemente, e pela primeira vez, a Bio-Europe (Estocolmo, Suécia), o principal evento europeu na área das Ciências da Vida.

Em entrevista à Marketeer, Joaquim Cunha, director executivo do Health Cluster Portugal, aborda a trajectória recente de crescimento do sector no plano internacional e desvenda a estratégia para os próximos anos, que passará, por exemplo, por uma maior aposta no mercados a Oriente. «A Saúde nacional tem sabido e conseguido vingar nos mercados mais exigentes. É um processo maratona em que os resultados demoram muito a aparecer. O lado bom é que, uma vez conseguidos, tende a permanecer», frisa o responsável.

Joaquim Cunha, director executivo do Health Cluster Portugal

A marca Health Portugal foi criada em 2020 com o intuito de aumentar a projecção internacional do sector português da Saúde. Que estratégia tem sido assumida nesse sentido e com que resultados?

A marca Health Portugal, desde a sua constituição, tem funcionado como instrumento catalisador e promotor da comunicação da oferta do sector e da sua actividade no mercado global, posicionando Portugal como um dos países inovadores na Saúde, tecnologicamente avançado e com as melhores práticas.

A acção tem decorrido essencialmente em três níveis, através da presença com stand próprio em feiras e exposições com impacto global, como são o caso da MEDICA, HIMSS Europe e, mais recentemente, a Bio-Europe; da presença online com website próprio e nas redes sociais, Meta (Facebook e Instagram) e LinkedIn; da organização, em Portugal, de eventos internacionais, como foi o caso da co-organização do grande evento HIMSS23 Europe, no qual a marca teve uma presença e expressão significativas, e a organização da Innovating Health Together Conference, um evento que projecta a saúde nacional para o estrangeiro, pelos temas em discussão, pela promoção das startups nacionais e de projectos transformadores da saúde com forte componente exportadora e pela criação de momentos de captação de parcerias e investimento.

Qual o posicionamento que o sector nacional da Saúde tem vindo a consolidar além-fronteiras?

A Saúde nacional tem sabido e conseguido vingar nos mercados mais exigentes. É um processo maratona em que os resultados demoram muito a aparecer. O lado bom é que, uma vez conseguidos, tende a permanecer. Na última década, verificou-se um aumento crescente e estruturado do volume de exportações, reflexo de apostas acertadas de todos os seus agentes, em particular as empresas.

Este crescimento no mercado global assenta na orientação estratégica e na vocação exportadora da indústria nacional, onde se destaca a área do medicamento, com presença consolidada em mercados muitos exigentes como os Estados Unidos da América (EUA), Alemanha, França ou Espanha. Com menor expressão, mas igualmente estabilizada, podemos encontrar a dinâmica do comércio externo da fileira dos dispositivos médicos. Em processo de afirmação, cavalgando as fortemente inovadoras tecnologias associadas ao digital e à utilização inteligente dos dados, temos o que se vem designando por smart health, onde o potencial é enorme.

Em todas estas abordagens é visível a reputação e notoriedade que os produtos e serviços portugueses gozam hoje, indubitavelmente mais fortes e consistentes do que eram no passado e a crescerem de ano para ano.

Em que medida é que a crise do SNS tem ou não prejudicado a imagem e a actuação do sector no exterior?

Com toda a franqueza, a “crise do SNS” é sobretudo uma realidade interna e para consumo doméstico. Com efeito, com todos os defeitos e as inúmeras necessidades de melhoria mais do que diagnosticadas, o desempenho global do sistema nacional de saúde é bom e compara muito positivamente com os demais países, nomeadamente no contexto europeu.

Dito isto, não deixa de ser verdade que nunca foram tão grandes os desafios que a Saúde está e vai globalmente enfrentar devido à pressão demográfica, à exigência de mais e melhores cuidados e à escassez de recursos humanos, o que, paradoxalmente, representa uma grande oportunidade. Isto porque boa parte das respostas vai passar sobretudo pela adopção, massiva e inteligente, de tecnologia, em que as nossas empresas – em particular as de uma nova geração – se estão a posicionar.

Quais as principais exportações do sector português da Saúde?

Na actualidade, os produtos farmacêuticos são os que mais contribuem para o volume das exportações, seguidos da produção de instrumentos e material médico-cirúrgico, onde se incluem os dispositivos médicos e os diversos materiais consumíveis. Num prazo não superior a uma década, este perfil poderá ser ajustado com a evolução para uma maior intensidade tecnológica, no âmbito da já referida smart health.

Actualmente, quais os principais mercados externos?

Em 2023, os cinco principais mercados exportadores foram os EUA, Alemanha, Espanha, França e Bélgica. Admite-se que nos anos mais imediatos se observe alguma estabilidade a este nível, sem prejuízo da emergência de outros destinos, eventualmente com fortes ganhos de preponderância, nomeadamente na tendência para o Oriente. Esta tendência será tida em consideração na acção da marca Health Portugal em 2025.

Que balanço fazem da presença recente na Bio-Europe 2024 e na MEDICA? Que retorno trouxe?

A marca Health Portugal está presente na feira MEDICA, uma das maiores feiras mundiais de saúde, com stand próprio, desde 2020, e nas últimas três edições a sua imagem esteve representada em praticamente todos os expositores nacionais nesta feira.

Já a participação na Bio-Europe aconteceu este ano pela primeira vez. Um evento que já conta com forte presença nacional e que pode auxiliar ao crescimento destas áreas. A presença da Health Portugal nestes eventos permite dar palco e notoriedade internacional à saúde nacional, de uma forma geral, e aos participantes que integram estas missões, em particular, transferindo para eles o retorno directo destas iniciativas.

O que verificamos na generalidade é uma facilidade, a cada ano maior, em captar a atenção de empresas, investidores e outros países para o produto português.

Quantas empresas e startups integram actualmente a Health Portugal?

A Health Portugal é uma marca agregadora da Saúde nacional e tem como objectivo a representação internacional de todo o sector, sob um desígnio de uma saúde baseada em boas práticas, tecnologicamente avançada, com recurso humanos altamente qualificados e uma cadeia de valor completa desde a idealização de produtos e técnicas inovadoras até à sua concretização. Cabem nela e são nela representados todos os agentes da Saúde nacional, sem que estes a tenham de integrar directamente. Sob o desígnio da marca, estão hoje na sua montra nacional de produtos e serviços de saúde, bem como em outros projectos por ela promovidos, mais de 500 produtos nacionais de cerca de 200 empresas.

Quais os objectivos traçados pela Health Portugal para 2025?

Naturalmente, com uma forte continuidade da ação realizada nos anos anteriores, em 2025 os canais de aposta da marca Health Portugal serão, essencialmente, a presença no online, através de uma maior presença nas redes sociais, orgânica e paga, com um crescimento esperado a 3 dígitos, a atração de mais qualificadas visitas para o website da marca, especialmente estrangeiras e concretizar o Plano de Internacionalização do setor.

Texto de Daniel Almeida

*O jornalista escreve segundo o Antigo Acordo Ortográfico

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