Há menos em nós

Judite Mota_140x180

Parada no trânsito em frente a uma tela gigante da Nos pus-me a pensar no estado da comunicação comercial em Portugal, do que mudou, do que não mudou, do que piorou e do que melhorou. E foi neste ponto que a dúvida se instalou.

Melhorou alguma coisa para além da tecnologia na comunicação comercial em Portugal nos últimos anos? Há coisas boas claro. Gente talentosa aqui e ali, mas a verdadeira criatividade, a coragem criativa que não vem só dos departamentos criativos parece ter-se evaporado. Ninguém se atreve a nada. Ninguém quer sair do “confortável”, a expressão da moda que mata qualquer ideia que seja um nadinha atrevida é exactamente “não estou confortável com isso”. E quanto mais confortáveis ficamos menos temos em nós ao contrário do que diz a assinatura da Nos.

Há menos em nós quando a coragem fica à porta dos departamentos de marketing, dos departamentos de contacto e, sim, dos departamentos criativos.

Há menos em nós quando se tomam algumas decisões em comité que não aquecem nem arrefecem.

Há menos em nós quando se diz “a ideia é boa mas ainda é cedo/ não é para nós/ talvez para o ano”.

Há menos em nós quando chamamos a concurso meia dúzia de grandes agências e dois pequenos ateliers e queremos o produto de umas ao preço dos outros.

Há menos em nós quando o prazo é mais importante do que o trabalho.

Há menos em nós quando a folha de excel manda mais do que o talento. Há menos em nós quando trabalhamos em comunicação com a mesma paixão com que trabalharíamos ao balcão de um qualquer fast food.

Há menos em nós quando queremos o prémio mas nunca tivemos a coragem de aprovar ou de fazer o tipo de trabalho que os ganha.

Há menos em nós quando a culpa é sempre dos outros.

Há menos em nós quando o pré-teste, o teste e ainda o pós-teste levam a melhor sobre a inovação.

Há menos em nós quando escolhemos comunicar mais com a carteira e menos com as ideias.

 Há menos em nós quando contratamos especialistas e os tratamos como amadores.

Há menos em nós quando matamos marcas e não lançamos uma nova que seja melhor do que as anteriores.

O semáforo fica verde e eu avanço a pensar que ultimamente há muito menos em nós.

Texto Judite Mota

Fotografia  Paulo Alexandrino

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