Há censura nos Censos? Esta campanha diz que sim
Se os Censos não oferecem a possibilidade de todos os cidadãos expressarem a sua identidade de género e orientação sexual, então que se parta para as redes sociais. Em traços gerais, é esta a proposta da Associação para a Promoção da Igualdade (IPA) ao lançar a campanha #Censuradxs2021, em jeito de protesto face àquilo que considera ser a “invisibilidade das questões de género e orientação sexual nos Censos”.
Os Censos que estão a ser realizados neste momento, em Portugal, incluem apenas uma questão sobre o tema e limitam as respostas a “masculino” ou “feminino”. De fora ficam opções como “intersexo”, por exemplo. Além disso, os inquiridos não são questionados sobre a forma como se identificam (cisgénero, transgénero, não-binário) nem sobre a orientação sexual (assexual, bissexual, heterossexual, homossexual, pansexual).
A IPA pede, por isso, Censos mais inclusivos, que ajudariam a obter um maior esclarecimento e a combater a discriminação, tendo em conta a dimensão deste levantamento estatístico. Enquanto isso não é possível, a associação lança o seu próprio questionário paralelo, numa acção que conta com o apoio da agência FunnyHow.
#Censuradxs2021 tem como ponto de partida uma story no Instagram a partir da qual os utilizadores desta rede social podem assinalar o sexo, identidade de género e orientação sexual.
Segundo a IPA, os Censos são uma ferramenta indispensável para a criação de um retrato fiel da população, com estes dados a influenciar as políticas públicas durante os 10 anos seguintes. A associação acredita que os Censos 2021, realizados virtualmente, teriam sido uma oportunidade para conhecer melhor as condições socioeconómicas em que vivem os cidadãos com diferentes identidades de género e orientações sexuais, aferindo se existem discrepâncias discriminatórias.
A ideia para a acção #Censuradxs2021 surgiu quando o criativo André Sousa Moreira estava a responder aos Censos: «Ao preencher o formulário online, fiquei espantado por, em 2021, limitarmos a identidade da população a masculino ou feminino. (…) Sabemos todos hoje que existem diversas formas e identidades de género, todas elas válidas, e é a nossa obrigação dar-lhes representação e espaço ao garantir que são de facto contabilizadas e que ninguém fica mesmo de fora.»
Carlos Daniel Carreira, presidente da IPA, acrescenta que, além deste tema, também há outro em falta nos Censos 2021. «Recordo que também foi proposta a questão étnica. E ambas seriam importantes de estar plasmadas nos Censos. Até porque não sabemos se as minorias são mesmo minorias ou o sentido empírico se sobrepõe à realidade», conta o responsável.