Gerir o impacto da COVID-19: como é desenvolver a actividade de Public Affairs?
Por Gonçalo Carvalho e Lagos, Public Affairs manager na Guess What Comunicação
À presente data, começa a ver-se a luz ao fundo do túnel, mas é evidente que este grande acontecimento global – que a pandemia do novo coronavírus representa – terá implicações profundas para a nossa sociedade, a nossa economia e a nossa política.
As Relações Institucionais (também designadas por Assuntos Públicos ou Public Affairs) têm estado no centro de algumas das questões mais importantes da actualidade. Considerando que as empresas/associações tinham por vezes de desenvolver campanhas, ou um conjunto de actividades distintas ao longo de meses para tomarem decisões e influenciar os centros das decisões políticas na defesa dos seus interesses, estas abordagens tiveram agora de ser realizadas de um dia para o outro.
Do ponto de vista dos Assuntos Públicos, a prioridade número um dos nossos clientes e parceiros tem sido demonstrar responsabilidade e valor para apoiar a sociedade a atravessar esta crise ou assegurar todo o apoio ao Governo para se adaptarem à nova situação e ajudarem a uma rápida recuperação pós-crise.
Entre outras coisas, esta crise coloca vários desafios humanos, políticos, empresariais e de reputação, que são únicos também pela sua profundidade e amplitude. Neste sentido, apresento, de seguida, algumas notas sobre o papel e a importância que os Assuntos Públicos podem desempenhar para uma organização na gestão das questões relacionadas com a COVID-19:
Informação, Intelligence & Monitoring Legislativo
Os Assuntos Públicos têm sido capazes de fornecer informações e análises sobre as políticas com impacto directo nas empresas, desde o acesso às medidas do Governo para apoio ao emprego e às empresas até à nova regulamentação governamental. Neste sentido, temos vindo a trabalhar com clientes e parceiros de todos os sectores para ajudá-los a compreender plenamente que legislações estão a ser propostas – como oportunamente o Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros já referiu, podemos dizer que existe quase um ordenamento jurídico COVID-19 ao lado do ordenamento jurídico nacional.
Para avaliar o impacto da COVID-19 nos prazos políticos, legislativos e regulamentares, é igualmente fundamental que as organizações sejam capazes de obter dados e informações em tempo real para comunicar internamente.
Reputação
As empresas precisam de estar conscientes de que a forma como agem ao longo da crise pode ter um impacto potencial de longa data na forma como são vistas e na sua reputação futura, tanto com o Governo, como com a opinião pública em geral.
A influência não se exerce apenas através de reuniões
Sob o actual ambiente, os decisores políticos e legisladores reconhecem a importância do papel que desempenham nesta nova situação e o número de stakeholders dispostos a participar em videoconferências ou webinars tem sido interessante (em comparação com a disponibilidade anterior). Isto pode muito bem ter um impacto no envolvimento e gestão da relação com diferentes públicos/stakeholders, daqui em diante.
Muito poucas empresas ficarão imunes à mudança e os Assuntos Públicos (e de representação profissional de interesses) não são aqui excepcionais. Neste momento, durante a pandemia, em que todos estão a trabalhar em casa, incluindo os representantes políticos, é necessário repensar a estratégia de advocacy num mundo sem contacto físico. Do outro lado desta crise, é provável que mantenhamos o melhor daquilo que aprendemos e isto continuará a ser uma característica permanente do sector da consultoria estratégica de comunicação.
Digital
Até à data, muitas empresas subestimaram a possibilidade de activar uma estratégia digital em Public Affairs. Este é também o momento de repensar esta mesma estratégia e a forma de retirar e explorar ao máximo o seu potencial. Com efeito, uma estratégia digital (num momento de distanciamento social) pode ser um complemento útil para além das actividades (até aqui) tradicionais de Public Affairs para ajudar a criar e estreitar relações com stakeholders da esfera política, económica e sociedade civil.
Futuras oportunidades
Atenuar os impactos da crise e contribuir para a recuperação social e económica irá liderar a agenda institucional para os próximos meses e anos. No entanto, estou em crer que quer a nível nacional como no plano das instituições europeias,prosseguirão com as suas iniciativas mais emblemáticas – Alterações Climáticas, a Economia Circular, o Financiamento Sustentável, a Sociedade Digital – a par de programas específicos destinados a promover uma rápida recuperação.
Neste sentido, as autoridades quererão recuperar o terreno perdido e, ao mesmo tempo, fazer novas exigências. A curto prazo, a elaboração de políticas será mais rápida e mais profunda do que anteriormente. Para as empresas, isto será vital. Afinal de contas, as grandes reformas quebram resistências antigas e persistentes, mas implicam também riscos/desafios correspondentes para as empresas.
Contra este quadro, empresas e organizações terão de criar uma narrativa única para os seus públicos prioritários, muito mais transparente e sólida do que anteriormente.
Por conseguinte, as últimas semanas chamaram a atenção para o papel crucial que os Assuntos Públicos desempenham particularmente em tempos de crise. As decisões que os Governos vão tomar nos próximos meses terão implicações significativas a longo prazo. As empresas que consigam antecipadamente perceber isto e prepararem-se estarão na melhor posição para sobreviver e depois prosperar.