“Freelancer do Dia CCP by Marketeer”: Pedro Leal Almeida

É difícil sobressair por entre dezenas de currículos. A partir de certa altura, os nomes confundem-se e aquele que poderia ser o par perfeito para um projecto na calha acaba por fugir. Partindo do directório lançado pelo Clube Criativos Portugal (CCP), a Marketeer propõe conhecer melhor alguns dos talentos freelancers nas áreas da criatividade e comunicação.

Pedro Leal Almeida (designer) é o mais recente protagonista da rubrica “Freelancer do Dia CCP by Marketeer”, que apresentará, duas vezes por semana, exemplos de quem decidiu aventurar-se por conta própria.

Qual é o trabalho de que mais te orgulhas?

Não tenho um trabalho de que me orgulho mais. Ao longo da minha experiência profissional fui aceitando desafios que me levaram a desbravar caminho e a conhecer novas abordagens, contribuindo para o meu crescimento enquanto designer.

Por isso nomeio três projectos com os quais aprendi imenso:

Branding da marca Nos

O primeiro foi ter feito parte da equipa que desenvolveu o projecto de branding da marca Nos. Na altura estava na Fuel e trabalhei o segmento empresarial, foi a minha primeira experiência de criação de uma marca de grande envergadura como uma empresa de telecomunicações. Foi um trabalho de equipa de meses, em que várias agências trabalharam em conjunto, inclusive a Wolff Olins, o que permitiu a troca de experiências e aprendizagens entre todos. Aprendi a ter uma visão global de projecto através de todo o trabalho criativo, que abrangia os diferentes touchpoints de marca, desde design, publicidade, ambientes e até mesmo
posicionamento e a forma como a marca iria falar com o público.

Branding e Packaging Baby Well’s

Outro projecto que guardo como um dos meus top 3 é o projecto de branding e packaging da linha de bebé da Well’s que também criei na Fuel. Tenho-me especializado cada vez mais na criação de marcas e packaging e este desafio permitiu-me trabalhar estas duas áreas que muitas vezes estão associadas. É verdade que um projecto que não seja mainstream pode ser mais interessante a nível estético e de design, mas um projecto como este traz muitos desafios, como necessidades de informação, comunicação, do próprio design de produto e toda uma série de condicionantes de produção que podem limitar a criatividade, por isso orgulho-me do resultado final, de uma marca que não só representa o universo onde está inserido, como acima de tudo é uma marca democrática que gera identificação, quer nas crianças como nos pais.

O resultado foi um reconhecimento por parte do público que se reflectiu no negócio e que permitiu um crescimento orgânico da mesma. Actualmente, além da linha de packaging, já existem novos produtos, como brinquedos, peluches ou acessórios.

Proposta de branding Banco Montepio

O terceiro projecto que mais estimo nunca viu a luz do dia, mas permitiu-me aplicar de forma mais autónoma o que havia aprendido anteriormente. Esse projecto foi a criação da nova marca para o Banco Montepio, desenvolvido na Label – pensar como evoluir uma marca centenária e adequá-la às novas gerações e suportes de comunicação actuais. O resultado final deixa-me muito feliz porque vejo um projecto muito interessante do ponto de vista estético, mas acima de tudo eficaz para o propósito para o qual foi criado.

Qual é o projecto que queres fazer a seguir?

Até há muito pouco tempo, diria que um projecto global de marca onde pudesse aplicar os meus conhecimentos de branding e packaging, ou um projecto que me desafiasse, enquanto criativo, a mudar o meu processo de trabalho e a levar-me a aprender comigo mesmo. Mas dada a conjuntura em que vivemos, acho que o design é uma ferramenta útil para provocar algo, por isso gostava de agarrar um projecto que me leve a experimentar novas áreas, que promovesse uma mudança e, acima de tudo, um impacto positivo na comunidade, por exemplo, no sector social, seja de natureza independente ou mainstream.

Porque é que te devem contratar?

Considero-me um designer multidisciplinar, mas acima de tudo orgânico. Não tenho propriamente um estilo gráfico próprio com o qual me identifico, todos os meus projectos ganham expressões bastante diferentes entre si, mas tenho um pensamento e método de trabalho criativo muito próprio, trabalho os projectos sempre com uma componente estratégica, bem alicerçada naquilo que são as necessidades do cliente.

Para mim, as marcas necessitam de ser cada vez mais versáteis e possíveis de se adaptar às mudanças constantes com que o mundo se depara, por isso devem ser bem pensadas na sua génese, de forma a serem orgânicas e a terem elasticidade para crescerem. Considero que, enquanto designer, posso contribuir com uma visão ampla, uma metodologia de trabalho organizada e um pensamento criativo e estratégico para ajudar a criar essas marcas, produtos ou acções com propósito, eficácia e, sobretudo, impacto.

Como vês a situação actual?

Quando esta pandemia chegou, na indústria criativa falou-se de oportunidade. 10 meses depois é difícil olhar para a rua pela janela de oportunidade. Acho que esta situação vai obrigar o mundo a olhar para si mesmo de outra forma, vai levar-nos a repensar muita coisa, a nossa forma de viver, a nossa maneira de lidar com o que nos rodeia e a valorizar aquilo que temos.

As relações humanas irão mudar, a forma como absorveremos informação não será igual. As pessoas estão cansadas, esgotadas, uns porque estão na chamada linha da frente a lidar com o vírus todos os dias e a tentar manter de pé uma sociedade, outros porque se sentem impotentes, frustados, sozinhos e, pelo meio, quebram-se ligações e estímulos, o que será um grande desafio para a criatividade, pois ela vive de relações e emoções.

Nada voltará a ser igual após o período pelo qual passamos, haverá um grande impacto na sociedade, vai ser necessário reinventar hábitos, aprender novos, para muitos vai ser necessário começar do zero. Acho que não estávamos preparados para o que chegou, o que não nos permitiu prever soluções, por isso, acredito que continuamos a caminhar para o desconhecido. No entanto, como sabemos, o desconhecido traz mudança e mudança traz oportunidade.

Desde quando és freelancer e porquê essa decisão?

Assumi-me enquanto freelancer numa altura pré-Covid, mas que coincidiu com a chegada do vírus, mais precisamente em Abril de 2020. Até aqui sempre trabalhei em agências, como designer residente – comecei pela White Way (WyGroup), de seguida estive quase cinco anos na Fuel e nos meus dois últimos anos de agência na Label, onde assumi funções de director Criativo no último ano.

Resolvi enveredar pelo freelance mesmo antes de pensar sequer na crise que se avizinhava porque tinha necessidade de conhecer métodos de trabalho de outras agências, através de colaboração com essas equipas, mas também porque sentia que enquanto designer muitas vezes perdia um contacto mais próximo com o cliente (que é legítimo quando se trabalha em agência, pelo volume de trabalho diário e pela forma como é uma estrutura de agência) e que isso fazia com que se dissipasse informação de parte a parte e o trabalho criativo fosse muitas vezes comprometido. Por isso, enquanto freelancer, quero experimentar uma relação próxima com diferentes agências, ateliers, outros freelancers, e também com clientes, num contacto mais directo envolvendo-os no processo criativo, e poder analisar de perto as necessidades do projecto, bem como o cliente poder valorizar aquilo que é a criatividade.

Ultimamente, sinto que as grandes agências trabalham cada vez mais como consultoras (e muitas das mais pequenas seguem-lhes os passos), que respondem de forma quase mecânica e orientada para os números, e não como motores de criatividade. Acho que uma relação mais próxima com o processo criativo é necessária para potencializar a criatividade, mas acima de tudo para uma valorização mútua, que muito certamente contribuirá para um sentimento de pertença no resultado final.

Por coincidência, e com esta mudança de paradigma que a sociedade enfrenta, acho que ainda vai ser mais necessário este trabalho de equipa entre cliente e criativo porque as mudanças passarão a ser galopantes, o tempo será curto, e, com a era do digital a dominar, a informação passará a estar em constante mudança, pelo que o ritmo de trabalho tem de ser assumidamente mais ágil, orgânico, e são necessários menos processos e intermediários.

Quais as vantagens e desvantagens de ser freelancer?

Confesso que não consigo dar uma resposta concreta a esta pergunta. Para mim, as vantagens são a liberdade, liberdade de criar o meu horário, de gerir o meu tempo, de escolher os projectos que quero fazer, mas também a possibilidade de colaborar com um leque diversificado de pessoas, desde agências, criativos, estrategas ou clientes, conhecer novos métodos de trabalho, novos pensamentos criativos e pontos de vista, e com isso estar em constante crescimento.
Como desvantagens, muitas vezes a solidão no desenvolvimento criativo. É bom podermos ter contactos com os quais possamos trocar ideias. Muitas vezes, a última decisão é tua e a responsabilidade é sempre tua e isso pode assustar. Também a incerteza é uma desvantagem, não há um ordenado fixo no final do mês e termos de ser nós a gerir a facturação e orçamentação, para mim ainda é um mundo novo por descobrir.

Artigos relacionados