Frágil!

Há pouco tempo deparei-me com um gráfico feito por um director criativo de que não me lembro o nome e que listava as fases de aprovação a que uma ideia, por mais simples que seja, está sujeita actualmente. Listava ele para um simples filme:

  1. Briefing do cliente; feedback, revisão, feedback, aprovação, briefing criativo;
  2. Desenvolvimento de ideia; feedback, revisão, feedback, feedback, revisão, feedback, revisão, aprovação interna;
  3. Apresentação da Ideia ao cliente; feedback, revisão, feedback, revisão, feedback, revisão, aprovação;
  4. Apresentação aos stakholders; feedback, revisão, feedback, revisão, feedback, revisão, aprovação;
  5. Desenvolvimento de materiais para teste; feedback, revisão, feedback, revisão, feedback, revisão, aprovação;
  6. Pesquisa qualitativa; debrief, revisão, feedback, revisão, feedback, revisão, aprovação;
  7. Teste de peças criativas; feedback, revisão, feedback, revisão, feedback, revisão, aprovação;
  8. Pesquisa de realizadores e recomendação; feedback, revisão, feedback, revisão, aprovação;
  9. Pré-produção e produção; feedback, revisão, feedback, revisão, feedback, revisão, aprovação;
  10. Edição; feedback, revisão, feedback, revisão, feedback, revisão, aprovação;
  11. Pós-produção; feedback, revisão, feedback, revisão, feedback, revisão, aprovação;
  12. ON AIR DO RAIO DO FILME!

Esta loooonga lista estava irónica e adequadamente impressa sobre uma imagem do Monte Everest.

É que, tal como um ser humano, uma ideia é um ser conceptual frágil. Uma subida ao Everest das aprovações põe qualquer ideia em risco de vida. E tal como acontece com um alpinista, a morte da ideia pode acontecer inesperadamente a qualquer momento da subida e ter várias causas: avalanches de opiniões desinformadas, fendas profundas ocultas sob um manto fofo não de neve, mas de simpatia aparente, privação de oxigénio que tolda o raciocínio dos decisores ou mudanças súbitas da direcção do vento entre briefing e debriefing por exemplo.

E mesmo chegando ao topo da sua montanha, é possível e frequente que a ideia tenha perdido pelo caminho algumas pequenas (e aparentemente pouco relevantes) partes do corpo que a deixam desfigurada. É que uma ideia sem dedos dos pés pode ainda ser uma ideia, mas nunca vai conseguir andar para a frente como era suposto andar.

Dizem as estatísticas que cerca de 6,5% dos alpinistas que tentam subir o Monte Everest morrem. Na montanha das aprovações de uma ideia eu diria, sem nenhuma base estatística, que deve ser exactamente o oposto: apenas 6,5% das ideias sobrevive.

E se calhar estou a ser generosa. Mas pronto, é Natal e tal.

Judite Mota
CCO na VMLY&R
judite.mota@vmlyr.com

Artigo publicado na edição n.º 281 de Dezembro de 2019

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