Fim do ‘fact cheking’ na Meta resulta de “pressão política” e vai aumentar desinformação

Dois investigadores contactados pela Lusa na sequência do anúncio da Meta de terminar com o ‘fact cheking’ acreditam ter sido feita “clara pressão política” e que agora haverá “menos controlo da desinformação”.

O fundador da Meta, Mark Zuckerberg, anunciou no dia 07 de janeiro que iria terminar com o seu programa de verificação de factos e José Moreno, assistente de investigação no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-Iscte), acredita que desta forma “irá aumentar o conteúdo desinformativo nas plataformas” da Meta.

O investigador do ISCTE considera ainda que esta ação vai contra o propósito da Meta de reduzir “substancialmente o peso da informação política dentro do Facebook”, afirmando que “vai haver menos controlo da desinformação e poderá haver também um aumento do conteúdo político dentro do Facebook”.

Outras questões são levantadas por Rita Figueiras, investigadora no Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (CECC) da Universidade Católica Portuguesa, que acredita que “baixar as barreiras ao discurso permite que discursos que circulavam nas redes sociais de nicho [Telegram & Reddit] possam agora entrar numa rede ‘mainstream’ como o Facebook”.

A investigadora considera ainda que esta é uma tentativa da Meta “para se adequar aos tempos” em que “o ‘fact check’ é apresentado com censura”, acrescentando que é “uma maneira de manter uma boa relação com a administração” de Donald Trump”.

Rita Figueiras aponta também para outra matéria, sendo essa a questão dos dados, visto que a Meta ao abrir o Facebook à circulação de discurso político ativo ganha “fontes de dados para treinar os seus modelos de inteligência artificial”.

Já quanto ao sistema de notas comunitárias, semelhante ao do X, a investigadora demonstrou alguma preocupação, dado que neste sistema “as evidências e os factos não dão a validade, o que valida é o consenso”, ao contrário do que acontecia no programa de ‘fact checking’ do Facebook, onde a informação era verificada por profissionais.

Contactado pela Lusa, o diretor do Polígrafo (parceiro da Meta), Fernando Esteves, assegurou que a decisão da Meta apenas afeta os EUA, e que não há informações de que esta se alargue à Europa. Como tal, os verificadores de factos parceiros da Meta irão continuar em atividade normal.

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