Fever cresce em plena pandemia: «As pessoas continuam a ter muita necessidade de interagir»

Se é certo que a pandemia veio abalar a actividade de empresas dos mais variados sectores, também é verdade que alguns negócios conseguiram florescer por entre a crise. Especialmente na esfera digital, surgiram oportunidades no sentido de colmatar novas necessidades dos consumidores. A Fever é exemplo disso mesmo: a aplicação que oferece sugestões de actividades para preencher os tempos livres e que, em simultâneo, organiza os seus próprios eventos (alguns deles em parceria com marcas) registou durante a pandemia os seus melhores resultados de sempre em Portugal – onde está desde 2018.

Diogo Almeida, country manager da Fever em Portugal, conta à Marketeer que o crescimento esteve perto dos 100%, nos passados meses de Setembro e Outubro. «Ao utilizar a nossa tecnologia de análise de dados, conseguimos adaptar-nos rapidamente às novas restrições e identificar experiências seguras e inovadoras», justifica o responsável.

Numa altura em que o número de actividades culturais disponível é mais reduzido do que o habitual, a Fever tem adaptado os eventos que promove de modo a oferecer novas experiências aos portugueses enquanto a palavra “coronavírus” permanece parte do dia-a-dia. E cada experiência lançada tem esgotado na própria semana, prova de que o público está ávido por cultura e entretenimento.

Segundo dados da plataforma, as experiências criadas com uma abordagem Fever têm 10 vezes mais probabilidade de esgotar do que uma experiência normal. Em parte devido ao facto de a comunicação da Fever chegar a mais de dois milhões de pessoas por semana.

Setembro e Outubro foram os melhores meses de sempre para a Fever. Que resultados conquistaram?

Ao nível da marca, conseguimos consolidar uma criação original tão importante como o Candlelight, com um total de 30 eventos realizados em quatro meses e milhares de participantes, assim como criar novos e originais eventos como o Dinning in The Dark.

Em termos de alcance, também foram bons meses para as nossas plataformas: mais de 2 milhões de pessoas foram alcançadas por semana. E, em termos absolutos, foram os melhores meses de sempre, com um aumento perto de 100% em relação ao ano passado em número de bilhetes vendidos.

Como justificam este resultado?

Ao utilizar a nossa tecnologia de análise de dados, conseguimos adaptar-nos rapidamente às novas restrições e identificar experiências seguras e inovadoras. Graças a isso, conseguimos ajudar os nossos parceiros – produtores de eventos, restaurantes e outros espaços culturais – a adaptar e criar experiências com maior probabilidade de serem bem-sucedidas na nossa plataforma.

Pararam em algum momento desde que a pandemia teve início?

Realmente não. Somos uma empresa jovem e inovadora, cheia de empreendedores talentosos, e isso ficou ainda mais claro durante esta crise e no confinamento. Em apenas algumas semanas, adaptámo-nos e transformámos experiências “fora de casa” em experiências online: degustações com enólogos especializados, espectáculos ao vivo e até salas de fuga virtuais com actores. Por tudo isso, vemos agora o futuro do lazer como algo híbrido, multicanal, onde as experiências físicas coexistirão com o online.

E tiveram de repensar de alguma forma o negócio?

Durante o período de confinamento, as experiências online passaram a representar cerca de 60% da nossa facturação. Os 40% restantes vieram de eventos físicos que iam acontecer no futuro. Isto demonstra, mais uma vez, que a sociedade estava (e continua) interessada em interagir com outras pessoas (amigos ou familiares – sendo por isso uma das nossas missões criar experiências seguras e genuínas) nos seus momentos de lazer e no que toca ao entretenimento.

A Fever chegou a Portugal em Agosto de 2018. Que balanço fazem destes dois anos?

Estamos muito satisfeitos com a decisão de abrir em Portugal e com os resultados alcançados, por isso expandimos também para o Porto, embora continuemos a acreditar que há ainda muita margem de crescimento para apoiar a nossa comunidade de criadores e produtores de eventos e experiências. Exemplo disso são as três edições do Candlelight dedicadas ao Natal no Porto: ‘Músicas de Natal à luz das velas’, ‘Coro de Natal à luz das velas’ e ‘Tchaikovsky e Vivaldi à luz das velas’, interpretados pelo Quarteto de Cordas Opus Quatro e pelo grupo Pop-Up Vozes Portáteis.

Em quantas cidades estão presentes neste momento? Planeiam alargar o leque?

Após os primeiros anos, em que demonstrámos que o modelo era rentável e sustentável nesses mercados, e escalável (com aberturas como Paris, Los Angeles ou mesmo Lisboa) e com a confiança dos nossos investidores, demos início ao plano de expansão em curso. Isso inclui, não apenas novos países como a Austrália, mas também a aposta em cidades-chave de mercados existentes, como Chicago. Hoje, estamos em mais de 12 países e 30 cidades, algumas das quais foram lançadas nestes últimos meses, e seguem-se mais algumas cidades em breve.

Em Janeiro do ano passado, anunciaram um plano de investimento de até 5 milhões até ao final de 2020. Em que estado está este investimento?

Apesar das circunstâncias actuais, temos conseguido investir grande parte desse valor em conceitos como os acima mencionados, bem como na criação das infra-estruturas e equipamentos necessários para garantir o sucesso das experiências da nossa comunidade de criadores.

Fever Originals tem sido uma das apostas da aplicação. São sempre eventos em co-criação? Como escolhem os parceiros?

A Fever Originals nasceu para ajudar organizadores, criativos e marcas a divulgar e criar experiências únicas e originais. Fazemos isso confiando na informação de que dispomos para irmos prevendo a procura. No fundo, estamos a construir a Netflix das experiências.

E, tal como a Netflix faz, aproveitamos a nossa informação e análise de dados para criar o nosso próprio conteúdo original, que chamamos de “Fever Originals”. A análise de previsão da procura, assente na nossa base de dados de comportamento permite-nos prever a sua probabilidade de sucesso. Por outras palavras, a nossa plataforma tecnológica permite-nos prever se uma experiência será bem-sucedida ou identificar a melhor forma de a modificar e torná-la bem-sucedida. Por exemplo, em Espanha criamos produções como o Candlelight Classical Music Concerts, através dos quais democratizamos o acesso à música clássica, mas também o Polar Sound, o primeiro festival de montanha, ou a experiência imersiva La Casa de Papel, que produzimos em colaboração com a Netflix.

Quanto à forma como escolhemos os nossos parceiros, optamos por pessoas e projectos que nos inspirem e liguem as pessoas através de experiências de lazer e entretenimento. Podemos oferecer aos nossos parceiros todo o conhecimento que fomos adquirindo com a promoção e organização de milhares de eventos e experiências em todo o Mundo.

Investimos em todos os tipos de experiência de lazer, em projectos com potencial, que podem chegar a um elevado número de pessoas ou cidades e que possam ser replicados diversas vezes, e em projectos viáveis, com um plano de negócios sustentável a médio prazo.

Criam eventos com marcas?

Sim, efectivamente. Ajudamos as marcas em todo o processo, do início ao fim. Usamos as nossas equipas de análise de dados e os criativos para a criação do conceito, desenvolvimento e criação do conteúdo, tanto a nível de comunicação como da própria experiência. E temos trabalhado com inúmeras marcas: Danone, Diageo, BMW, Sony Pictures, Campari, etc.

A equipa da Brand Partnership em Portugal é composta pela Alexandra Villinger, com experiência em estratégia e criatividade; pelo Miguel Correia, que já trabalhou em marcas como a Pernod Ricard e The Economist; e é liderada pela Berta Ruiz Del Árbol, com experiência em agência e anunciante. Por sua vez, esta equipa conta, também, com uma equipa de criação ad hoc para poderem satisfazer todas as necessidades de uma marca.

Que tipo de eventos têm mais sucesso em Portugal?

A verdade é que as pessoas continuam a ter muita necessidade de interagir com outras e temos notado que o interesse e a procura por experiências presenciais é enorme, com as vendas de experiências para 2021 elevadas.

As nossas experiências seguras, aquelas que garantem distanciamento entre as pessoas ou para grupos pequenos, estão a vender excepcionalmente bem, assim como todos os eventos ao ar livre e os pop-ups imersivos.

A série Candlelight Open Air, um conceito original Fever, que fizemos tanto em Lisboa quanto no Porto, e o Magical Garden Belém são bons exemplos de eventos ao ar livre que tiveram muito sucesso. Assim como o conceito Dining in the Dark, também um Fever Original em que os participantes jantam de olhos vendados, sem saberem o que vão comer, transformando o jantar numa experiência gastronómica, totalmente sensorial e divertida, que é outro exemplo de um evento seguro e original e que esgotou várias sessões em poucos dias.

Há diferenças em relação aos outros países onde a Fever está presente?

De um modo geral, existem mais semelhanças do que diferenças. No entanto, existem comportamentos que variam conforme a cidade. Por exemplo, em Los Angeles a aceitação do produto foi muito mais rápida – porque é uma cidade com uma cultura de entretenimento muito forte e que tem uma boa empatia com produtos relacionados com diversão. Nova Iorque, por outro lado, foi um pouco mais difícil porque é uma cidade mais céptica e com maior dificuldade em mudar de hábitos. Porém, assim que se consegue entrar no mercado, o seu grau de fidelização é muito elevado.

Na Europa, se compararmos Portugal e o Reino Unido, por exemplo, verifica-se que em Portugal (e em Espanha) as pessoas tomam decisões com menos tempo de antecedência, enquanto os ingleses planeiam com maior antecedência. Todo esse tipo de informação é útil não só para nós, mas também para todas as empresas com as quais trabalhamos globalmente.

Texto de Filipa Almeida

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