Feeling OPTIMISTA

Por Rodrigo Gralheiro, Head of Digital Brand NOS

“Quando entro numa empresa que tem um néon “Only Good Vibes” fico logo desconfiada, já sei que há problemas.” Esta frase surgiu numa conversa privada com uma psicóloga (que não vou identificar) e no contexto de não valorizarmos as emoções, ou valorizarmos só algumas. Hoje não há lugar para a tristeza ou para um honesto: “não sei…”. Aqui só good vibes, não estragues o clima. Acontece que a tristeza é fundamental para, imagine-se!, a aprendizagem. Ficar triste porque uma coisa não correu como prevíamos é saudável. Essa tristeza, bem gerida, é o que nos compele a não querer repetir, a melhorar, a evoluir. Lá está, a aprender.

Não me perguntem porquê, ligações do cérebro, isto levou-me a pensar no momento que vivemos com a Inteligência Artificial, e o conceito de visão ingénua da informação do Yuval Harari. Aparece logo nas primeiras páginas do Nexus e, simplificação minha, explica que há uma visão optimista sobre a informação que defende que quanto mais informação tivermos melhor. Informação = verdade, e esta é fonte de sabedoria e poder. Os seus defensores reconhecem que pode haver problemas nesta visão devido às fontes de informação; por serem desadequadas, falsas, etc. Como resolvem este problema? Com mais informação, ela é afinal a fonte da verdade.

Esta visão ingénua é, para mim, também muito optimista. Se há coisa que as redes nos ensinaram é que foram fonte de grande desenvolvimento, mas é hoje consensual que também têm muitos perigos e são fonte de desequilíbrios, e descobrimo-lo demasiado tarde. E é aqui que entra a Inteligência Artificial. Ai de quem diga bem! Ai de quem diga mal! Estamos polarizados (algo que não esteja?).

E se o optimismo não for só “Only Good Vibes”? E se tivermos o nosso momento de tristeza pela ingenuidade do início das redes e como as deixámos chegar a este ponto? É possível um optimismo que reconheça erros do passado e permita que a Inteligência Artificial cresça prevendo os potenciais problemas, protegendo os indivíduos sem estrangular com regulação o seu desenvolvimento?

“Only Good Vibes”. Só pensava nisto quando passava por cafetarias onde há muitos sorrisos e nenhuma pegada carbónica da tosta de abacate ou do café do Nepal. Ingenuidade. Alguém faça um néon do “Aqui não se vende fiado”. Não nos fiemos que vai correr tudo bem, façamos as perguntas que têm de ser feitas e se disserem “não és optimista”, talvez mereçam um bom e velhinho “Toma!”.

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