Família Lego acusada de hipocrisia entre promessas ambientais e hábitos de luxo

A dinastia proprietária do gigante dinamarquês dos brinquedos foi acusada de má postura ecológica depois de ter sido revelado que os seus três jactos privados efetuam mais de 300 voos por ano para destinos turísticos, apesar da empresa ostentar políticas sustentáveis.

Todos os anos “recebemos centenas de cartas de crianças com ideias muito engenhosas sobre o que podemos fazer para cuidar do ambiente. Queremos que saibam que os ouvimos e estamos a esforçar-nos muito para fazer a nossa parte para construir um futuro ambiente sustentável. ”

É assim que a gigante dinamarquesa dos brinquedos Lego apresenta as suas nobres intenções ambientais no  website. Ao mesmo tempo, porém, os Kirk Kristians, a família proprietária da empresa desde que o carpinteiro Ole Kirk Christiansen (originalmente o apelido era com ch e não com k) a fundou em 1932, voam com prazer nos três jatos privados da família: mais de 300 vezes por ano, em 2022 e 2023. Para Paris, para Londres, para a Florida, para Ibiza…

Uma contradição flagrante, uma vez que os aviões privados são um dos meios de transporte mais prejudiciais para o clima. De acordo com um estudo realizado para a emissora pública dinamarquesa DR, por Morten Winther, especialista da Universidade de Aarhus e conselheiro da ONU e do Governo dinamarquês, no cálculo da poluição climática, os jactos dinamarqueses emitem em média 17 vezes mais gases com efeito de estufa por passageiro do que um avião dinamarquês.

O uso e abuso de jatos acaba de ser denunciado por The Private Planes of the Super Rich (De superriges privatfly), um documentário DR no qual os Kirk Kristiansens têm recebido maior atenção, apesar de também tratar de outros aviões e ultra-famílias ricas do país.

A onda de críticas aos proprietários de Lego, no meio de acusações de ecopostura, está a ser feroz.

Uma situação insólita para uma dinastia que sempre se caracterizou pela discrição, com a única excepção do bon vivant Anders Kirk Johansen, com o seu atrevido amor ao luxo, os  4×4 afundados no gelo e um tempestuoso divórcio.

Embora a Lego não tenha sido muito afetada, uma vez que Anders pertence ao ramo da família que vendeu as ações na empresa ao atual patriarca, Kjeld Kirk Kristiansen (76), por um valor astronómico.

Os aviões em causa, tal como o de Pedro Sánchez, são Dassault Falcon: um 8X, um 2000EX e um 7X. Sánchez desfruta de um Falcon 900X. Mais caro que o 7X, mas mais barato que o 2000EX e o 8X, que ainda existem.

Todos os jatos estão cotados em nome da Kirkbi, uma holding familiar e empresa de investimento que detém 75% das ações da Lego. Citando razões de segurança, Kirkbi não revela quem está a bordo. A DR não conseguiu determinar se são sempre utilizados por Kirk Kristiansen ou se também são emprestados a outras pessoas.

O documentário, no entanto, descobriu que os três Falcões desembarcam frequentemente em destinos turísticos espanhóis como Málaga, Palma e Ibiza; para além de Inverness e Edimburgo, na Escócia, onde a família possui várias propriedades; Sankt Gallen, Genebra e Zurique, na Suíça; e também Paris, Londres e Fort Lauderdale, Florida.

Os voos partem sobretudo de Billund, sede da Lego e segundo aeroporto da Dinamarca, construído em 1961 pelos Kirks e entregue a vários municípios da região para que o pudessem expandir gradualmente até se tornar um dos principais aeroportos da Escandinávia.

Outra revelação incómoda é o facto de muitos dos voos estarem relacionados com eventos equestres. Os cavalos são a grande paixão dos Kirk, proprietários de dois dos melhores estábulos do país. Aqui, aparece Agnete Kirk Thinggaard (41), a filha mais nova de Kjeld e cavaleira olímpica.

Nos últimos seis anos, os jatos Kirkbi voaram em pelo menos 29 ocasiões para aeroportos próximos de locais onde foram realizadas competições de dressage nas quais Agnete e outros Kirks estiveram presentes durante as datas revistas.

Em julho de 2019, um dos aviões fez cinco viagens de ida e volta em seis dias, de Billund a Aachen. Padrões semelhantes foram registados em Roterdão e, do outro lado do Atlântico, em Fort Lauderdale.

O inquérito da DR mostra que em 2020 e 2021, anos da pandemia, foram realizados anualmente cerca de 200 voos. Em 2022 e 2023 aumentaram para 300. Kirkbi reagiu ao documentário garantindo em comunicado que a empresa está “focada na redução da pegada climática” do seu transporte e que a utilização de aviões privados diminuiu menos de metade desde 2019.

Os meios de comunicação dinamarqueses, no entanto, concordam que a imagem da Lego é prejudicada quando todas as suas promessas verdes são obscurecidas por hábitos privados que vão na direcção diametralmente oposta. Até agora, o único Kirk controverso Era Anders Kirk Johansen (46), filho de Gunhild e sobrinho do patriarca Kjeld.

Muito criticado, a sua maior traquinice, em 2021, foi afundar um Suzuki Jimni no lago artificial de Rohden Gods, propriedade que possui junto ao fiorde de Vejle. Queria testar se o gelo de 13,5 centímetros de espessura que cobria a água era capaz de suportar as 1,3 toneladas de peso do veículo. “Ainda bem que não experimentei com o meu Rolls Royce haha”, escreveu no Instagram. Anunciou então que iria usar um helicóptero para retirar o carro.

Anders esteve também envolvido num divórcio tempestuoso com a primeira mulher, Anja Buchwald, com quem se casou em 2011 na presença dos então príncipes herdeiros Frederick – um parceiro de caça – e Mary.

Após a separação em 2016, voltou a casar em agosto, com Julie Holmgaard, 15 anos mais nova. Desta vez, o rei Frederico e Maria recusaram o convite.