Exportar música portuguesa: «Têm de fazer o trabalho de casa»
Para que a música portuguesa ultrapasse fronteiras, não é apenas necessário que se cante em inglês. Aliás, não é de todo um requisito. Os músicos também não podem achar que o talento é suficiente até porque talento não falta, como sublinharam os oradores dos diferentes painéis da conferência “O Futuro da Música”, realizada no âmbito do Super Bock Laboratório Criativo.
O que é preciso, então? Jwana Godinho deu o mote e os restantes concordaram: «Têm de fazer o trabalho de casa». Num painel dedicado ao tema “De Portugal para o Mundo”, a responsável pela contratação de bandas da Música no Coração, e consequentemente pela escolha dos artistas que actuam no Super Bock Super Rock, sublinha que o talento é essencial mas que é preciso pesquisar, procurar e ir à luta. Além de compor boa música – até porque este é um critério muito subjectivo -, as bandas têm de garantir que dão um bom espectáculo ao vivo e que levam algo de novo aos festivais ou locais a que se propõem ir tocar. Sim, porque se falarmos de bandas novas, a procura por novos trabalhos tem de estar também do seu lado e não esperar que alguém os descubra num vídeo no YouTube. Têm de fazer o trabalho de casa.
Outro facto determinante é a questão da diferenciação. O que podem as bandas portuguesas oferecer às editoras ou promotoras lá fora? Cantar em português não basta, já se disse. Por entre milhares de bandas, as entidades internacionais apenas vão apostar naquelas que lhes trouxerem algum retorno, como sublinhou Hugo Ferreira, da Associação de Músicos, Artistas e Editoras Independentes (AMAEI). O responsável pela associação deu a conhecer ainda um dado sobre os seus associados: «No bandcamp (repositório e plataforma de venda de música), vendemos mais para o estrangeiro do que para Portugal.»Isto prova que a exportação digital já está a acontecer. Falta avançar com a física.
Nuno Saraiva, da Why Portugal, acredita que tal pode ser feito através de “exchange programs” e não de exportação, ou seja, realizar trocas entre países poderá ser mais fácil do que tentar forçar uma relação unilateral. Neste momento, existem três festivais portugueses a participar no European Talent Exchange Programme, rede europeia que promove a partilha de músicos de diferentes nacionalidades para festivais nacionais. O Super Bock Super Rock é um deles, mas também participam o Nos Primavera Sound e o Westway Lab.
Num segundo painel, dedicado a “Estratégias online e offline para a promoção de música”, a principal conclusão a retirar é a de que a tecnologia e as plataformas digitais são já o presente e que a indústria da música não se pode recusar a esta mudança. Miguel Leite, CEO do Tradiio, garante que o caminho passa por recuperar a ligação emocional com os fãs e que a sua plataforma pode ajudar. Os músicos deverão apostar numa relação mais directa com os fãs e a Internet permite isso mesmo. O caso de Emmy Curl, cantora e uma das oradoras, mostra isso mesmo: cria, distribui e consegue um ordenado sem sair do quarto.
Rui Santos Couto do MusicVerb, software de Marketing para booking de artistas, acredita que esta personalização pode ser aplicada também na relação com outros profissionais. Enviar uma newsletter todos os meses com o mesmo conteúdo para todos os promotores de espectáculos e editoras não vai surtir efeito. O trabalho de casa, neste caso dedicado a cada “alvo”, volta a ser palavra de ordem.
Texto de Filipa Almeida