Europa quer monitorizar telemóveis dos cidadãos para travar COVID-19

À semelhança do que acontece em alguns países asiáticos, também os governos europeus estão a olhar para o telemóvel como uma possível fonte de informação para o combate ao COVID-19. O plano passa por pedir às companhias de telecomunicações que partilhem dados anónimos sobre os seus clientes, nomeadamente localização.

Segundo o site Politico, alguns países já avançaram mesmo com o pedido. Os governos consideram que esta poderá ser uma ferramenta estratégica no sentido de localizar e monitorizar a evolução das cadeias de transmissão, compreendendo melhor os padrões do novo coronavírus. Seria possível também avisar pessoas potencialmente expostas ao vírus, evitando a sua propagação.

«A ideia é estar um passo à frente da curva», explica Frederic Pivetta, fundador da Dalberg, uma empresa dedicada a data analytics que foi contratada pelo governo belga para utilizar dados de telecomunicações para mapear a propagação do novo coronavírus. Este exercício, explica ao Politico, tem como propósito aplanar a curva, «para que menos pessoas sejam infectadas porque sabemos onde estão aquelas que estão infectadas hoje».

A mesma publicação avança que a Comissão Europeia solicitou que todos os dados disponibilizados pelas operadoras sejam centralizado. Fontes citadas pelo Politico explicam que o objectivo é acelerar o processo e permitir que seja transversal a todos os Estados-membros. Mas será suficiente? Alguns epidemiologistas defendem que a Europa devia adoptar um plano semelhante ao da Coreia do Sul e da China, que obrigaram os cidadãos infectados a descarregar uma aplicação móvel que indica exactamente onde estão e com quem se encontram. Neste caso, contudo, não seria anónimo.

Mas nem todos concordam com esta abordagem. Por um lado, a União Europeia acredita que a crise que atravessamos pode precisamente servir para mostrar como os dados podem ser usados para o bem comum. Por outro lado, as vozes mais críticas receiam que se torne a regra em vez de a excepção e que a prática se prolongue para lá da pandemia. Existem também preocupações relativamente à efectiva anonimidade das informações.

Sune Lehmann Jørgensen, por exemplo, diz que seria mais eficaz que todas as pessoas tivessem a aplicação móvel de monitorização. No entanto, o professor da Technical University da Dinamarca também acredita que não se deve instituir uma política de vigilância global.

«Os ataques do 11 de Setembro mostraram-nos que, em tempos de crise, podemos pôr em risco os direitos das pessoas», sublinha o especialista ao Politico.

A mesma publicação adianta que Espanha, Noruega, Roménia, Eslováquia e Polónia já desenvolveram as suas próprias versões desta aplicação móvel.

Além de uma possível app ou da recolha de dados das empresas de telecomunicações, há ainda outras estratégias em cima da mesa. A Bruxelas, por exemplo, já chegaram drones para garantir que a população mantém a distância social. Já na Alemanha, ouvem-se nas ruas de algumas cidades ordens para que as pessoas fiquem em casa.

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