Eurobest: Wengorovius entre a cozinha e a agência
À primeira vista pode parecer que não tem nada a ver. Mas se dúvidas houvesse, João Wengorovius deixou claro ontem, durante a sua exposição no Eurobest, que a gestão de uma cozinha não é muito diferente da gestão de uma agência.
Segundo o ex-presidente e CEO da BBDO Portugal, todos achamos que somos especialistas em cozinha porque comemos pelo menos quatro vezes por dia. «O mesmo se passa com a publicidade. Toda a gente vê e ouve anúncios!», refere. Mas a verdade é que para se ser um especialista no métier, seja ele a confecção de alimentos ou a construção de peças publicitárias, há muitas variáveis a considerar.
E todos os detalhes contam. João Wengorovius dá o exemplo do empratamento. «Sabiam que servirem o que confeccionaram num prato branco ou num prato preto vai influenciar a forma como sabe aos comensais?», questionou. Uma sobremesa servido no prato branco sabe sempre a mais doce do que a mesma sobremesa servida num prato preto. O mesmo se passa com as palavras escolhidas para descrever os pratos, sejam elas “crispy” ou “melting”, certo é que influencia a forma como os alimentos nos sabem. Tal como as palavras escolhidas para os textos dos anúncios…
E se numa cozinha há que ter em atenção a curta validade dos alimentos frescos, o mesmo se passa numa agência, mas desta feita com o conhecimento. E tal como nos alimentos, também no caso do conhecimento há que saber fazer as combinações correctas. Uma coisa é certa, se o input for mau, o resultado não pode ser bom. Pensamento traduzido na frase usada por João Wengorovius como «shit in, shit out».
Os detalhes não podem mesmo ser descurados. «Os mesmos ingredientes, o mesmo método de preparação, mas a temperaturas diferentes dão sabores diferentes e texturas diferentes», garante o – agora – cozinheiro. E defende que na cozinha, como na agência, devem ser as tecnologias a adaptar-se às ideias e não as ideias a moldar-se à tecnologia.
Mas há mais. «Tem de se ter uma identidade, uma história para não se ser apenas mais um restaurante ou uma agência entre tantos outros», defendeu. A juntar a esta receita, não esquecer a consistência, que se traduz em paixão e standards. «Não nos dão uma estrela por ser bom um dia.»
Mas na cozinha, como na agência, não basta ser-se bom. Tem que se estar rodeado das pessoas certas. Isso passa pela maneira como se contrata. «Se queremos ser grandes temos de ter grandes mentores», informa. Depois há que ter os fornecedores certos. É que os ingredientes fazem toda a diferença. «E ajuda saber-se o primeiro nome de cada um desses fornecedores», garante.
Ingredientes reunidos, importa não esquecer que tem de se acompanhar todo o processo. «Um chefe está sempre a provar e não apenas quando o prato está pronto. Isso equivaleria ao director criativo ver a proposta pela primeira vez cinco minutos antes de ser apresentada ao cliente», garante.
Texto de Maria João Lima