Estamos silly?

M.ª João Vieira Pinto

Directora de Redacção Marketeer

Tudo indica que sim, que entrámos na silly season. A expressão é inglesa e pretende designar o período do ano de menor intensidade informativa nos media. Leia-se, o Verão. E porquê silly? Porque a informação é mais “leve”, porque se faz capa em revistas e notícias em jornais cuja relevância é por vezes questionável; porque se acompanha a ida à praia e piscina, a viagem ou o churrasco de vips e pseudo-vips. Porque há mais cor mas menos conteúdo. Ou diferente!

Há uns anos, Portugal acordou para a realidade de uma profissão que em outros países já era mais do que prática mas que, por cá, se mantinha imberbe: os paparazzi. Houve discussão e controvérsia, casos de tribunal e acordos. Depois, foi como a Coca-Cola. Não entranhámos, mas habituámo-nos. Até porque o voyeur que há em cada um de nós raramente resiste a deitar o olho (mesmo que faça de conta que não) a fotografias que sugerem romances ou encontros por revelar, ou destacam festas e roupas de invejar, jantares em restaurantes da moda e fins-de-semana em hotéis que não são para todos.

Pois, mas o tempo mudou. Não só aos media em papel se vieram juntar os digitais, como uma mão-cheia de redes – sociais, lá está – ganharam espaço e “agarraram” quem publica e quem vai ver.

Agora, estar de fora é não mostrar. Não partilhar gravidez e parto, férias no campo, na praia ou em destinos tropicais – sim, geralmente o que tem mais likes são as fotos com palmeiras e mares azul-turquesa -, não dizer com quem se está e onde se está. E, claro, esticar a silly. Que passou a começar mais cedo e a acabar mais tarde. Ou, diria, não ter datas para acontecer.

E como nem tudo o que se partilha no digital fica só no digital, há “notícias” nesta silly season que não são mais que derivações de posts e partilhas; há foto-legendas, nesta silly season, que são verdadeiros reposts de publicações de influenciadores, actores, apresentadores ou jogadores; há anúncios de pedidos de casamento e de divórcio, de casais apaixonados e traídos, revelações íntimas que deixaram de o ser…

Aparentemente há, nesta season, uma tendência maior ainda para o silly, ou não estivessem os media – ditos sérios – a amplificar muito do que por lá se passa! Não será silly este caminho da imprensa?

Editorial publicado na revista Marketeer n.º 276 de Julho de 2019.

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