Equipa: o maior desafio da pandemia para as empresas criativas
Por Tomás Mendes dos Santos, Account Executive & Partner na Duzentos
Nos últimos anos, principalmente nas empresas com uma visão mais moderna do mercado, o bem-estar pessoal e a vida para além do trabalho foram ganhando algum terreno devido a um cocktail entre essa consciência empresarial e a pressão do mercado.
Se esta preocupação crescente com o bem-estar dos colaboradores é uma consciência “nova” e a ganhar adeptos dos dois lados da barricada, estamos também a assistir a um outro movimento, também ele novo, embora com mais algum tempo, em que as empresas se preocupam cada vez mais em ter espaços de lazer, espaços que potenciem a criatividade e/ou espaços que potenciem os momentos em equipa “extra” trabalho.
A verdade é que a relação entre a vida pessoal e o trabalho veio efectivamente para cima da mesa com a entrada dos Millennials no mercado de trabalho a um ponto em que as empresas, a pouco e pouco, num processo ainda muito lento, tiveram de começar a aceitar como uma nova realidade. Felizes aquelas que perceberam que esse caminho era positivo, aliás bastante positivo, e não negativo e contraproducente como muitos ainda o defendem. Existia, em pré-Covid, um conjunto de medidas bastante interessantes que, a pouco e pouco, as empresas começaram a adoptar com o objectivo de fomentar a coesão entre os mundos pessoal e profissional dos seus colaboradores, que se tornaram êxitos de produtividade e criatividade. A Felicidade no trabalho e o bem-estar das equipas nunca teve, até então, mais importância.
Entretanto, chegou-nos 2020 e o confinamento, que nos levou para casa por semanas, depois por meses e depois por tempo indeterminado. Fora aquilo que todos já ouvimos, e inclusive já sentimos, os colaboradores descobriram que trabalhar de casa é possível, é cómodo e facilita a vida em várias frentes. As empresas, principalmente as mais rigorosas e com pânico dos colaboradores não cumprirem um horário, ou como lhes chamo, as empresas de corpo presente, tiveram, para grande mal imediato das suas gestões, de deixar de ver os escritórios cheios de pessoas a mostrar trabalho e a fazer horas extra como obrigação “institucionalizada”. Para bem destas empresas, dos empresários e das chefias, acabaram por perceber que resulta, e em muitos casos até convém porque, digamos, o trabalho está feito com menos metros quadrados, menos secretárias, menos luz, menos água e menos bananas e bolachinhas que começava a parecer mal não ter em qualquer escritório.
Pós «-Covid enfrentaremos uma nova realidade em que o mundo empresarial se vai focar na redução de despesas em espaços que “pelos vistos” não são assim tão importantes. Mas no meio disto há uma coisa que me tem accionado alguns alarmes na mente. OK, percebo e sempre fui adepto e fiz questão de trazer para a cultura da Duzentos a liberdade. Não me faz sentido contar horas ou presenças, nem nada que se pareça com isso. Cada um tem e sabe as suas responsabilidades e é isso que defendo que se deve exigir.
Mas e, no meio disto, onde ficam as equipas?
Surge-me, então, uma grande questão, principalmente quando oiço comentários do género “se pudesse trabalhava em casa para sempre” e que até vêm de pessoas que não estão em frente a um ficheiro Excel o dia todo, mas sim na indústria criativa. Como assim? Já para não falar das questões psicológicas e sociais e na pergunta “como é que escolheste comunicação?”, como é que neste mercado se trabalha em casa para sempre? Como é que um Zoom serve para um brainstorming ou como é que ligar ao colega do lado supera o “vem aqui ver se isto está giro?”
E aquele café da manhã para desabafar com o colega do lado? Ou o almoço da tupperware na sala de reuniões em que aquela hora se torna curta para as brincadeiras? Já para não falar das imperiais à sexta, às 6 da tarde, no café da esquina que às vezes se prolonga num jantar e até numa saída com um ou dois vídeos de copos que são tema na segunda seguinte?
Costumo dizer que na nossa indústria estamos sempre a trabalhar. Ver notícias é trabalhar, ir às redes sociais é trabalhar, andar na rua é trabalhar, ir a eventos é trabalhar e estar com pessoas, ter vida, mundo, ver coisas, trocar ideias, são dos pontos mais importantes do nosso trabalho. Estar com os colegas também, beber uns copos a mais com a equipa também é trabalhar e sempre defendi que qualquer empresa que promova essas dinâmicas só ganha com isso. São esses momentos que fortalecem as equipas e, que eu saiba, brainstormings de uma só pessoa não existem e também não é a toa que este não foi um ano com grandes campanhas e ideias.
Pós-covid, fica por perceber o lugar da equipa e compete a todos nós, que trabalhamos na área, perceber a importância das mesmas. Todos têm sede de ter liberdade horária, trabalhar a partir de casa e defendo que é um direito que deve tocar a todos, na medida do possível, claro. No entanto, deixo-vos o desafio de pensar como se constroem equipas, empresas, departamentos e propostas criativas sem ser aquelas do ctrl + c, ctrl + v. E, portanto, há claramente um equilíbrio a encontrar pois uma equipa não é uma equipa se não trabalhar junta algumas vezes por semana, se não beber um copo junta de vez em quando e se não trocar umas ideias mais acesas de vez em quando para o resto da empresa assistir. E, sejamos francos, ninguém gosta de estar numa meeting…